Atenção: A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao texto abaixo.
1 O crescimento é um fenômeno natural. Porém, enquanto a maioria das sociedades dedicou certo culto ao crescimento, o Ocidente moderno o transformou em sua religião. 5 O decrescimento − termo que vem sendo usado nos debates ecológico, econômico e social − propõe o abandono do crescimento ilimitado, da economia cujo motor é a busca do lucro por parte dos detentores do capital, com consequências desastrosas para o meio 10 ambiente e, portanto, para a humanidade. Para que seja sustentável e durável, toda sociedade deve estabelecer limites. A nossa, ao contrário, se vangloria em deixar de lado qualquer restrição, optando pela desmesura. O emprego, o pagamento dos aposentados, 15 a renovação dos gastos públicos supõem o aumento constante do Produto Interno Bruto (PIB). No fim, o círculo virtuoso se transforma num círculo infernal. A vida das pessoas geralmente se reduz à de um biodigestor que metaboliza o salário com as mercadorias 20 e as mercadorias com o salário, transitando do trabalho para o hipermercado e vice-versa. A proposta do decrescimento não é a de um crescimento negativo, que mergulha a sociedade na incerteza, aumenta as taxas de desemprego e promove 25 o abandono dos programas sociais. Para sermos rigorosos, conviria mais falar de “a-crescimento”, como se fala de a-teísmo. A meta é uma sociedade em que se viverá melhor trabalhando e consumindo menos. Esse novo modelo se resumiria em 8 Rs: reavaliar, reconceitualizar, 30 reestruturar, relocalizar, redistribuir e os já tradicionais reduzir, reutilizar e reciclar. A redefinição da felicidade como “abundância frugal em uma sociedade solidária” pressupõe sair do círculo infernal da criação ilimitada de necessidades e 35 de produtos e da frustração crescente que esta acarreta. A limitação é a condição para que se alcance a prosperidade sem crescimento, evitando, assim, a queda da civilização.
(Adaptado de: Serge Latouche. A economia precisa parar de crescer.
Galileu. São Paulo: Editora Globo, junho de 2013, p. 82)
É correto afirmar, com relação à palavra
a)
crescimento (linha 1): sua primeira caracterização a situa fora dos domínios da economia; apenas a partir do terceiro parágrafo, é possível intuir o sentido em que será explorada. |
b)
decrescimento (linha 5): talvez por causa de sua existência ainda instável em certas áreas do saber, é empregada sem qualquer tipo de detalhamento. |
c)
decrescimento (linha 5): denota fenômeno que impede o lucro e crescimento e que tem como meta o desenvolvimento ecológico, econômico e social do Ocidente moderno. |
d)
crescimento: sua caracterização segue uma espécie de escala: o autor a toma como fato comum para, depois, discuti-la em relação à importância que assume em determinados contextos. |
e)
crescimento (linha 7): suas consequências nocivas devem-se ao fenômeno econômico da concentração de renda, que, por sua vez, está fundamentado na busca desenfreada de bens. |
A correta leitura do texto indica que:
a)
A grafia de "a-crescimento" e "a-teísmo" é elemento fundamental para pôr em evidência a nuance de sentido discutida no fragmento. |
b)
O processo oposto ao de crescimento ilimitado, apesar de carregar consigo indesejáveis custos sociais, beneficia o meio ambiente. |
c)
Os 8 Rs mencionados enfatizam a ideia de repetição, mais do que a de mudança em relação aos eventos descritos pelos verbos. |
d)
Uma sociedade melhor surge quando se mantém o ritmo acelerado de trabalho e se diminui o ritmo de consumo. |
e)
Os 8 Rs considerados situam-se em esferas distintas: os novos, na esfera econômica, os tradicionais, na esfera ambiental. |
Considerando o PIB como a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, durante um período, pode-se considerar que o terceiro parágrafo
a)
justifica, por meio da apresentação de coerções so- ciais, a necessidade de se manter a economia em crescimento contínuo e desmesurado. |
b)
mostra como um aparente bom arranjo entre o au- mento do PIB e seus potenciais benefícios pode con- verter-se em redução da experiência de vida humana. |
c)
prega a necessidade de limites, mesura, o que quer dizer interrupção dos investimentos desmedidos em programas assistenciais. |
d)
define PIB, antes da apresentação da sigla, de forma sintética, embora ofereça as essenciais características dos conceitos envolvidos. |
e)
considera a manutenção da estrutura administrativa governamental e os seus custos como elementos que legitimam o constante esforço para o aumento do PIB. |
Assinale a alternativa que contém afirmação inferida do último parágrafo do texto, considerado em seu contexto.
