Outro dia escrevi sobre a importância do não saber, de como o conhecimento avança quando parte do não saber, isto é, do senso de mistério que existe além do que se sabe.
A questão aqui é de atitude, de como fazer frente ao desconhecido. Existem duas alternativas: ou se acredita na capacidade da razão e da intuição humana (devidamente combinadas) em sobrepujar obstáculos e chegar a um conhecimento novo, ou se acredita que existem mistérios inescrutáveis, criados por forças além das relações de causa e efeito.
No meu livro Criação imperfeita, argumentei que a ciência jamais será capaz de responder a todas as perguntas. Sempre existirão novos desafios, questões que a nossa pesquisa e inventividade não são capazes de antecipar. Podemos imaginar o conhecido como sendo a região dentro de um círculo e o desconhecido como sendo o que existe fora do círculo. Não há dúvida de que à medida que a ciência avança o círculo cresce. Entendemos mais sobre o universo e entendemos mais sobre a mente. Mas, mesmo assim, o lado de fora do círculo continuará sempre lá. A ciência não é capaz de obter conhecimento sobre tudo o que existe no mundo. E por que isso? Porque, na prática, aprendemos sobre o mundo usando nossa intuição e instrumentos. Sem telescópios, microscópios e detectores de partículas, nossa visão de mundo seria mais limitada. Porém, tal como nossos olhos, essas máquinas têm limites.
Parafrasendo o poeta romano Lucrécio, as pessoas vivem aterrorizadas pelo que não podem explicar. Ser livre é poder refletir sobre as causas dos fenômenos sem aceitar cegamente “explicações inexplicáveis”, ou seja, explicações baseadas em causas além do natural.
Não é fácil ser coerente quando algo de estranho ocorre, uma incrível coincidência, a morte de um ente querido, uma premonição, algo que foge ao comum. Mas, como dizia o grande físico Richard Feynman, “prefiro não saber a ser enganado.” E você?
(Adaptado de Marcelo Gleiser, Folha de S. Paulo, 11/07/2010)
O texto, em seu todo, deve ser entendido como:
a)
uma manifestação pessimista do autor quanto à eficácia das descobertas científicas. |
b)
uma reflexão sobre o alcance da ciência, numa perspectiva em que este é relativizado. |
c)
um questionamento da atitude dos cientistas que duvidam do poder absoluto da pesquisa. |
d)
uma crítica à obsolescência das máquinas, que não acompanham o ritmo das nossas percepções. |
e)
um duro questionamento do crescente prestígio das coisas inexplicáveis, cada vez mais numerosas. |
No segundo parágrafo do texto, o autor deixa claro que considera:
a)
o desconhecido não mais do que uma região do conhecimento que certamente se esclarecerá no futuro. |
b)
a existência de mistérios inescrutáveis uma prova de que nossa capacidade de intuir é ainda bastante limitada. |
c)
a razão e a intuição operações complementares entre si, numa associação capaz de produzir novos conhecimentos. |
d)
os obstáculos sobrenaturais inteiramente ilusórios, uma vez que nossa intuição nos diz que a razão os removerá. |
e)
a intuição e a razão degraus imediatamente sucessivos na escalada de um novo conhecimento. |
Atente para as seguintes afirmações:
I. No 3.º parágrafo, entende-se que o livro Criação imperfeita expressa a posição do autor segundo a qual sempre haverá limites para nossa observação e visão de mundo.
II. No 4.º parágrafo, afirma-se que as coisas inexplicáveis, que costumam aterrorizar as pessoas, devem ser objeto de uma investigação racional.
III. No último parágrafo, a frase de Richard Feynman indica que, para esse físico, o desconhecido não deve ser motivo para acreditarmos no sobrenatural.
