Atenção: A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao texto abaixo.
Que me importa o presente? No futuro é que está a existência dos verdadeiros homens. Guyau*, a quem não me canso de citar, disse em uma de suas obras estas palavras:
“Porventura sei eu se viverei amanhã, se viverei mais uma hora, se a minha mão poderá terminar esta linha que começo? A vida está por todos os lados cercada pelo Desconhecido. Todavia executo, trabalho, empreendo; e em todos os meus atos, em todos os meus pensamentos, eu pressuponho esse futuro com o qual nada me autoriza a contar. A minha atividade excede em cada minuto o instante presente, estendese ao futuro. Eu consumo a minha energia sem recear que esse consumo seja uma perda estéril, imponho-me privações, contando que o futuro as resgatará − e sigo o meu caminho. Essa incerteza que me comprime de todos os lados equivale para mim a uma certeza e torna possível a minha liberdade − é o fundamento da moral especulativa com todos os riscos. O meu pensamento vai adiante dela, com a minha atividade; ele prepara o mundo, dispõe do futuro. Parece-me que sou senhor do infinito, porque o meu poder não é equivalente a nenhuma quantidade determinada; quanto mais trabalho, mais espero.”
* Jean-Marie Guyau (1854-1888), filósofo e poeta francês.
(PRADO, Antonio Arnoni (org.). Lima Barreto: uma autobiografia literária. São Paulo: Editora 34, 2012. p. 164)
Lima Barreto vale-se do texto de Guyau para defender a tese de que
a)
as ações do presente ganham sentido quando projetadas e executadas com vistas ao futuro. |
b)
o futuro só é do nosso domínio quando nossas ações no tempo presente logram antevê-lo e iluminá-lo. |
c)
as projeções do futuro só importam quando estiverem visceralmente ligadas às experiências do presente. |
d)
o futuro ganha plena importância quando temos a convicção de que todas as nossas ações são duradouras. |
e)
as ações do presente têm sua importância determinada pelo valor intrínseco de que se revestem. |
O fato de nossa vida estar cercada pelo Desconhecido não deve implicar uma restrição aos empreendimentos humanos, já que, para Guyau,
a)
o fundamento da moral especulativa está em planejar o futuro sem atentar para as circunstâncias presentes. |
b)
o trabalho estéril executado no presente acumula energias que serão desfrutadas no futuro. |
c)
a incerteza do futuro não elimina a possibilidade de tomá-lo como parâmetro dos nossos empreendimentos. |
d)
os nossos atos tendem a se tornar estéreis quando pautados por uma visão otimista do futuro. |
e)
a brevidade do tempo que temos para viver autoriza- nos a viver o presente com o máximo de intensidade. |
O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se concordando com o elemento sublinhado na frase:
a)
Há trabalhos que a gente (executar) sem imaginar o sentido que ganharão no futuro. |
b)
Os minutos de que se (necessitar) viver plenamente devem trazer consigo uma expectativa de futuro. |
c)
As privações que me (competir) enfrentar não devem desestimular meus empreendimentos. |
d)
As incertezas quanto ao meu próprio futuro não (dever) eximir-me de ser responsável por minhas decisões. |
e)
Os desafios que cada um de nós hoje se (obrigar) a enfrentar fortalecem-nos diante do futuro. |
A construção da frase eu pressuponho esse futuro com o qual nada me autoriza a contar permanecerá correta caso se substitua o elemento sublinhado por
a)
perante o qual não sei avaliar. |
b)
em cujo nada posso desconfiar. |
c)
de cujo pouco posso prever. |
d)
por quem nada posso antecipar. |
e)
do qual nada me é dado esperar. |
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em:
a)
o futuro as resgatará (2.º parágrafo) = o amanhã as imputará |
b)
incerteza que me comprime (2.º parágrafo) = dúvida que me constringe. |
c)
Todavia executo (2.º parágrafo) = por conseguinte ajo. |
d)
uma perda estéril (2.º parágrafo) = um ônus impróprio. |
e)
imponho-me privações (2.º parágrafo) = faculto-me restrições. |
Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:
a)
Está no futuro o sentido mesmo de tudo o que nos dispormos a fazer nos limites naturais do tempo presente. |
b)
Mesmo sem assenhorearmos qualquer certeza diante do futuro, nossas ações presentes ressalvam toda liberdade. |
c)
Pelo simples fato de ignorarmos o futuro, Guyau não desiste de valorizar no presente às ações que poderão projetar-se nele. |
d)
O desconhecimento do futuro não nos exime de sermos responsáveis por tudo aquilo que empreendemos. |
e)
Sendo certo que o Desconhecido cercea nossa vida, nem por isso deixaremos de investir sobre o nosso futuro. |
Atenção: A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao texto seguinte.
