1 Trata-se de uma carta cujo enigma perdura e perdurará. Por isso, ela continua sempre atual, continua a nos falar hoje sem que nenhum de nós também se julgue seu 4 destinatário privilegiado ou seu decodificador absoluto. Estamos nos referindo à famosa Carta de Pero Vaz de Caminha dirigida em 1500 a el-rei dom Manuel, 7 anunciando a descoberta de uma nova terra. E se essa carta não tivesse chegado ao seu destino, ao seu destinatário, se ela tivesse se extraviado, com se diz hoje no linguajar dos 10 correios? Em virtude de naufrágio, seria uma hipótese. Por errância sem fim da caravela no caminho de volta à pátria, ou seja, por morte dos estafetas, seria outra hipótese. No 13 entanto, a carta chegou ao seu destino. E, ao chegar às mãos do rei, no momento mesmo em que o rei de Portugal dela toma posse, também toma posse da terra e dos seres 16 humanos por ela descritos pela primeira vez. A carta cria o acontecimento da descoberta do Brasil por um país europeu. Ela sela de vez o devir ocidental e cristão de uma terra e de 19 seus habitantes, o devir de um futuro estado-nação chamado Brasil. A Carta de Caminha serve, antes de tudo, para que 22 todos aqueles aos quais ela não se destina reflitam tanto sobre palavras e gestos que recobrem o encontro de dois bandos que se desconhecem, quanto sobre o sentido do 25 acontecimento histórico na época das descobertas e, mais ainda, sobre o papel desempenhado pelos vários atores sociais na empreitada heroica.
Silviano Santiago. Navegar é preciso, viver. In: Adauto Novaes (Org.). Tempo e história. São Paulo:
Companhia das Letras - Secretaria Municipal de Cultura, 1992, p. 464 (com adaptações).
A partir da argumentação do texto acima, bem como das estruturas linguísticas nele utilizadas, julgue o(s) item(ns):
Se a opção fosse a de evitar o uso do pronome "cujo" (L.1), as relações entre as ideias do texto permitiriam que, sem prejudicar a coerência ou a correção gramatical do texto, assim se iniciasse o parágrafo: Trata-se de uma carta do qual o enigma perdura e perdurará.
Certa. |
Errada. |
Na linha 3, o uso do modo subjuntivo em "julgue" é exigido pela estrutura sintática em que ocorre; se fosse retirada a conjunção "que" da oração subordinada, o modo empregado deveria ser o infinitivo: julgar.
Certa. |
Errada. |
O primeiro período sintático do texto sintetiza os motivos que levaram Caminha a escrever a "famosa Carta" (L.5).
Certa. |
Errada. |
Fazendo os necessários ajustes nas letras iniciais maiúsculas, as relações semânticas entre as orações do texto permitem que o ponto logo após "hipótese" (L.10) seja substituído pelo sinal de ponto e vírgula e o ponto logo depois de "europeu" (L.17), pelo sinal de dois-pontos.
Certa. |
Errada. |
No desenvolvimento das ideias do texto, o conectivo "No entanto" (L.12-13) estabelece uma oposição direta entre os argumentos que o seguem na oração e o argumento do período sintático que explicita o objeto da argumentação: "Estamos nos referindo à famosa Carta de Pero Vaz de Caminha" (L.5-6).
Certa. |
Errada. |
Na linha 22, a preposição a, em "aos quais", é exigida pelo uso reflexivo do verbo destinar; por isso, mantém-se a coerência ao se substituir o pronome relativo pelo pronome quem e, para preservar o respeito às regras gramaticais, deve-se manter a preposição, escrevendo a quem.
Certa. |
Errada. |
1 Em todos os povos ou períodos da história, a sensação de pertencimento a uma comunidade sempre foi construída com base nas diferenças em relação aos que estão 4 de fora, "os outros". Muitas tribos indígenas brasileiras, por exemplo, chamam a si próprias de "homens" ou "gente" e denominam pejorativamente integrantes de outros 7 grupamentos - esses são "seres inferiores" ou "narizes chatos". O filósofo Aristóteles considerava a "raça helênica" superior aos outros povos. Mas até o Iluminismo, no século 10 XVIII, a humanidade não recorreu a teses raciais para justificar a escravidão - tratava-se de uma decorrência natural das conquistas militares. A postulação de que todos 13 os homens nascem livres e iguais criou, porém, uma reação: a fim de embasar a dominação de povos europeus e seus descendentes sobre as populações colonizadas ou 16 escravizadas, começou-se a elaborar uma divisão sistemática de raças, com pretensões científicas. Com a gradual abolição da escravidão, o racismo científico foi usado para justificar 19 o imperialismo ocidental na África e na Ásia.
Veja, 2/9/2009 (com adaptações).
Com base nas estruturas linguísticas e nas relações argumentativas do texto acima, julgue o(s) item(ns):
É correto concluir, a partir da argumentação do texto, que a "sensação de pertencimento" (L.2) carece de cientificidade, ou seja, de "pretensões científicas" (L.17).
Certa. |
Errada. |
Preservam-se a coerência entre os argumentos e o respeito às regras gramaticais ao se usar o pronome aqueles em lugar de os, substituindo "aos que" (L.3) por àqueles que.
Certa. |
Errada. |
Na linha 5, seriam preservadas a coerência da argumentação e a correção gramatical do texto se a opção fosse por não enfatizar o objeto de chamar, conferida pelo pronome "próprias", e se substituísse "a si" por se, escrevendo-se chamam-se.
Certa. |
Errada. |
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