Câmara Municipal - São José dos Campos - SP - Analista de Sistemas - FIP - Fundação Ibirapuera de Pesquisa - 2009 - Prova Objetiva
Leite derramado
Não sei por que você não me alivia a dor. Todo dia a senhora levanta a persiana com bruteza e joga sol no meu rosto. Não sei que graça pode achar nos meus esgares, é uma pontada cada vez que respiro. Às vezes aspiro fundo e encho os pulmões de um ar insuportável, para ter alguns segundos de conforto, expelindo a dor. Mas bem antes da doença e da velhice, talvez minha vida já fosse um pouco assim, uma dorzinha chata a me espetar o tempo todo e de repente uma lambada atroz. E qualquer coisa que eu recorde agora, vai doer, a memória é uma vasta ferida.
[...]
Eu próprio poderia arcar com viagem e tratamento no estrangeiro, se o seu marido não me tivesse arruinado. Poderia me estabelecer no estrangeiro, passar o resto dos meus dias em Paris. Se me desse na veneta, poderia morrer na mesma cama do Ritz onde dormi quando menino. Porque nas férias de verão o seu avô, meu pai, sempre me levava à Europa de vapor. Mais tarde, cada vez que eu via um deles ao largo, na rota da Argentina, chamava sua mãe e apontava: lá vai Arlanza!, o Cap Polonio!, o Lutétia!, enchia a boca para contar como era um transatlântico por dentro. Sua mãe nunca tinha visto um navio de perto, depois de casada ela mal saía de Copacabana. E quando lhe anunciei que iríamos em breve ao cais do porto, para receber o engenheiro francês, ela se fez de rogada. Porque você era recém-nascida, e ela não podia largar a criança e coisa e tal, mas logo tomou o bonde para cidade e cortou os cabelos à la garçonne.
[...]
E quando vi sua mãe naquele estado, falei, você não vai. Por quê, ela perguntou com voz fina, e não lhe dei satisfação, peguei meu chapéu e saí. Nem parei para pensar de onde vinha a minha raiva repentina, só senti que era alaranjada a raiva cega que tive da alegria dela. E vou deixar de falação porque a dor só faz piorar.
(Fonte: BUARQUE, Chico. Leite derramado. São
Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 10-12)
Assinale a única alternativa correta.
Após a análise do contexto e das coesões textuais presentes no texto, pode-se afirmar que:
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a)
a mulher que todo dia levanta a persiana é a esposa do narrador. |
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b)
quem levava o narrador à Europa era o avô de sua irmã. |
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c)
a mãe da recém-nascida nunca tinha visto um navio de perto. |
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d)
o narrador é neto do homem que o arruinou. |
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e)
o engenheiro recebido no cais do porto é avô da recém-nascida. |
Assinale a única alternativa correta.
Com relação ao narrador, pode-se afirmar que:
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a)
ele é doente, e a enfermeira sempre o agride, ao invés de aliviar suas dores. |
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b)
ele quer ser levado por seu avô para morrer em um hotel em Paris. |
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c)
ele relembra o ciúmes que tinha de sua esposa, pois ela tivera uma filha com um engenheiro. |
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d)
ele é um homem velho e doente, que depende de outros e rememora tristezas de sua vida. |
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e)
ele é um engenheiro arruinado, e a história é centrada nas lembranças de sua vida com seu pai. |
O texto apresenta características que possibilitariam sua classificação como:
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a)
uma fábula. |
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b)
um romance. |
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c)
um poema. |
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d)
uma canção. |
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e)
uma anedota. |
O texto apresenta premissas que possibilitam observarmos que ele está fundamentado no raciocínio lógico:
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a)
hiperativo. |
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b)
indutivo. |
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c)
emotivo. |
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d)
dedutivo. |
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e)
permissivo. |
Na frase: "[...] senti que era alaranjada a raiva cega que tive da alegria dela [...]", encontra-se uma oposição de sentimentos que poderia ser fundamentada nos seguintes antônimos:
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a)
alaranjado / amarelado. |
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b)
perturbação / tranquilidade. |
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c)
ódio / devoção. |
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d)
laranja / maçã. |
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e)
escuridão / ganância. |
Observe a sequência de frases abaixo e responda a seguir.
(1) Porque nas férias de verão o seu avô, meu pai, sempre me levava à Europa de vapor.
(2) Porque você era recém-nascida [...].
(3) Por quê, ela perguntou com voz fina, e não lhe dei satisfação [...].
Comparando-as, percebe-se que:
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a)
em (1) e (2), encontram-se afirmações; em (3), uma interrogação narrada de modo indireto. |
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b)
em (1), (2) e (3), encontram-se interrogações narradas de modo direto. |
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c)
em (1) e (2), encontram-se afirmações; em (3), uma imposição argumentada de modo direto. |
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d)
em (1), encontra-se uma afirmação; em (2), uma interrogação; em (3), uma imposição. |
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e)
em (1) e (2), encontram-se interrogações; em (3), uma afirmação narrada de modo indireto. |
Observe o enunciado abaixo e responda a seguir.
Daquela poltrona bem velha e sem braços, o menino caiu e machucou seus braços.
Percebe-se que a palavra BRAÇOS aparece em dois momentos e com dois significados diferentes. A propriedade que as palavras têm de possuir mais de um significado dentro de um mesmo campo semântico é chamada de:
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a)
polissomia. |
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b)
polissemia. |
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c)
semancômetra. |
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d)
polissemita. |
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e)
semafórica.b |
Observe a sequência de frases abaixo e responda a seguir.
(1) E no dia lindo vi que vinhas vindo, minha vida. (Guilherme de Almeida)
(2) Conhecer as manhas e as manhãs. (Almir Sater e Renato Teixeira)
(3) E as cantilenas de serenos sons amenos fogem fluidas. (Eugênio de Castro)
Nas frases apresentadas em (1), (2) e (3), temos, respectivamente, as seguintes figuras de estilo que exploram a sonoridade das palavras:
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a)
assonância, paranomásia e aliteração. |
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b)
onomatopeia, assonância e paranomásia. |
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c)
aliteração, onomatopeia e assonância. |
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d)
paranomásia, assonância e aliteração. |
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e)
assonância, onomatopeia e paranomásia. |
Assinale a alternativa em que todas as palavras são paroxítonas:
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a)
pudico, fácil, capitalismo, cáqui, açúcar, caverna. |
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b)
apito, estudante, ruim, tulipa, verdade, álbum. |
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c)
brasileira, órgão, condor, para, severo, recorde. |
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d)
hebreu, saúde, socialismo, rapaz, maré, margarida. |
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e)
vinte, boêmia, ideia, esteriótipo, portuguesa, libido. |
Observe o enunciado abaixo e responda a seguir.
________ algumas horas que a ________ dos móveis da viúva ocorrera. Então, organizaram uma ________ para decidir em que ________ do prédio eles seriam guardados até que os diretores dos orfanatos viessem retirá-los.
As palavras que completam a primeira, a segunda, a terceira e a quarta lacunas são, respectivamente:
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a)
fazia / sessão / secção / cessão. |
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b)
deviam fazer / cessão / seção / sessão. |
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c)
faziam / seção / sessão / sessão. |
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d)
devia fazer / sessão / cessão / secção. |
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e)
fazia / cessão / sessão / seção. |