A primeira explicitação das normas ortográficas da língua portuguesa, que está próximo de completar 500 anos, apenas sofreu alterações a partir do início do século passado. É admirável haver numerosas gramáticas dos séculos XVI a XIX que atestam a evolução estrutural da língua, enquanto se continua a usar o mesmo conjunto de regras ortográficas por quase 400 anos. [4]
Com efeito, data de 1536 a célebre Grammatica da lingoagem portuguesa, título em cujos cinquenta capítulos Fernão de Oliveira descreve, entre vários outros aspectos da língua de sua época, a articulação dos sons e as formas gráficas que se prestariam a sua representação. É interessante observar que, antes da publicação dessa obra exordial, a língua portuguesa era escrita segundo ortografias de orientação especialmente latinizante, a exemplo do que também se praticava em quase todos os demais vernáculos que já se haviam diferenciado no mundo neolatino. A exceção ao conjunto é o espanhol, que, em 1517, recebeu o primeiro conjunto de regras ortográficas, também baseadas em diretrizes sonoras e etimológicas. [11]
Por outro lado, o trabalho de Oliveira não fez, naturalmente, que se eliminasse de imediato toda oscilação ortográfica dos textos portugueses. As edições d'Os Lusíadas publicadas em 1572, por exemplo, coligem diversas formas variantes, e somente o tempo levaria à decisão em favor de uma delas mediante a consideração de argumentos etimológicos, fonéticos e até mesmo pragmáticos. Em qualquer época, contudo, a ortografia corresponde a uma tentativa imperfeita de registro escrito de um sistema essencialmente dinâmico e complexo: a língua exercida por uma comunidade, caracterizada por seus dialetos e pelos traços sociais de seus falantes. [18]
Somente no início do século XX ocorreu um esforço conjunto entre as Academias de Letras do Brasil e de Portugal, no sentido de se uniformizarem as grafias oficiais nos dois países. Como fruto desse trabalho, vêm a lume, em 1911, os termos da primeira proposta de acordo ortográfico da língua portuguesa; entretanto, sua aplicação foi dificultada por múltiplos fatores, desde o nível acadêmico até o político. Houve tentativas de se retomarem as linhas mestras desse documento em 1915 e em 1931, mas somente em 1943 se avança, no Brasil, em caráter efetivo. A convenção ratificada pela Academia Brasileira de Letras não apenas transforma dígrafos em sinais simples, como também implementa a acentuação distintiva para homófonos homógrafos e o uso de trema – aspectos estes que foram revistos, como se sabe, no último Acordo Ortográfico. [27]
Apesar de envolverem comissões representantes dos mesmos países lusófonos, as decisões posteriores nem sempre foram acatadas bilateralmente. Assim é que, por exemplo, as diretrizes que compõem o Acordo de 1945 não foram aceitas no Brasil, e foi necessária a promulgação de lei específica, em 1971, para reduzir as dissonâncias ortográficas verificadas entre as grafias oficiais vigentes nos dois lados do Atlântico. [32]
Em sua essência, o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 2009, pouco apresenta de efetivamente novo em relação ao disposto no encontro multinacional de países falantes da língua portuguesa ocorrido em 1990. O documento é alvo de críticas particularmente severas – e absolutamente pertinentes – feitas por acadêmicos, as quais se sustentam no argumento de que há um equívoco reducionista e inadmissível no âmago do Acordo. Essa questão compromete o princípio em que se apoia a própria concepção de toda a proposta, e tem motivado discussões e análises que apontam a necessidade de revisão de seus termos. Em bom português: uma língua não é apenas o que se escreve em atendimento a convenções artificiais, mas fundamentalmente um quadro complexo e pluricêntrico que abarca todas as comunidades de fala. [41]
A correferência entre termos NÃO está corretamente identificada em
a)
'uma delas' [linha 14] = 'As edições d'Os Lusíadas publicadas em 1572' [ linha 13]. |
b)
'esse documento' [linha 23] = 'primeira proposta de acordo ortográfico da língua portuguesa' [linha 21]. |
c)
'aspectos estes' [linha 26] = 'a acentuação distintiva para homófonos homógrafos e o uso de trema' [linhas 25 e 26]. |
d)
'o documento' [linha 35] = 'Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa' [linha 33]. |
Nas alternativas abaixo, a pontuação entre cada par de palavras destacadas foi alterada. Assinale aquela em que a proposta de reescrita implica uma incorreção gramatical, independente de mudança de significado de qualquer termo.
