Atenção: Considere o texto abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir.
Com a genial invenção das vogais no alfabeto grego, a escrita estava se disseminando pela Grécia antiga − e Sócrates, o homem mais sábio de todos os tempos, temia um desastre. Apreciador da linguagem oral, achava que só o diálogo, a retórica, o discurso, só a palavra falada estimulava o questionamento e a memória, os únicos caminhos que conduziam ao conhecimento profundo. Temia que os jovens atenienses, com o recurso fácil da escrita e da leitura, deixassem de exercitar a memória e perdessem o hábito de questionar. O grande filósofo intuiu que a transição da linguagem oral para a escrita seria uma revolução. E assim foi. Numa direção promissora, porém, que permitiu o mais esplêndido salto intelectual da civilização ocidental.
Agora, 2.500 anos depois, estamos às voltas com outra transição revolucionária. Da cultura escrita para a digital, é uma mudança de fundamentos como não ocorre há milênios. A forma física que o texto adquire num papiro de 3.000 anos antes de Cristo ou numa folha de papel da semana passada não é essencialmente distinta. Nos dois casos, existem enormes diferenças de qualidade e clareza, mas é sempre tinta sobre uma superfície maleável. Na era digital, a mudança é radical. O livro eletrônico oferece uma experiência visual e tátil inteiramente diversa.
Sob qualquer ângulo que se examine o cenário, é um momento histórico. Desde que os gregos criaram as vogais − o "aleph" semítico era uma consoante, que virou o "alfa" dos gregos e depois o "a" do alfabeto latino −, o ato de ler e escrever não sofria tamanho impacto cognitivo. Desde os tipos móveis de Gutenberg, o livro não recebia intervenção tecnológica tão significativa. O temor é que o universo digital, com abundância de informações e intermináveis estímulos visuais e sonoros, roube dos jovens a leitura profunda, a capacidade de entrar no que o grande filósofo Walter Benjamin chamou de "silêncio exigente do livro".
Leitura profunda não é esnobismo intelectual. É por meio dela que o cérebro cria poderosos circuitos neuronais. "O homem nasce geneticamente pronto para ver e falar, mas não para ler. Ler não é natural. É uma invenção cultural que precisa ser ensinada ao cérebro", explica a neurocientista Maryanne Wolf, autora de obra sobre o impacto da leitura no cérebro. Para tanto, ele tem de conectar os neurônios responsáveis pela visão, pela linguagem e pelo conceito. Em suma, precisa redesenhar a estrutura interna, segundo suas circunstâncias. Ao criar novos caminhos, expande sua capacidade de pensar, multiplicando as possibilidades intelectuais − o que, por sua vez, ajuda a expandir ainda mais a capacidade de pensar, numa esplêndida interação em que o cérebro muda o meio e o meio muda o cérebro. Pesquisadores investigam se a construção dos circuitos neuronais está sendo afetada nessa mudança para a era digital.
(Adaptado de: André Petry. Veja, 19 de dezembro de 2012, p. 151-6)
É correto concluir do texto:
a)
Apesar dos receios de alguns filósofos, a passagem da linguagem falada para a escrita, na Grécia antiga, foi uma mudança revolucionária que levou os jovens atenienses à prática do diálogo. |
b)
Ainda não há dados conclusivos a respeito das implicações trazidas ao funcionamento cerebral pelos numerosos estímulos propiciados por uma leitura virtual. |
c)
Devido à quantidade e à rapidez de estímulos visuais, as alterações surgidas com o desenvolvimento tecnológico, ligadas ao ato de ler, tendem a facilitar a ampliação dos circuitos cerebrais. |
d)
Além dos estímulos ao funcionamento cerebral, as facilidades oferecidas pela tecnologia em relação aos livros virtuais justificam a influência que a leitura digital exerce nos jovens. |
e)
Com base em estudos feitos por especialistas, o desenvolvimento cerebral ocorre naturalmente, por suas características genéticas, a partir da interação entre visão e linguagem. |
Em relação ao último parágrafo, é correto afirmar que seu conteúdo
a)
se destaca do desenvolvimento dos demais parágrafos, por introduzir um assunto ainda não abordado anteriormente. |
b)
apresenta possíveis razões que confirmam a superioridade da leitura digital sobre aquela realizada no livro impresso. |
c)
remete a falhas nas pesquisas sobre leitura que estão sendo feitas na área da neurociência, por não apresentarem resultados concretos. |
d)
é principalmente explicativo, ao oferecer informações sobre o funcionamento dos mecanismos cerebrais ativados no ato de ler. |
e)
retoma os argumentos que vêm sendo desenvolvidos em todo o texto, apresentando uma síntese do assunto tratado. |
O sentido da expressão "silêncio exigente do livro", como se lê no 3.º parágrafo, se explica
a)
pela atenção e concentração necessárias para a análise e a consequente assimilação do conteúdo de uma obra impressa. |
b)
pela dificuldade de leitura encontrada, por vezes, em obras impressas que não têm a clareza necessária ao entendimento do conteúdo. |
c)
pela obrigatoriedade da leitura de obras clássicas, no caso do livro impresso, diferentemente das opções oferecidas pelo mundo virtual. |
d)
pelos estímulos digitais que favorecem a apreensão de informações rápidas e múltiplas, possibilitando uma abrangente formação cultural. |
e)
pelo esforço empregado no manuseio de um livro impresso, em oposição à praticidade e ao conforto oferecidos pela leitura virtual. |
Numa direção promissora, porém, que permitiu o mais esplêndido salto intelectual da civilização ocidental.
