Houve um tempo em que os ditos setores progressistas pautavam suas ações por filosofias coerentes. Assim, advogados da infância buscavam promover os interesses das crianças, feministas visavam a afirmar a autonomia das mulheres e militantes dos direitos de homossexuais tentavam acabar com a discriminação contra gays, mas sem perder de vista teses mais gerais da esquerda não marxista, que incluíam a ampliação das liberdades e a despenalização do direito.
As coisas mudaram. E para pior, a meu ver. Hoje, os defensores das criancinhas deblateram para que o Congresso mantenha um mecanismo jurídico que permite mandar para a cadeia o pai que não paga em dia pensão do filho. Pouco importa que a prisão por dívidas represente um retrocesso de 2600 anos – uma das reformas de Sólon que facilitou a introdução da democracia em Atenas foi justamente o fim da servidão por dívidas – e que é quase certo que, encarcerado, o pai da criança terá muito menor probabilidade de honrar seus compromissos financeiros.
As feministas agora apoiam o acórdão do Supremo Tribunal Federal que retirou das mulheres o direito de decidir se querem ou não processar companheiros, tornando agressões leves no âmbito do lar um crime de ação pública incondicionada. Pouco importa que isso torne as mulheres menos livres e introduza uma diferenciação de gênero (na situação inversa, um homem pode decidir se processa ou não).
Por fim, homossexuais pedem a edição de uma lei que torne crime referir-se a gays em termos depreciativos ou condenatórios. Pouco importa que tal medida, se adotada, representaria uma limitação da liberdade de expressão, o mais fundamental dos princípios democráticos.
É natural que grupos de ativistas se especializem e, ao fazê-lo, percam de vista as grandes questões, mas fico com a impressão de que estão colocando a parte à frente do todo.
Hélio Schwartsman, Folha de São Paulo, 7/01/2014.
"Houve um tempo em que os ditos setores progressistas pautavam suas ações por filosofias coerentes". A frase inicial do texto tem a função textual de
a)
mostrar a contínua evolução das ideologias. |
b)
indicar o progresso brasileiro na área social. |
c)
estabelecer uma comparação entre duas épocas. |
d)
criticar os setores progressistas do passado. |
e)
elogiar a coerência dos sistemas filosóficos antigos. |
A expressão "ditos setores progressistas" mostra por parte do autor do texto
a)
um distanciamento da designação de "progressistas". |
b)
um desconhecimento relativo do tema. |
c)
um elogio a uma determinada posição política. |
d)
uma crítica a certas classificações sociais. |
e)
uma recuperação de designações políticas passadas. |
O termo "assim", colocado ao início do segundo período do texto, indica
a)
a maneira pelo qual as ações eram efetivadas. |
b)
uma conclusão do fato de haver coerência na filosofia progressista. |
c)
uma enumeração dos componentes das ações progressistas. |
d)
uma explicitação da coerência das ações praticadas. |
e)
a consequência de um posicionamento político. |
"Houve um tempo em que os ditos setores progressistas pautavam suas ações por filosofias coerentes". Pelo texto, podemos inferir que uma filosofia é coerente quando
a)
obtém sucesso em suas ações. |
b)
casa perfeitamente teoria e prática. |
c)
defende os direitos humanos |
d)
mostra uma ideologia de base filosófica. |
e)
pratica ações voltadas para o bem. |
A alternativa em que a palavra sublinhada tem seu significado corretamente indicado pelo sinônimo em maiúsculas é
a)
"...os ditos setores progressistas pautavam suas ações por filosofias coerentes" / DISCIPLINAVAM. |
b)
"...advogados da infância buscavam promover os interesses das crianças..." /DEFENDER. |
c)
"...feministas visavam a afirmar a autonomia das mulheres..." / AUTORIDADE. |
d)
"... militantes dos direitos de homossexuais..." / OPOSITORES. |
e)
"...tornando agressões leves em âmbito do lar..." / ESPAÇO. |
A expressão sublinhada que exerce uma função sintática diferente das demais, por ser considerada um complemento, e não um adjunto é :
a)
interesses das crianças. |
b)
autonomia das mulheres. |
c)
direitos de homossexuais. |
d)
teses da esquerda. |
e)
ampliação das liberdades. |
"As coisas mudaram. E para pior, a meu ver."
A alternativa em que a forma de se reescreverem as frases acima MODIFICA o seu sentido original é :
a)
A meu ver as coisas mudaram para pior. |
b)
As coisas mudaram para pior, a meu ver. |
c)
As coisas, elas mudaram para pior, a meu ver. |
d)
Mudaram as coisas para pior, a meu ver. |
e)
As coisas,a meu ver, mudaram para pior. |
O verbo "deblaterar" mostra o significado de "falar ou clamar com violência contra pessoas ou coisas". Ao dizer que os defensores das criancinhas "deblateram" para a manutenção de um mecanismo jurídico que manda para a cadeia o pai devedor de pensão, o autor do texto pretende
a)
demonstrar a atitude coerente desses defensores. |
b)
indicar uma atitude em descompasso com o bom senso. |
c)
comprovar a força dos movimentos sociais. |
d)
denunciar o despreparo dos profissionais da Justiça. |
e)
criticar a impunidade dos que devem e não pagam. |
A alternativa em que as palavras sublinhadas mantêm o mesmo valor é:
a)
"Hoje, os defensores das criancinhas deblateram para que o Congresso mantenha um mecanismo jurídico que permite mandar para a cadeia o pai que não paga em dia pensão do filho". |
b)
"Pouco importa que a prisão por dívidas represente um retrocesso de 2600 anos - uma das reformas de Sólon que facilitou a introdução da democracia em Atenas foi justamente o fim da servidão por dívidas". |
c)
"As feministas agora apoiam o acórdão do Supremo Tribunal Federal que retirou das mulheres o direito de decidir se querem ou não processar companheiros, [...] Pouco importa que isso torne as mulheres menos livres e introduza uma diferenciação de gênero (na situação inversa, um homem pode decidir se processa ou não)". |
d)
"As coisas mudaram. E para pior, a meu ver. Hoje, os defensores das criancinhas deblateram para que o Congresso mantenha um mecanismo jurídico que permite mandar para a cadeia o pai que não paga em dia pensão do filho". |
e)
"Hoje, os defensores das criancinhas deblateram para que o Congresso mantenha um mecanismo jurídico que permite mandar para a cadeia o pai que não paga em dia pensão do filho. [...]Por fim, homossexuais pedem a edição de uma lei que torne crime referir-se a gays em a termos depreciativos ou condenatórios". |
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