Texto I
Olhar para o céu noturno é quase um privilégio
em nossa atribulada e iluminada vida moderna. (...)
Companhias de turismo deveriam criar “excursões
noturnas”, em que grupos de pessoas são
5 transportados até pontos estratégicos para serem instruídos por
um astrônomo sobre as maravilhas do céu noturno.
Seria o nascimento do “turismo astronômico”, que
complementaria perfeitamente o novo turismo
ecológico. E por que não? Turismo astronômico ou não,
10 talvez a primeira impressão ao observarmos o céu noturno seja uma
enorme sensação de paz, de permanência, de profunda ausência
de movimento, fora um
eventual avião ou mesmo um satélite distante (uma
estrela que se move!). Vemos incontáveis estrelas,
15 emitindo sua radiação eletromagnética, perfeitamente
indiferentes às atribulações humanas.
Essa visão pacata dos céus é completamente diferente
da visão de um astrofísico moderno. As inocentes estrelas são
verdadeiras fornalhas nucleares,
20 produzindo uma quantidade enorme de energia a cada
segundo. A morte de uma estrela modesta como o Sol,
por exemplo, virá acompanhada de uma explosão que
chegará até a nossa vizinhança, transformando tudo
o que encontrar pela frente em poeira cósmica.
25 (O leitor não precisa se preocupar muito.
O Sol ainda produzirá energia “docilmente” por mais uns 5 bilhões de
anos.)
GLEISER, Marcelo. Retalhos cósmicos.
O autor considera a possibilidade de se olhar para o céu noturno a partir de duas distintas perspectivas, que se evidenciam no confronto das seguintes expressões:
(Questão anulada)
a)
"...instruídos por um astrônomo..." (L. 5-6) / "...visão de um astrofísico..." (L. 18) |
b)
"...maravilhas do céu noturno." (L. 6) / "...sensação de paz," (L. 11) |
c)
"...ausência de movimento," (L. 12) / "...fornalhas nucleares," (L. 19) |
d)
"...radiação eletromagnética," (L. 15) / "...quantidade enorme de energia..." (L. 20) |
e)
"...poeira cósmica." (L. 24) / "...visão de um astrofísico..." (L. 18) |
Considere as afirmações a seguir.
I - Na primeira frase do texto, os termos "...atribulada..." (L. 2) e "...iluminada..." (L. 2) caracterizam dois aspectos contraditórios e inconciliáveis do que o autor chama de "vida moderna".
II - No final do primeiro parágrafo, o sentido da expressão "perfeitamente indiferentes às atribulações humanas." (L. 15-16) indica que já se desfez aquela "...primeira impressão..." (L. 10) e desapareceu a "...sensação de paz," (L. 11).
III - No segundo parágrafo, a expressão "...estrela modesta..." (L. 21), referente ao Sol, implica uma avaliação que vai além das impressões ou sensações de um observador comum.
Está(ão) correta(s) APENAS a(s) afirmação(ões):
(Questão anulada)
a)
I. |
b)
II. |
c)
III. |
d)
I e II. |
e)
II e III. |
"Vemos incontáveis estrelas, emitindo sua radiação eletromagnética, perfeitamente indiferentes às atribulações humanas." (L. 14-16).
No período, encontram-se uma oração:
a)
principal e outra subordinada reduzida de infinitivo. |
b)
principal e outra subordinada adjetiva reduzida de gerúndio. |
c)
principal e outra subordinada adjetiva reduzida de particípio. |
d)
coordenada e outra subordinada adjetiva restritiva. |
e)
coordenada e outra subordinada reduzida de gerúndio. |
Texto II
No Brasil das últimas décadas,
a miséria teve diversas caras.
Houve um tempo em que, romântica, ela batia à
nossa porta. Pedia-nos um prato de comida. Algumas
vezes, suplicava por uma roupinha velha.
Conhecíamos os nossos mendigos. Cabiam nos
5 dedos de uma das mãos. Eram parte da vizinhança.
Ao alimentá-los e vesti-los, aliviávamos nossas consciências.
Dormíamos o sono dos justos.
A urbanização do Brasil deu à miséria certa
impessoalidade. Ela passou a apresentar-se como um
10 elemento da paisagem, algo para ser visto pela janelinha do carro,
ora esparramada sobre a calçada, ora
refugiada sob o viaduto.