a)
Está em voga uma definição de felicidade oposta à que se propõe. |
b)
O Ocidente moderno encontra-se no círculo infernal descrito. |
c)
São falsas todas as necessidades recentemente criadas pela civilização humana. |
d)
A falta de acesso aos novos produtos gera frustração superior à causada pelo seu consumo desenfreado. |
e)
A edificação de uma sociedade solidária só se dá a partir da alteração dos padrões de consumo de alimentos. |
Considerado o contexto, afirma-se com correção:
a)
As formas conviria (linha 26) e resumiria (linha 29) destacam propostas do autor em meio a afirmações mais categóricas. |
b)
A forma optando (linha 13) corresponde a que opta. |
c)
A construção vem sendo usado nos debates (linhas 5 e 6) é equivalente a está sendo usado nos debates. |
d)
O emprego das formas dedicou (linha 2) e transformou (linha 3) garante a interpretação de que o culto ao crescimento restringiu-se a momento específico no passado. |
e)
Segundo a gramática normativa da língua, é inapropriado flexionar reavaliar em uma construção como "É necessário reavaliarmos nossas práticas". |
Atenção: A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao texto abaixo.
1 Este texto trata da democracia no sentido hoje geralmente aceito do termo: um sistema no qual o acesso legítimo a posições de autoridade pública se dá mediante eleições periódicas, limpas e livres, e os 5 governos governam e se mantêm responsabilizáveis − accountable, para lembrar a rica expressão em inglês − graças a restrições constitucionais. Essa definição faz referência à democracia tal como a conhecemos na realidade histórica, não a 10 doutrinas concernentes a sociedades ideais (utopias); tampouco a regimes populistas ou "movimentistas" que se apresentem como democráticos − fato comum na América Latina; e muito menos às chamadas "democracias populares", termo pelo qual se autodesignavam os 15 regimes totalitários de partido único da URSS e do Leste europeu. Intelectualmente, a democracia procede de duas vertentes principais. Uma, originária do filósofo francês Montesquieu (1689-1755), é a ideia de democracia como 20 um arcabouço ou sistema institucional para a competição política pacífica. Refiro-me aqui à democracia representativa, às vezes também denominada, com certa redundância, democracia de instituições. Nessa perspectiva, a ênfase recai sobre os checks and 25 balances, freios e contrapesos, para usar outra expressão norte-americana. Arquitetados para moderar conflitos entre partidos, entre os três ramos do governo ou entre os estados que compõem a federação, tais freios devem ser também entendidos como parte de uma 30 concepção mais ampla das relações entre Estado e sociedade: o ideal da auto(de)limitação da política como um sistema que não se deixa absorver nem absorve os outros sistemas (econômico, cultural etc.). A segunda vertente provém de outro filósofo, o 35 genebrino Jean-Jaques Rousseau (1712-78): é o ideal da democracia direta, do contrato igualitário de todos com todos, numa espécie de assembleia permanente. O rousseauísmo, como diversos intérpretes têm assinalado, é um plebiscitarismo [...]. Como modelo de 40 organização política, trata-se de um ideal não apenas utópico, mas com forte viés autoritário. [...] Não obstante, a evolução histórica da democracia representativa nos últimos dois séculos assimilou dois valores de procedência rousseauísta: o dos grandes eleitorados 45 nacionais, fruto de sucessivas ampliações do sufrágio, e o da accountability, vale dizer, os deveres do representante em relação ao representado [...].
(Bolívar Lamounier. "Democracia: origens e presença no pensamento brasileiro".
