Sírio Possenti
Tostão, o que foi jogador de futebol, abandonou a carreira por causa de problemas em seu olho, fruto de uma bolada. Estudou medicina, psicanálise, foi professor. Abandonou esta nova carreira há uns dez anos (ou mais?) para tornar-se comentarista esportivo (na TV), espaço que também abandonou. Há alguns anos é colunista da Folha, que o publica duas vezes por semana.
Na coluna de 13/10/2013, afirma sobre si mesmo que é um colunista que foi jogador, não um jogador que se tornou colunista. E se queixa de que tem gente que não entende.
Analisa futebol. De vez em quando, cita poemas e evoca a psicanálise. Alguns o consideram um estilista da língua, outros elogiam sua perspicácia, incluindo sua análise estranha do idiomatismo “correr atrás do prejuízo”, que ele acha um erro, porque ninguém faria isso, isto é, correr atrás do prejuízo. Mas isso é argumento? Mas esqueceu que se trata de um idiomatismo. Também não chove a cântaros e ninguém bate um papo, literalmente.
Sem dúvida, Tostão é uma boa fonte para o português culto de hoje. É um representante da cultura e escreve profissionalmente. Com um viés regional, claro, mas uma língua falada em território(s) tão extenso(s) há de ter vários padrões.
Uma de suas marcas é a ausência dos pronomes em casos como “formei em medicina”. Não tenho cer- teza absoluta (isto é, não disponho de dados quantitativos), mas diria que Minas – em algumas regiões, pelo menos – é onde esta variante inovadora está mais assentada. E é culta, não apenas popular, como se poderia pen- sar. Tanto que Tostão a emprega em suas colunas.
Outra marca que se espalha cada vez mais, e que está firme em Minas (mas não só lá) é a chamada relativa cortadora. Tostão forneceu bons exemplos em sua coluna de 9/10/13, na mesma Folha (Esporte, p. D4). Escreveu:
“Parafraseando o poeta (ele cita muito Fernando Pessoa), “Tabacaria” pode não ser o mais belo poema da literatura universal, mas é, para mim, o mais belo, pois é o que mais gosto”. Depois: “Já o Cruzeiro não é o mais belo time do Brasileiro somente porque é o time que mais gosto e que tenho mais laços afetivos”.
Cortadora é a adjetiva que elimina a preposição. Em vez das formas “de que mais gosto” e “com que / com o qual tenho mais laços”, ocorrem as formas “que mais gosto” e “que tenho mais laços”.
Uma observação importantíssima: quem usa essas formas não diz “gosto isso” (diz “gosto disso”) nem “tenho ele mais laços afetivos” (diz “com o qual tenho…”). Ou seja: a queda da preposição só ocorre nas relativas. É uma regra sofisticada!
Já se pensou que esta variante ocorria apenas ou predominantemente nas regiões rurais. Mas ela se espalha cada vez mais. Tarallo (A pesquisa sociolinguística, São Paulo, Ática) pesquisou a ocorrência das relati- vas desde 1725. Quantificou a ocorrência das diversas formas e descobriu que a cortadora ocorria muito pouco em 1725. Sua presença nos documentos foi aumentando paulatinamente até 1825. Desde então, cresce vertigino- samente: sua ocorrência é de cerca de 70% já em 1880!
É evidente, mas é bom anotar, que os dados analisados por Tarallo são todos de língua escrita. E é provável que os números fossem mais altos na língua falada também naquele tempo, como são claramente hoje.
As outras relativas, além da cortadora, são a ainda considerada padrão (do tipo “o time de que mais gosto”) e a que retém o pronome pessoal – como se redobrasse o nome retomado por “que” ou “qual” (como em “o time que mais gosto dele”).
A história da língua revela, quase sem exceções, que, para cada alternativa (variante), existe documentação antiga. Ou seja, praticamente não se inventa nada quando parece que se “criam” novas formas de falar. Dizendo melhor: quando parece que se cria alguma forma nova, ou ela é velha ou resulta da aplicação de uma regra antiga.
(Disponível em: < http://terramagazine.terra.com.br/blogdosirio/blog/ >. Acesso em 25 out. 2013).