A modernidade trouxe novas formas de contato
com a riqueza. Logo a miséria estava batendo, suja,
15 esfarrapada, no vidro de nosso carro.
Os semáforos ganharam uma inesperada função
social. Passamos a exercitar nossa infinita bondade
pingando esmolas em mãos rotas. Continuávamos de
bem com nossos travesseiros.
20 Com o tempo, a miséria conquistou os tubos de
imagem dos aparelhos de TV. Aos poucos, foi perdendo a docilidade.
A rua oferecia-nos algo além de água
encanada e luz elétrica.
Os telejornais passaram a despejar violência
25 sobre o tapete da sala,
aos pés de nossos sofás. Era
como se dispuséssemos de um eficiente sistema de
miséria encanada.
Tão simples quanto virar uma torneira ou acionar o interruptor, bastava apertar o botão
da TV. Embora violenta, a miséria ainda nos excluía.
30 Súbito, a miséria cansou de esmolar. Ela agora
não pede; exige. Ela já não suplica; toma.
A miséria não bate mais à nossa porta; invade.
Não estende a mão diante do vidro do carro; arranca
os relógios dos braços distraídos.
35 Acuada, a cidade passou de opressora a vítima
dos morros. No Brasil de hoje, a riqueza é refém da
miséria.
A constituição do perfil da miséria no Brasil está
diretamente relacionada com a crescente
40 modernização do país.
SOUZA, Josias de. “A vingança da miséria”. Folha de S. Paulo, São
Paulo, 31 out. 1994.Caderno Opinião, p.2. (Adaptado)
A partir da leitura do Texto II, conclui-se que ele tem por objetivo:
(Questão anulada)
a)
criticar a ação governamental no trato com a miséria. |
b)
defender práticas de maior justiça social. |
c)
denunciar a culpa sentida pelas classes privilegiadas. |
d)
indicar soluções para a desigualdade social do país. |
e)
mostrar a evolução da situação de miséria no Brasil. |
"Embora violenta, a miséria ainda nos excluía." (L. 29).
Essa frase é uma síntese das passagens do texto apresentadas a seguir, EXCETO:
(Questão anulada)
a)
"Conhecíamos os nossos mendigos." (L. 4) |
b)
"Dormíamos o sono dos justos." (L. 7) |
c)
"Continuávamos de bem com nossos travesseiros." (L. 18-19) |
d)
"A rua oferecia-nos algo além de água encanada e luz elétrica." (L. 22-23) |
e)
"Era como se dispuséssemos de um eficiente sistema de miséria encanada." (L. 25-27) |
"A urbanização do Brasil deu à miséria certa impessoalidade. Ela passou a apresentar-se como um elemento da paisagem, algo para ser visto pela janelinha do carro, ora esparramada sobre a calçada, ora refugiada sob o viaduto.A modernidade trouxe novas formas de contato com a riqueza. Logo a miséria estava batendo, suja, esfarrapada, no vidro de nosso carro." (L. 8-15).
Considerando a norma padrão da Língua Portuguesa no fragmento, afirma-se corretamente que:
a)
a supressão da preposição em "passou a apresentar-se" (L. 9) prejudica a correção da frase. |
b)
a forma verbal correspondente a passou, no plural, mantendo-se o tempo e o modo, é "passam". |
c)
as conjunções ora.ora, no fragmento "ora esparramada sobre a calçada, ora refugiada sob o viaduto." (L. 11-12), aditam duas idéias que expressam a mesma noção de finalidade da ação. |
d)
o deslocamento do adjetivo "novas" (L. 13), com as devidas alterações, produz "formas novas de contato com a riqueza", com forte prejuízo do sentido original. |
e)
o termo destacado na frase "A urbanização do Brasil deu à miséria certa impessoalidade." (L. 8-9) exerce a função de adjunto. |
A circunstância expressa pelos termos em destaque está corretamente indicada em:
a)
"algo para ser visto pela janelinha do carro," (L. 10-11) - lugar |
b)
"...esparramada sobre a calçada," (L. 11) - concessão. |
c)
"...pingando esmolas em mãos rotas." (L. 18) - modo. |
d)
"Com o tempo, a miséria conquistou os tubos de imagem dos aparelhos de TV." (L. 20-21) - consequência. |
e)
"Embora violenta, a miséria ainda nos excluía." (L. 29) - condição. |
Texto III
A cidade moderna são os ecos [de um] labirinto –
presídio complexo de ruas cruzadas e rios aparentemente sem embocadura
– onde a iniciação itinerante
e o fio de Ariadne se mostram tênues ou nulos.
