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Informações da Prova Questões por Disciplina Ministério das Relações Exteriores - MRE - Oficial de Chancelaria - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2009 - Prova Objetiva

Interpretação de Textos

Correspondência

O texto, para a(s) questão(ões), foi extraído de correspondência do renomado escritor norte-americano Norman Mailer endereçada ao crítico literário Peter Balbert. de fevereiro de 1998

Caro Peter, 

1 Entre as coisas que temos em comum está a depressão cultural. Reflito sobre a minha vida,

2 especialmente depois de ter completado cinquenta anos de literatura, e 

3 sinto que todas as coisas pelas quais trabalhei e lutei estão 

4 em decadência. O que antes eu via como o inimigo e, com 

5 grande otimismo, como o inimigo que haveria de ser 

6 derrotado, acabou na verdade por nos vencer. [...] 

7 A questão diante de nós dois é: onde está a culpa? 

8 Estava em nós? Por nunca termos feito o suficiente, por 

9 mais que achássemos que sim? Ou estará na abstração

10 que chamamos de “natureza humana”? Teremos ajustado 

11 as nossas crenças a um conceito de homens e mulheres 

12 que não se adequava aos fatos rasteiros? 

13 Às vezes me pergunto se isso não será puro elitismo 

14 de minha parte, e se a verdadeira premissa da democracia, a de que os sem-banho tenham 15 acesso a sabonete 

16 barato, desodorante e roupas de plástico, como um dos 

17 degraus da escalada a um nível mais alto, não seria o que 

18 está acontecendo. Ou se, como temo, estaremos caindo 

19 numa sociedade do homem e da mulher medíocres 

20 onipresentes, governados por altas mediocridades. [...]

21 Tudo de bom, 

22 Norman Mailer. 

(Adaptado de Cartas Políticas, O mundo nas cordas, revista 

Piauí, 27, p.32) 

 

1 -

A alternativa que acolhe comentário condizente com as características da carta é:

a)

Registra inconveniente intimidade nas saudações inicial e final, as quais, uma vez substituídas por "Prezado" e "Sem mais", respectivamente, restituiriam ao texto a formalidade que seu tema requer.

b)

Focaliza a atuação profissional dos interlocutores, especialmente no que diz respeito aos modos como conceberam e trataram homens e mulheres ao produzirem textos literários.

c)

Por explorar temática sociocultural, ultrapassa os limites da subjetividade e transforma as queixas do remetente em afirmações categóricas acerca da necessidade de engajamento político da elite.

d)

Preservando tom subjetivo, expõe reflexões acerca do impacto de atitudes individuais sobre cenários mais amplos, revelando dupla apreensão: com específico sentimento de culpa e com o futuro da sociedade.

e)

Em discretos matizes, como a indicação do destinatário pelo prenome e do remetente por nome e sobrenome, insinua a existência de relação hierárquica entre o escritor e o crítico.

2 -

O excerto demonstra que o autor:

a)

considera-se culpado das mazelas sociais, seja por não ter agido nos momentos graves, seja por operar com crenças contraditórias e demasiadamente abstratas.

b)

compartilha com o interlocutor a sensação de estar declinando culturalmente, apesar dos diversos anos dedicados a atividade intelectual nobre.

c)

acredita ter contribuído, em outras épocas, para o real aprimoramento de homens e mulheres, posteriormente submetidos à universal mediocridade.

d)

hesita em relação à possibilidade de preceitos democráticos estarem sendo postos em prática na época em que escreve a carta.

e)

concorda com a premissa de que os desfavorecidos devam receber o necessário para a manutenção da dignidade: sabonete barato, desodorante e roupas de plástico.

3 -

Tendo em vista o contexto, a alternativa correta acerca de recurso linguístico explorado na carta é:

a)

Na linha 19, Ou se, por introduzir conteúdo adicional à sequência de questionamentos que inicia o parágrafo, pode ser substituído por "E, ainda, se", preservando o sentido original.

b)

Os fragmentos por nos vencer (linha 7) e por altas mediocridades (linha 21) exercem idêntica função sintática.

c)

Na linha 10, por remeter a termos antecedentes, sim pode dar lugar a "era o suficiente".

d)

A ordem dos termos na coordenação do homem e da mulher (linha 20) expõe restrições do autor quanto à igualdade entre os gêneros.

e)

Em O que antes eu via (linha 5) como o inimigo, os itens destacados indicam que o autor havia se equivocado em sua percepção anterior, isto é, que não se tratava de um inimigo.