A(s) questão(ões) seguinte(s) refere(m)-se ao texto a acima. Leia-o antes de responder.
I. Não existe uniformidade no português padrão.
II. As orações relativas são, para o autor, um tema recorrente.
III. Na maioria das vezes, o que é visto como inovação linguística é fenômeno preexistente, historicamente arraigado na língua.
Tendo em conta as afirmativas acima, pode-se dizer que, a partir da leitura do texto, são CORRETAS:
a)
I, II e III. |
b)
I e II, apenas. |
c)
I e III, apenas. |
d)
II e III, apenas. |
A(s) questão(ões) seguinte(s) refere(m)-se ao texto a acima. Leia-o antes de responder.
Todas as alternativas ilustram características do português de Tostão, segundo o autor, EXCETO:
(Questão anulada)
a)
Dentre as muitas experiências curiosas que passei no estrangeiro, há uma que nunca esqueço. |
b)
O operário caiu de grande altura, mas, surpreendentemente, não machucou, não sofreu um arranhão sequer. |
c)
Um excelente ator negro americano, que eu não consigo recordar o nome, é que faz o papel do investigador. |
d)
Quanto ao biografado, o jornalista observa que, se suicidou, conforme alegam alguns, ou se foi assassinado, segundo creem outros, nem mesmo o tempo dirá. |
A(s) questão(ões) seguinte(s) refere(m)-se ao texto a acima. Leia-o antes de responder.
Assinale a alternativa em que a reformulação do trecho transcrito entre parênteses implique erro ou mudança de sentido.
(Questão anulada)
a)
Dito de outro modo: praticamente nada é inventado quando, aparentemente, recorre-se a formas novas de falar. (Ou seja, praticamente não se inventa nada quando parece que se “criam” novas formas de falar. – 13.º §). |
b)
Ou seja: a supressão da preposição verifica-se tão somente nas relativas. Trata-se de uma regra sofisticada! (Ou seja: a queda da preposição só ocorre nas relativas. É uma regra sofisticada! – 4.º §). |
c)
Indubitavelmente, Tostão é uma boa fonte para o português culto contemporâneo. (Sem dúvida, Tostão é uma boa fonte para o português culto de hoje. – 4.º §). |
d)
Contudo, esqueceu-se de que se trata de um idiomatismo. (Mas esqueceu que se trata de um idiomatismo. – 3.º §). |
A(s) questão(ões) seguinte(s) refere(m)-se ao texto a acima. Leia-o antes de responder.
Assinale a alternativa em que a alteração na pontuação do trecho transcrito entre parênteses NÃO implique erro ou mudança de sentido.
a)
Há alguns anos, é colunista da Folha que o publica duas vezes por semana. (Há alguns anos é colunista da Folha, que o publica duas vezes por semana. – 1.º §). |
b)
Tostão (o que foi jogador de futebol) abandonou a carreira por causa de problemas em seu olho, fruto de uma bolada. (Tostão, o que foi jogador de futebol, abandonou a carreira por causa de problemas em seu olho, fruto de uma bolada. – 1.º §). |
c)
Na coluna de 13/10/2013, afirma, sobre si mesmo, que é um colunista, que foi jogador; não um jogador, que se tornou colunista... (Na coluna de 13/10/2013, afirma sobre si mesmo que é um colunista que foi jogador, não um jogador que se tornou colunista. – 2.º §). |
d)
E se queixa de que tem gente, que não entende. (E se queixa de que tem gente que não entende... – 2.º §). |
Assinale a alternativa que preenche CORRETAMENTE, na ordem em que ocorrem, as lacunas do resumo de artigo científico a seguir.
Resumo:________. artigo traça considerações sobre parte da obra poética de Cecília Meireles, a qual é dirigida às crianças. Com o estudo específico de seu livro, Ou isto ou aquilo (1993), pretende-se observar as características de um livro de poemas infantis. Ao analisar ________ livro quanto ao seu nível estético-literário, tem-se por objetivo destacar sua relevância na literatura infantil e as contribuições da poetisa para ________ gênero literário. Ao final será considerado o estudo da literatura infantil na escola, evidenciando o caráter pedagógico da poesia infantil.
