A palavra Ética é empregada nos meios acadêmicos em três acepções. Numa, faz-se referência a teorias que têm como objeto de estudo o comportamento moral, ou seja, como entende Adolfo Sanchez Vasquez, “a teoria que pretende explicar a natureza, fundamentos e condições da moral, relacionando-a com necessidades sociais humanas.” Teríamos, assim, nessa acepção, o entendimento de que o fenômeno moral pode ser estudado racional e cientificamente por uma disciplina que se propõe a descrever as normas morais ou mesmo, com o auxílio de outras ciências, ser capaz de explicar valorações comportamentais. Um segundo emprego dessa palavra é considerá-la uma categoria filosófica e mesmo parte da Filosofia, da qual se constituiria em núcleo especulativo e reflexivo sobre a complexa fenomenologia da moral na convivência humana. A Ética, como parte da Filosofia, teria por objeto refletir sobre os fundamentos da moral na busca de explicação dos fatos morais. Numa terceira acepção, a Ética já não é entendida como objeto descritível de uma Ciência, tampouco como fenômeno especulativo. Trata-se agora da conduta esperada pela aplicação de regras morais no comportamento social, o que se pode resumir como qualificação do comportamento do homem como ser em situação. É esse caráter normativo de Ética que a colocará em íntima conexão com o Direito. Nesta visão, os valores morais dariam o balizamento do agir e a Ética seria assim a moral em realização, pelo reconhecimento do outro como ser de direito, especialmente de dignidade. Como se vê, a compreensão do fenômeno Ética não mais surgiria metodologicamente dos resultados de uma descrição ou reflexão, mas sim, objetivamente, de um agir, de um comportamento consequencial, capaz de tornar possível e correta a convivência.
(Adaptado do site Doutrina Jus Navigandi)
As diferentes acepções de Ética devem-se, conforme se depreende da leitura do texto:
a)
aos usos informais que o senso comum faz desse termo. |
b)
às considerações sobre a etimologia dessa palavra. |
c)
aos métodos com que as ciências sociais a analisam. |
d)
às íntimas conexões que ela mantém com o Direito. |
e)
às perspectivas em que é considerada pelos acadêmicos. |
A concepção de ética atribuída a Adolfo Sanchez Vasquez é retomada na seguinte expressão do texto:
a)
núcleo especulativo e reflexivo. |
b)
objeto descritível de uma Ciência. |
c)
explicação dos fatos morais. |
d)
parte da Filosofia. |
e)
comportamento consequencial. |
No texto, a terceira acepção da palavra ética deve ser entendida como aquela em que se considera, sobretudo:
a)
o valor desejável da ação humana. |
b)
o fundamento filosófico da moral. |
c)
o rigor do método de análise. |
d)
a lucidez de quem investiga o fato moral. |
e)
o rigoroso legado da jurisprudência. |
Dá-se uma íntima conexão entre a Ética e o Direito quando ambos revelam, em relação aos valores morais da conduta, uma preocupação:
a)
filosófica. |
b)
descritiva. |
c)
prescritiva. |
d)
contestatária. |
e)
tradicionalista. |
Considerando-se o contexto do último parágrafo, o elemento sublinhado pode ser corretamente substituído pelo que está entre parênteses, sem prejuízo para o sentido, no seguinte caso:
a)
(...) a colocará em íntima conexão com o Direito. (inclusão) |
b)
(...) os valores morais dariam o balizamento do agir (...) (arremate) |
c)
(...) qualificação do comportamento do homem como ser em situação. (provisório) |
d)
(...) nem tampouco como fenômeno especulativo. (nem, ainda) |
e)
(...) de um agir, de um comportamento consequencial... (concessivo) |
As normas de concordância estão plenamente observadas na frase:
a)
Costumam-se especular, nos meios acadêmicos, em torno de três acepções de Ética. |
b)
As referências que se faz à natureza da ética consideram-na, com muita freqüência, associada aos valores morais. |
c)