Coesão e Coerência
4 -

A alternativa correta sobre expressões do texto é:

a)

O segmento com grande otimismo (linhas 5 e 6), de caráter apositivo, qualifica o termo o inimigo.

b)

Nas linhas 8 e 9, o contraste entre nós dois e nós explicita que, apenas na primeira ocorrência, o autor refere-se a si e ao seu interlocutor.

c)

As formas alto (linha 18) e altas (linha 21) têm exatamente o mesmo significado, embora ocupem posições diferentes em relação aos substantivos e correspondam a diferentes flexões do adjetivo.

d)

Reflito (linha 2) e sinto (linha 4) podem ser permutados, respectivamente, por "conscientizo-me" e "lamento", sem prejuízo do sentido original.

e)

Quanto ao significado, crenças (linha 12) inclui abstração (linha 10) e opõe-se a fatos rasteiros (linha 13).

Emprego dos tempos e modos verbais
5 -

A alternativa correta acerca do uso de tempos verbais na carta é:

a)

A substituição da forma Teremos (linha 11) por "Teríamos" atenuaria o valor hipotético da frase.

b)

No segundo parágrafo, a incerteza acerca do tempo, expressa pela alternância entre está, estava e estará, reforça o sentido de dúvida presente no trecho.

c)

A correlação entre as orações Reflito sobre a minha vida (linha 2) e depois de ter completado cinquenta anos de literatura (linha 3) expressa que a vida anterior ao aniversário mencionado não é objeto de meditação.

d)

O emprego da forma será (linha 14) torna o enunciado mais assertivo do que o seria se a forma escolhida fosse "é".

e)

O segmento acabou... por nos vencer (linha 7) indica finalização recente da ação nele descrita.

Interpretação de Textos

Compreender

1 Humes observou certa vez que a civilização 

2 humana como um todo subsiste porque “uma geração 

3 não abandona de vez o palco e outra triunfa, como 

4 acontece com as larvas e as borboletas”. Em algumas 

5 guinadas da história, porém, em alguns picos críticos, 

6 pode caber a uma geração um destino parecido com o 

7 das larvas e borboletas. Pois o declínio do velho e o 

8 nascimento do novo não são necessariamente 

9 ininterruptos; entre as gerações, entre os que, por uma 

10 razão ou outra, ainda pertencem ao velho e os que 

11 pressentem a catástrofe nos próprios ossos ou já 

12 cresceram com ela [...] está rompida a continuidade e 

13 surge um “espaço vazio”, espécie de terra de ninguém 

14 histórica, que só pode ser descrita em termos de “não 

15 mais e ainda não”. Na Europa, essa absoluta quebra de 

16 continuidade ocorreu durante e após a Primeira Guerra 

17 Mundial. É essa ruptura que dá um fundo de verdade a 

18 todo o falatório dos intelectuais, geralmente na boca dos 

19 “reacionários”, sobre o declínio necessário da civilização 

20 ocidental ou a famosa geração perdida, tornando-se, 

21 portanto, muito mais atraente do que a banalidade do 

22 pensamento “liberal”, que nos apresenta a alternativa de 

23 avançar ou recuar, a qual parece tão desprovida de 

24 sentido justamente porque ainda pressupõe uma linha 

25 de continuidade sem interrupções. 

(ARENDT, Hannah. “Não mais e ainda não”. In  Compreender: formação, exílio e totalitarismo. Ensaios (1930-

1954). São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: 

Ed. UFMG, 2008, p. 187)

6 -

Na organização do texto, a autora:

a)

toma como tema certo pensamento de Humes, que detalha para convencer o leitor sobre esta compreensão que ela tem do que seja a civilização: "A natureza não dá saltos".

b)

vale-se de Humes como argumento de autoridade, considerando irretorquível o pensamento citado.

c)

tira proveito da constatação de Humes, de caráter universal, para ratificá-la no plano mais particular que ela aborda no seu discurso.

d)

cita Humes porque a comparação que ele faz entre os homens e os animais se aplica, ipsis litteris, à concepção que ela tem acerca do que ocorre com gerações em momentos críticos.

e)

refere comentário do filósofo Humes e o desconstrói, pois o desfaz para reconstruí-lo em outras bases.

7 -

Pois o declínio do velho e o nascimento do novo não são necessariamente ininterruptos; entre as gerações, entre os que, por uma razão ou outra, ainda pertencem ao velho e os que pressentem a catástrofe nos próprios ossos ou já cresceram com ela está rompida a continuidade [...]

Considerado o fragmento acima, em seu contexto, é correto afirmar:

a)

entre os que estabelece relação de estrita colateralidade entre os segmentos os que pressentem a catástrofe nos próprios ossos e [os que] já cresceram com ela.

b)

a expressão não são necessariamente ininterruptos equivale a "é prescindível que ocorram de modo contínuo".

c)

justificam-se as duas contíguas ocorrências da preposição entre porque introduzem termos que remetem a dois aspectos, semântica e sintaticamente distintos.

d)

a conjunção ou estabelece uma relação de simultaneidade entre os dois termos que conecta.

e)

a expressão os que, em suas duas ocorrências, remete aos mesmos seres.