A expressão parece ter sido criada para encerrar uma discussão. Quando alguém apela para a tal da “questão de gosto”, é como se dissesse: “chega de conversa, inútil discutir”. A partir daí nenhuma polêmica parece necessária, ou mesmo possível. “Você gosta de Beethoven? Eu prefiro ouvir fanfarra de colégio.” Questão de gosto.
Levada a sério, radicalizada, a “questão de gosto” dispensa razões e argumentos, estanca o discurso crítico, desiste da reflexão, afirmando despoticamente a instância definitiva da mais rasa subjetividade. Gosto disso, e pronto, estamos conversados. Ao interlocutor, para sempre desarmado, resta engolir em seco o gosto próprio, impedido de argumentar. Afinal, gosto não se discute.
Mas se tudo é questão de gosto, a vida vale a morte, o silêncio vale a palavra, a ausência vale a presença − tudo se relativiza ao infinito. Num mundo sem valores a definir, em que tudo dependa do gosto, não há lugar para uma razão ética, uma definição de princípios, uma preocupação moral, um empenho numa análise estética. O autoritarismo do gosto, tomado em sentido absoluto, apaga as diferenças reais e proclama a servidão ao capricho. Mas há quem goste das fórmulas ditatoriais, em vez de enfrentar o desafio de ponderar as nossas contradições.
(Emiliano Barreira, inédito)
Definida como instância definitiva da mais rasa subjetividade, a questão de gosto opõe-se, terminantemente,
a)
ao subterfúgio de que nos valemos para evitar um princípio de discussão. |
b)
ao princípio da recusa a qualquer fundamentação racional numa discussão. |
c)
à atribuição de mérito à naturalidade de uma primeira impressão. |
d)
ao primado do capricho pessoal, ao qual tantas vezes se apela. |
e)
à dinâmica de argumentos criteriosos na condução de uma polêmica. |
Atente para as seguintes afirmações:
I. No 1.º parágrafo, a menção a Beethoven e a fanfarra de colégio ilustra bem a disposição do autor em colocar lado a lado manifestações artísticas de valor equivalente.
II. No 2.º parágrafo, o termo despoticamente qualifica o modo pelo qual alguns interlocutores dispõem-se a desenvolver uma polêmica.
III. No 3.º parágrafo, a expressão servidão ao capricho realça a acomodação de quem não se dispõe a enfrentar a argumentação crítica.
Em relação ao texto está correto o que se afirma APENAS em
a)
II e III. |
b)
III. |
c)
I. |
d)
I e II. |
e)
II. |
Muita gente não enfrenta uma argumentação, prefere substituir uma argumentação pela alegação do gosto, atribuindo ao gosto o valor de um princípio inteiramente defensável, em vez de tomar o gosto como uma instância caprichosa.
Evitam-se as viciosas repetições da frase acima substituindo-se os elementos sublinhados por, respectivamente,
a)
substituir a ela - atribuindo a ele - lhe tomar |
b)
substituir-lhe - atribuindo-lhe - tomar-lhe |
c)
substituir-lhe - atribuindo-o - tomá-lo |
d)
substituí-la - atribuindo-lhe - tomá-lo |
e)
substituí-la - lhe atribuindo - tomar-lhe |
Na passagem da voz ativa para a passiva, NÃO houve a devida correspondência quanto ao tempo verbal na seguinte construção:
a)
Será que ele apreciará tais formas ditatoriais? = Será que tais fórmulas ditatoriais serão apreciadas por ele? |
b)
Haveremos de enfrentar esse e outros desafios = Esse e outros desafios haverão de ser enfrentados por nós. |
c)
A questão de gosto dispensaria as razões = As razões teriam sido dispensadas pela questão de gosto. |
d)
O autoritarismo apagava as diferenças reais = As diferenças reais eram apagadas pelo autoritarismo. |
e)
Os acomodados têm proclamado a servidão ao capricho = A servidão ao capricho tem sido proclamada pelos acomodados. |
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