A presença da conjunção grifada acima indica, no contexto do 1.º parágrafo,
a)
confirmação de que a escrita estava se disseminando pela Grécia antiga. |
b)
contraponto à afirmativa de que Sócrates, com seu apreço pela linguagem oral, temia um desastre. |
c)
constatação de que só a palavra falada estimulava o questionamento e a memória. |
d)
hipótese provável de que os jovens atenienses perderiam o hábito de questionar. |
e)
concordância com o fato de que a transição da linguagem oral para a escrita seria desastrosa, segundo Sócrates. |
Sob qualquer ângulo que se examine o cenário, é um momento histórico. (início do 3.º parágrafo)
A afirmativa acima se baseia no fato de que
a)
o impacto causado pela tecnologia que propicia a leitura digital assemelha-se à revolução resultante da transição da linguagem oral para a escrita, na Grécia antiga. |
b)
as mudanças em relação à leitura, que passa a ser virtual, são idênticas às que ocorreram na Grécia antiga, com a invenção das vogais. |
c)
o livro digital, apesar das inovações tecnológicas, mantém sua proximidade com os tipos móveis inventados há séculos por Gutenberg. |
d)
a história referente à escrita, surgida há milênios, vem se repetindo no decorrer do tempo, desde a invenção dos tipos que permitiram a impressão de livros. |
e)
o acentuado desenvolvimento tecnológico tem melhorado, a partir de estímulos visuais, a relação humana com a leitura. |
Atenção: Considere o segmento abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir.
Ao criar novos caminhos, [o cérebro] expande sua capacidade de pensar, multiplicando as possibilidades intelectuais – o que, por sua vez, ajuda a expandir ainda mais a capacidade de pensar, numa esplêndida interação em que o cérebro muda o meio e o meio muda o cérebro. (4.º parágrafo)
O segmento grifado pode ser corretamente substituído, sem alteração do sentido original, por:
a)
Conquanto crie novos caminhos. |
b)
Caso crie novos caminhos. |
c)
A fim de que crie novos caminhos. |
d)
À medida que cria novos caminhos. |
e)
De modo que cria novos caminhos. |
Atenção: Considere o segmento abaixo para responder à(s) questão(ões) a seguir.
Ao criar novos caminhos, [o cérebro] expande sua capacidade de pensar, multiplicando as possibilidades intelectuais – o que, por sua vez, ajuda a expandir ainda mais a capacidade de pensar, numa esplêndida interação em que o cérebro muda o meio e o meio muda o cérebro. (4.º parágrafo)
O segmento final, introduzido pelo sinal de travessão, remete a uma relação (último parágrafo)
a)
de oposição entre os estímulos cerebrais e as causas que originam esses estímulos. |
b)
espacial entre os estímulos intelectuais que determinam o funcionamento do cérebro. |
c)
predeterminada de certas condições impostas ao funcionamento dos neurônios, na leitura digital. |
d)
temporal entre elementos sucessivos que desencadeiam mudanças nos circuitos cerebrais. |
e)
mútua de causa e efeito, que tende a favorecer o aprimoramento intelectual. |
− o "aleph" semítico era uma consoante, que virou o "alfa" dos gregos e depois o "a" do alfabeto latino − (3.º parágrafo)
O segmento acima, isolado por travessões, constitui
a)
repetição de dados constantes do parágrafo. |
b)
enumeração de condições para o uso da escrita. |
c)
comentário informativo e explicativo. |
d)
restrição ao assunto abordado anteriormente. |
e)
finalidade do uso das vogais no mundo grego. |
... só a palavra falada estimulava o questionamento e a memória... (1.º parágrafo)
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo em que se encontra o grifado acima está na frase:
a)
... explica a neurocientista Maryanne Wolf... |
b)
... que permitiu o mais esplêndido salto intelectual da civilização ocidental. |
c)
A forma física que o texto adquire num papiro... |
d)
... que o universo digital (...) roube dos jovens a leitura profunda... |
e)
... o livro não recebia intervenção tecnológica... |
As normas de concordância verbal e nominal estão inteiramente respeitadas na frase:
a)
Já fazem séculos que, depois da argila, do papiro e do pergaminho, as pessoas, para transmitir seu conhecimento, se utiliza do papel. |
b)
Durante séculos, o tipo da letra, o entrelinhamento e os espaços em branco de um livro impresso foi aperfeiçoado para estimular o hábito da leitura. |
c)
É fundamental que as novas gerações, às voltas com a influência da tecnologia, sejam capazes de ler bem e de refletir, atentas aos aspectos relevantes de uma obra. |
d)
Estudiosos do nosso tempo, tal como Sócrates na Antiguidade em relação à escrita, se preocupa com o possível impacto do mundo digital na transmissão da cultura. |
e)
No momento, existe algumas pesquisas em que já se busca dados que avaliem a extensão do impacto causado ao cérebro pela leitura digital. |
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