Compreensão e Interpretação de Textos
8 -

O segmento que, no contexto, exprime uma consequência é:

a)

(linhas 12 e 13) e surge um "espaço vazio".

b)

(linhas 24 e 25) ainda pressupõe uma linha de continuidade sem interrupções.

c)

(linhas 23 e 24) a qual parece tão desprovida de sentido.

d)

(linhas 15 e 16) essa absoluta quebra de continuidade ocorreu.

e)

(linhas 14 e 15) só pode ser descrita em termos de "não mais e ainda não".

Interpretação de Textos
9 -

Quando a autora refere-se ao "espaço vazio":

a)

toma-o como ponto fraco do ideário "liberal", que, equivocadamente, entende essa espécie de terra de ninguém histórica como o momento crucial para a decisão de avançar ou recuar.

b)

busca exprimir a ideia de que, mesmo diante de acontecimentos nefastos, há espaço para o acolhimento do novo, para inovadora ordem social, proposta por geração recém-surgida.

c)

caracteriza-o com expressões que deixam entrever a dificuldade que sente para conceituá-lo, dada sua natureza indefinida ou ambígua, área sobre a qual as gerações em confronto não têm controle.

d)

caracteriza-o lançando mão da história, meio de exprimir sua visão de que a ação humana, suspensa nesse oco, provocou os acontecimentos da Primeira Guerra Mundial.

e)

entende-o como ponto que legitima de modo pleno a verve dos grupos ditos "reacionários" quando defendem a necessidade do declínio da civilização ocidental.

O Fio e os Rastros

 

1 O ataque cético à cientificidade das narrações históricas insistiu em seu caráter subjetivo, que

2 as assimilaria às narrações ficcionais. As narrações históricas 

3 não falariam da realidade, mas sim de quem as construiu. Inútil objetar que um elemento

4 construtivo está 

5 presente em certa medida até nas chamadas ciências 

6 “duras”: mesmo estas foram objeto de uma crítica aná-

7 loga  [...]. Falemos, então, de historiografia. Que ela 

8 [tem] um componente subjetivo [...]  é sabido; mas as 

9 conclusões radicais que os céticos tiraram desse dado 

10 concreto não levaram em conta uma mudança fundamental mencionada por Bloch nas suas

11 reflexões metodológicas póstumas. “Hoje [1942-3]..., até mesmo nos 

12 testemunhos mais resolutamente voluntários”, escrevia 

13 Bloch, “aquilo que o texto nos diz já não constitui o 

14 objeto preferido de nossa atenção.” As  Mémoires  de 

15 Saint-Simon ou as vidas dos santos da alta Idade Média 

16 nos interessam (continuava Bloch) não tanto por suas 

17 referências aos dados concretos, volta e meia inventados, mas pela luz que lançam sobre a

18 mentalidade de 

19 quem escreveu esses textos. “Na nossa inevitável 

20 subordinação ao passado, nós nos emancipamos, ao 

21 menos no sentido de que, embora permanecendo condenados a conhecê-lo exclusivamente

22 com base em 

23 seus rastros, conseguimos, todavia, saber bem mais a 

24 seu respeito do que ele resolvera nos dar a conhecer”. 

25 E concluía: “Olhando bem, trata-se de uma grande revanche da inteligência sobre o mero

26 dado concreto”. 

(GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, 

fictício (Introdução). São Paulo: Companhia das Letras, 

2007, p. 9)

 

10 -

É correta paráfrase do primeiro período do texto "O ataque cético à cientificidade das narrações históricas insistiu em seu caráter subjetivo, que as assimilaria às narrações ficcionais." o que se lê em:

a)

A credulidade abalada gerou ataques ao cientificismo característico da história, e, quando se insistiu em que deveria assumir o viés subjetivo, suas semelhanças com as narrativas ficcionais avultaram.

b)

O ceticismo que nutre a ciência dá às narrativas, inclusive às de cunho histórico, um matiz subjetivo, o que foi apontado pelos críticos como um fator inerente a qualquer tipo de relato.

c)

O que caracteriza o relato de fatos históricos é sua natureza científica; se esse traço fosse minimizado e abrisse espaço para a subjetividade "dizem certos críticos", esse tipo de relato estaria próximo das narrativas ficcionais.

d)

A acusação dos que não acreditavam no caráter científico das narrações históricas enfatizava o seu caráter subjetivo, traço que as tornaria semelhantes às narrações ficcionais.

e)

O que sempre se enfatizou como determinante de um texto é o seu cunho particular, fator de subjetividade que sempre irmanou os relatos, os científicos (como os históricos) e os ficcionais (inventados pelo autor), como reconhecem até os mais severos ataques.

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