In: Agenda brasileira: temas de uma sociedade em mudança. André Botelho, Lilia
Moritz Schwarcz (orgs.). São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 144-145)
O autor do fragmento transcrito acima,
a)
ao definir o sentido que deve ser atribuído à palavra "democracia", apoia-se em doutrinas filosóficas, e o faz de modo bastante fiel, o que justifica o ponto de vista objetivo que ele adota. |
b)
abordando uma específica forma de governo, atém-se a descrevê-la a partir do que é observável nas nações em que é contemporaneamente adotada, o que lhe permite denunciar as intenções enganosas das ideias utópicas que nelas persistem. |
c)
ao caracterizar o sistema denominado "democracia", vale-se de certas palavras de origem inglesa, o que evidencia não só a precisão dos termos citados, como a admiração que ele tem pelos países em que essa forma de governo se originou. |
d)
demonstrando que a palavra "democracia" é aplicada até para referir regimes que lhe são opostos, não só fixa a concepção de democracia que adota, como julga necessário circunscrever o campo em que, assim entendida, ela se exerce. |
e)
adotando a acepção mais corriqueira de "democracia", demonstra como os traços que definem esse sistema político embasam organizações sociais distintas, em distintos continentes. |
O texto legitima a seguinte assertiva:
a)
Segundo Lamounier, a democracia é a confluência de duas linhas de pensamento, que, pelo peso dos seus intelectuais, são amplamente respeitadas nas relações entre Estados e sociedades. |
b)
O autor Bolívar Lamounier entende que a existência de instituições é quase que inerente à ideia de democracia representativa. |
c)
Na proposta de Montesquieu, a ideia de democracia estabelece que o sistema institucional tanto pode ser um entrave para que a concorrência política se realize sem violência, quanto pode ser uma alavanca para a paz. |
d)
Freios e contrapesos são instrumentos que, pelo fato de assegurarem a convivência harmônica entre partidos, governo e estados, devem ter sua arquitetura reavaliada constantemente. |
e)
O fragmento transcrito demonstra que filósofos, e não cientistas políticos, são os responsáveis pela concepção e pelo estabelecimento das mais eficientes e amplas relações entre Estado e sociedade. |
O segmento que expressa ideia de reciprocidade é:
a)
(linhas de 4 a 7) os governos governam e se mantêm responsabilizáveis [...] graças a restrições constitucionais. |
b)
(linhas 11 e 12) tampouco a regimes populistas ou "movimentistas" que se apresentem como democráticos. |
c)
(linhas 32 e 33) um sistema que não se deixa absorver nem absorve os outros sistemas (econômico, cultural etc.). |
d)
(linhas 38 e 39) O rousseauísmo, como diversos intérpretes têm assinalado, é um plebiscitarismo. |
e)
(linhas 40 e 41) trata-se de um ideal não apenas utópico, mas com forte viés autoritário. |
Considere atentamente o que se tem no parágrafo 4 e as afirmações que seguem.
I. Análise do parágrafo torna plausível a dedução de que o rousseauísmo crê na viabilidade e na superioridade ética de um governo continuamente dependente de legitimação pela massa dos cidadãos.
II. Exame do parágrafo revela ser plausível a hipótese de que o rousseauísmo considera legítimo apenas o que advém da totalidade, perspectiva que praticamente resultaria na negação de espaço para a minoria ou para a dissidência individual.
III. O parágrafo firma a ideia de que a obrigação que o governante tem de prestar contas de suas ações à sociedade é, segundo o rousseauísmo, norma que, por concretizar um ideal de perfeição, deve ser praticada.
Está correto o que se afirma em
a)
I, apenas. |
b)
I e III, apenas. |
c)
II e III, apenas. |
d)
I e II, apenas. |
e)
I, II e III. |
Sobre a expressão "Não obstante", empregada no parágrafo 4, é correto o seguinte comentário:
a)
sinaliza que a assimilação de valores referida é herança negativa, dado o que se afirma anteriormente no parágrafo. |
b)
indica que a citada assimilação de valores contraria a expectativa gerada pela ideia expressa na frase imediatamente anterior. |
c)
pode ser substituída por "Embora", sem necessidade de qualquer outra alteração na frase para que a correção e o sentido originais sejam preservados. |
d)
equivale à expressão "Ainda que" ao exprimir fato não realizado, como se nota em "Ainda que ele possa me ajudar, não dará tempo de entregar os documentos no prazo previsto". |
e)
supõe ideia não explicitada, a que se destaca em "Não obstante a coerência do pensamento de Rousseau ". |
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