Em relação ao texto, está correto o que se afirma em:
a)
I, II e III. |
b)
I e II, apenas. |
c)
II e III, apenas. |
d)
I e III, apenas. |
e)
II, apenas. |
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento do texto em:
a)
existem mistérios inescrutáveis (2o parágrafo) = ocorrem fenômenos imperceptíveis. |
b)
relações de causa e efeito (2o parágrafo) = vinculações pela casualidade. |
c)
não são capazes de antecipar (3o parágrafo) = são ineptas para premeditar. |
d)
usando nossa intuição e instrumentos (3o parágrafo) = valendo-nos da nossa hesitação e nossos recursos. |
e)
Parafraseando o poeta (4o parágrafo) = expressando de outro modo o que bardo disse. |
As normas de concordância verbal estão plenamente observadas na frase:
a)
Quando se partem de regiões obscuras, nossas ideias não poderão ser produtivas. |
b)
Duas alternativas sempre haverão, restando-nos sempre a dificuldade de optar entre elas. |
c)
Esquivar-se das perguntas que todas as pessoas vivem fazendo implicam um reforço do sobrenatural. |
d)
Ao fenômeno cuja natureza os cientistas ignoram costuma o leigo recorrer como prova do sobrenatural. |
e)
Não ficaram claro, para os leitores do texto, quais exatamente foram os versos parafraseados do poeta Lucrécio. |
Está correta e coerente a redação deste livre comentário sobre o texto:
a)
Via de hábito o autor propaga, em coluna jornalística, suas ideias acerca das discensões interpostas entre ciência e misticismo. |
b)
O autor cita um livro próprio no qual expande uma teoria que aparentemente vai ao encontro de suas teses, retificando-as. |
c)
A admissão de que sempre haverá o desconhecido representa, partindo de um cientista, uma prova de sincera humildade. |
d)
Os círculos do saber e do não saber constituem, como se viu, áreas em que a expansão de ambos os tornam complementares. |
e)
O grande físico Richard Feynman declinou de sua preferência pelo engano, quando preferiu relutar em não saber. |
... a ciência jamais será capaz de responder a todas as perguntas.
Utilizou-se corretamente a voz passiva, preservando-se o sentido original, nesta nova redação da frase acima:
a)
Jamais ocorrerá que todas as perguntas sejam respondidas pela ciência. |
b)
Nenhuma das perguntas jamais obterá resposta pela ciência. |
c)
A nem todas as perguntas será jamais a ciência capaz de dar respostas. |
d)
Todas as perguntas, em qualquer tempo, deixarão de obter resposta pela ciência. |
e)
A capacidade da ciência deixará de dar resposta a todas as perguntas. |
A ciência é indispensável: deve-se à ciência o conhecimento de um sem-número de fenômenos que coube a ciência explicar, razão pela qual deve-se conferir à ciência a importância do que nos humaniza.
Evitam-se as viciosas repetições da frase acima substituindo- se os elementos sublinhados, respectivamente, por:
a)
deve-se à ela - coube-lhe - conferir-lhe |
b)
deve-se-lhe - lhe coube - conferir-lhe |
c)
deve-se à mesma - a coube - conferi-la |
d)
deve-se-lhe - coube-lhe - conferi-la |
e)
deve-se a esta - lhes coube - lhe conferir |
Está plenamente adequado o emprego de ambos os elementos em destaque na frase:
a)
À medida em que a ciência avança, fenômenos de cuja causa desconhecíamos passam a ser explicados. |
b)
Por hora, a ciência tem ainda muito que caminhar, já que o homem não renunciou a inflingir sua curiosidade ao mundo. |
c)
Se sobrevir ao homem alguma calamidade em escala planetária, somente a ciência disporá os meios de enfrentá-la. |
d)
A arrogância de que muitos homens são acometidos não parece estar entre os defeitos que se poderiam assacar ao autor. |
e)
É por vezes mais preferível ignorar a razão de um fenômeno do que imaginá-lo esclarecido por um atalho místico. |
Está inteiramente adequada a pontuação da seguinte frase:
a)
É preciso mormente nos dias que correm, desconfiar, não exatamente das pessoas místicas, mas de um certo misticismo que aqui e ali, costuma vicejar como erva daninha, ameaçando a existência de todas as outras plantas. |
b)
É preciso, mormente nos dias que correm, desconfiar não exatamente das pessoas místicas mas, de um certo misticismo, que aqui e ali costuma vicejar, como erva daninha ameaçando a existência de todas as outras plantas. |
c)
É preciso, mormente nos dias que correm desconfiar não exatamente das pessoas místicas; mas de um certo misticismo que, aqui e ali, costuma vicejar, como erva daninha, ameaçando a existência de todas as outras plantas. |
d)
É preciso ? mormente nos dias que correm – desconfiar: não exatamente das pessoas místicas, mas de um certo misticismo, que aqui e ali, costuma vicejar como erva daninha ameaçando a existência, de todas as outras plantas. |
e)
É preciso, mormente nos dias que correm, desconfiar não exatamente das pessoas místicas, mas de um certo misticismo que, aqui e ali, costuma vicejar como erva daninha, ameaçando a existência de todas as outras plantas. |
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