Não coubessem aos juristas aproximar-se da ética, as leis deixariam de ter a dignidade humana como balizamento. |
d)
Não derivam das teorias, mas das práticas humanas, o efetivo valor de que se impregna a conduta dos indivíduos. |
e)
Convém aos filósofos e juristas, quaisquer que sejam as circunstâncias, atentar para a observância dos valores éticos. |
Está clara, correta e coerente a redação do seguinte comentário sobre o texto:
a)
Dentre as três acepções de Ética que se menciona no texto, uma apenas diz respeito à uma área em que conflui com o Direito. |
b)
O balizamento da conduta humana é uma atividade em que, cada um em seu campo, se empenham o jurista e o filósofo. |
c)
Costuma ocorrer muitas vezes não ser fácil distinguir Ética ou Moral, haja vista que tanto uma quanto outra pretendem ajuizar à situação do homem. |
d)
Ainda que se torne por consenso um valor do comportamento humano, a Ética varia conforme a perspectiva de atribuição do mesmo. |
e)
Os saberes humanos aplicados, do conhecimento da Ética, costumam apresentar divergências de enfoques, em que pese a metodologia usada. |
Transpondo-se para a voz passiva a frase Nesta visão, os valores morais dariam o balizamento do agir, a forma verbal resultante deverá ser:
a)
seria dado. |
b)
teriam dado. |
c)
seriam dados. |
d)
teriam sido dados. |
e)
fora dado. |
Depois de um bom século de psicologia e psiquiatria dinâmicas, estamos certos disto: o moralizador e o homem moral são figuras diferentes, se não opostas. O homem moral se impõe padrões de conduta e tenta respeitá-los; o moralizador quer impor ferozmente aos outros os padrões que ele não consegue respeitar. A distinção entre ambos tem alguns corolários relevantes. Primeiro, o moralizador é um homem moral falido: se soubesse respeitar o padrão moral que ele impõe, ele não precisaria punir suas imperfeições nos outros. Segundo, é possível e compreensível que um homem moral tenha um espírito missionário: ele pode agir para levar os outros a adotar um padrão parecido com o seu. Mas a imposição forçada de um padrão moral não é nunca o ato de um homem moral, é sempre o ato de um moralizador. Em geral, as sociedades em que as normas morais ganham força de lei (os Estados confessionais, por exemplo) não são regradas por uma moral comum, nem pelas aspirações de poucos e escolhidos homens exemplares, mas por moralizadores que tentam remir suas próprias falhas morais pela brutalidade do controle que eles exercem sobre os outros. A pior barbárie do mundo é isto: um mundo em que todos pagam pelos pecados de hipócritas que não se agüentam.
(Contardo Calligaris, Folha de S. Paulo, 20/03/2008)
Atente para as afirmações.
I. Diferentemente do homem moral, o homem moralizador não se preocupa com os padrões morais de conduta.
II. Pelo fato de impor a si mesmo um rígido padrão de conduta, o homem moral acaba por impô-lo à conduta alheia.
III. O moralizador, hipocritamente, age como se de fato respeitasse os padrões de conduta que ele cobra dos outros.
Em relação ao texto, é correto o que se afirma APENAS em:
a)
I. |
b)
II. |
c)
III. |
d)
I e II. |
e)
II e III. |
No contexto do primeiro parágrafo, a afirmação de que já decorreu um bom século de psicologia e psiquiatria dinâmicas indica um fator determinante para que:
a)
concluamos que o homem moderno já não dispõe de rigorosos padrões morais para avaliar sua conduta. |
b)
consideremos cada vez mais difícil a discriminação entre o homem moral e o homem moralizador. |
c)
reconheçamos como bastante remota a possibilidade de se caracterizar um homem moralizador. |
d)
identifiquemos divergências profundas entre o comportamento de um homem moral e o de um moralizador. |
e)
divisemos as contradições internas que costumam ocorrer nas atitudes tomadas pelo homem moral. |
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