5 Invertendo-se uma das
interpretações do mito, o labirinto
aqui não é a trilha para chegar-se ao centro; é, antes,
marca da dispersão. Indica a vitória do material sobre
o espiritual, do perecível sobre o eterno. Ou mais, o
lugar do descartável e do novo e sempre-igual.
10 O homem citadino é presa dessa cidade, está enredado em suas malhas.
Não consegue sair desse
espaço denso, uma vez que a civilização urbana espraiou-se para
além dos centros metropolitanos e continua a preencher grandes
áreas que gravitam em
15 torno desses centros. A partir da Revolução Industrial, o
fenômeno urbano parece ter ultrapassado as fronteiras das “cidades”
e ter-se difundido pelo espaço físico. O signo do progresso transforma a urbanização
em movimento centrífugo, gerando a metrópole que
20 se dispersa. Assim, o citadino – homem à deriva – está
na cidade como em labirinto, não pode sair dela sem
cair em outra, idêntica ainda que seja distinta.
GOMES, Renato Cordeiro. Todas as cidades, a cidade. Rio de
Janeiro: Rocco, 1994.
Na visão do autor, a cidade é um espaço caracterizado por antíteses, por opostos que se somam num todo quase sempre contraditório. Esse ponto de vista se faz presente de forma particularmente significativa em:
a)
"A cidade moderna são os ecos [de um] labirinto -" . (L. 1) |
b)
"Ou mais, o lugar do descartável e do novo e sempreigual." (L. 8-9) |
c)
"O homem citadino é presa dessa cidade," (L. 10) |
d)
"Não consegue sair desse espaço denso," (L. 11-12) |
e)
"O signo do progresso transforma a urbanização em movimento centrífugo," (L. 18-19) |
Texto IV
Acredito na existência de vida em outros planetas.
Tenho três adolescentes em casa. Embora seus
corpos permaneçam nesta dimensão, suas mentes
vagam bem além da ionosfera. Não. Não adianta
5 dizer que também já fui assim.
Não fui. Não fui. Não fui.
Vou prender a respiração até você acreditar em mim.
Não tive infância, nem adolescência; já nasci velho.
Portanto, observo as três jovens moças como se a
porta da nave tivesse acabado de se abrir e, lá de
10 dentro, eu ouvisse: “Leve-me ao seu líder”.
Errado. Essa frase jamais seria ouvida no planeta
de onde elas vêm. Lá, o desconhecimento do conceito de líder é absoluto.
Logo, por que haveriam de querer conhecer o líder da Terra?Graças às últimas
15 festinhas de criança, que hoje percebo terem
sido congressos de ufologia disfarçados, sou testemunha de
que alienígenas do sexo masculino são rebeldes, mas
isso não torna as alienígenas do sexo feminino exatamente dóceis.
Elas são é distraídas, vivem com a
20 cabeça nas nuvens, não associam
a TV ligada à eletricidade.
DAPIEVE, Arthur. Notas de ufologia parental. O Globo, 13 ago. 2004.
(Adaptado)
As duas orações enunciadas estão ligadas por conectivo adequado ao sentido expresso no texto em:
a)
Acredito na existência de vida em outros planetas, mas tenho três adolescentes em casa. |
b)
Acredito na existência de vida em outros planetas, pois tenho três adolescentes em casa. |
c)
Acredito na existência de vida em outros planetas, posto que tenho três adolescentes em casa. |
d)
Acredito na existência de vida em outros planetas, porém tenho três adolescentes em casa. |
e)
Acredito na existência de vida em outros planetas, não obstante ter três adolescentes em casa. |
"Não. Não adianta dizer que também já fui assim. Não fui. Não fui. Não fui. Vou prender a respiração até você acreditar em mim. Não tive infância, nem adolescência; já nasci velho." (L. 4-7)
No trecho, o autor:
a)
afirma, de forma convincente, que sempre foi maduro. |
b)
revela sua inveja das filhas adolescentes. |
c)
tenta afirmar sua maturidade, mas se mostra infantil. |
d)
demonstra a necessidade de ser sempre maduro. |
e)
mostra sua nostalgia pela infância perdida. |
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