(Disponível em: http://www.olhodagua.ibilce.unesp.br/index.php/Olhodagua/article/view/3 >. Acesso em: 20 out. 2013).
a)
Este – este – aquele |
b)
Esse – esse – esse |
c)
Este – esse – esse |
d)
Esse – aquele – este |
Todos têm o direito de requerer e obter informação sobre projeto do Poder Público. Essa informação vai ser pres- tada no prazo da lei. Isso é válido desde que o sigilo da informação não seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
Assinale a alternativa em que as informações acima, constantes no § 5.º do art. 4.º da Constituição do Estado de Minas Gerais, tenham sido CORRETAMENTE reunidas num único período.
a)
Todos têm o direito a requerer e obter informações sobre projeto do Poder Público a ser prestada no prazo de lei, ressalvando-se aquela que o sigilo for imprescindível para a segurança da sociedade e do Estado. |
b)
Todos têm direito de requerer e obter informação sobre projeto do Poder Público, a ser prestada no prazo da lei, desde que o sigilo desta seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. |
c)
Todos têm o direito de requerer e obter informação sobre projeto do Poder Público, a qual será prestada no prazo da lei, ressalvada aquela cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. |
d)
Todos têm direito a requererem e obterem informação sobre projeto do Poder Público, o qual a prestará no prazo legal, excetuada aquela de cujo sigilo seja imprescindível a segurança da sociedade e do Estado. |
Assinale a alternativa em que a colocação pronominal esteja INCORRETA.
a)
Há tendência no sentido de se esvaziar a cobrança do valor, porquanto empregadores rurais discutiriam se a incidência se daria sobre o faturamento, o lucro ou, ainda, a folha de salários. |
b)
A requerente, então deputada, sustentou que o vereador havia acusado-a de compra de votos, fato que, no seu entender, teria atingido sua honra. |
c)
Pode-se dizer que a atuação desse órgão é de grande relevância, haja vista que o atual governo vem atribuindo-lhe tarefas importantes. |
d)
A aprendizagem profissional auxilia os jovens em sua inserção no mercado de trabalho, mas não pode distanciar-se da educação formal. |
I. Um amigo dizia ao outro: – Sabe o que é, rapaz? A minha mulher não me compreende. E a tua? – Sei lá. Nunca falei com ela a teu respeito.
II. À noite, enquanto o marido lê jornal, a esposa comenta: – Você já percebeu como vive o casal que mora aí em frente? Parecem dois namorados! Todos os dias, quando chega em casa, ele traz flores para ela, a abraça, e os dois ficam se beijando apaixonadamente. Por que você não faz o mesmo: – Mas querida, eu mal conheço essa mulher...
III. Um sujeito vai visitar seu amigo e leva consigo sua cadela. Na chegada, após os cumprimentos, o amigo diz: – É melhor você não deixar que sua cadela entre nesta casa. Ela está cheia de pulgas. – Ouviu, Laika? Não entre nessa casa, porque ela está cheia de pulgas!
Tendo em conta as piadas acima, pode-se dizer que o humor é deflagrado pela dubiedade dos termos em destaque em:
a)
I, II e III. |
b)
I e II, apenas. |
c)
I e III, apenas. |
d)
II e III, apenas. |
Considerando os elementos característicos da sociedade e do Estado, indicados por Dalmo de Abreu Dallari, estão corretas as afirmativas, EXCETO:
a)
Não há diferença entre o Estado e a sociedade humana no seu todo, pois ambos têm idêntica finalidade. |
b)
As manifestações de conjunto, em uma sociedade, devem atender aos requisitos de reiteração, ordem e ade- quação. |
c)
Para o reconhecimento de um agrupamento humano como sociedade, são necessários uma finalidade social, as manifestações de conjunto ordenadas e o poder social. |
d)
Estão presentes todos os elementos componentes do Estado no conceito deste, como a ordem jurídica sobe- rana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território. |
Tendo em vista o disposto na Constituição Brasileira, é correto afirmar, EXCETO:
a)
Todo o poder emana do povo. |
b)
O Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito. |
c)
O povo somente poderá exercer o poder por meio de representantes eleitos. |
d)
A República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal. |
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