a)
'[... ] a acentuação distintiva para homófonos homógrafos e o uso de trema aspectos estes, que foram revistos, como se sabe, no último Acordo Ortográfico.' [linhas 25-27] |
b)
'[... ] pouco apresenta de efetivamente novo em relação ao disposto no encontro multinacional de países falantes da língua portuguesa, ocorrido em 1990.' [linhas 33-35] |
c)
'[...] entre vários outros aspectos da língua de sua época, a articulação dos sons e as formas gráficas, que se prestariam a sua representação.' [linhas 6-7] |
d)
'[... ] a exemplo do que também se praticava em quase todos os demais vernáculos, que já se haviam diferenciado no mundo neolatino.' [linhas 9-10] |
uma assertiva VERDADEIRA segundo o texto:
a)
A preocupação efetiva com a fixação de normas para a escrita da língua portuguesa é bastante recente, remontando apenas ao último século de sua história. |
b)
A ortografia padrão da língua portuguesa deve necessariamente ser reducionista, uma vez que os demais idiomas a ela semelhantes também mostram essa tendência. |
c)
Ainda que sejam imperfeitas para representar a língua falada, as convenções ortográficas são necessárias em qualquer época, como ilustram os primórdios da língua portuguesa. |
d)
O registro escrito corresponde a uma forma inadequada para a representação da língua, pois muitos dialetos não são apropriadamente caracterizados pelo sistema ortográfico. |
A partir do conteúdo do texto e tomando como verdadeiras as informações nele contidas, identifique a alternativa que compreende uma inferência CORRETA:
a)
O texto é incoerente, pois, ao mesmo tempo em que reúne críticas de diversas ordens ao Acordo Ortográfico, respeita integralmente todas as suas determinações. |
b)
É improdutivo questionarmos a validade de acordos ortográficos pelo simples fato de que eles são concebidos pelos membros de Academias nacionais de Letras. |
c)
Em decorrência de se revestirem de força normativa ímpar, as convenções ortográficas devem ser cuidadosamente planejadas e constantemente avaliadas |
d)
A multiplicidade de interesses que cercam a discussão ortográfica não permite que a comunidade de falantes colha resultados positivos da adoção de novas normas de escrita. |
As alternativas seguintes destacam trechos do texto que foram reescritos apenas deslocando-se termos ou expressões. Assinale aquela na qual essa alteração sintática também implica uma mudança de significado.
a)
'[... ] das normas ortográficas da língua portuguesa, que está próximo de completar 500 anos, apenas sofreu alterações a partir do início do século passado.' [linhas 1-2] [... ] das normas ortográficas da língua portuguesa, que está próximo de completar 500 anos, sofreu apenas alterações a partir do início do século passado. |
b)
Em qualquer época, contudo, a ortografia corresponde a uma tentativa imperfeita de registro escrito de um sistema essencialmente dinâmico e complexo [...].' [linhas 15-17] Contudo, a ortografia corresponde, em qualquer época, a uma tentativa imperfeita de registro escrito de um sistema essencialmente dinâmico e complexo [...]. |
c)
Houve tentativas de se retomarem as linhas mestras desse documento em 1915 e em 1931, mas somente em 1943 se avança, no Brasil, em caráter efetivo. [linhas 22-24] Houve tentativas, em 1915 e em 1931, de se retomarem as linhas mestras desse documento, mas somente em 1943 se avança, no Brasil, em caráter efetivo. |
d)
'Em sua essência, o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 2009, pouco apresenta de efetivamente novo em relação ao disposto [...].' [linhas 33-34] O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 2009, pouco apresenta, em sua essência, de efetivamente novo em relação ao disposto [...]. |
Apresentam-se, abaixo, segmentos do texto acompanhados de afirmativas ligadas ao tema principal nele tratado.
I. Em qualquer época, contudo, a ortografia corresponde a uma tentativa imperfeita de registro escrito de um sistema essencialmente dinâmico e complexo: a língua exercida por uma comunidade, caracterizada por seus dialetos e pelos traços sociais de seus falantes. [linhas 15-18]
i. A partir do momento em que passa a ter ortografia oficial, uma língua passa a contar com um conjunto de regras que não apenas permitem seu registro para além da oralidade, como também lhe conferem estabilidade e prestígio.
II. É interessante observar que, antes da publicação dessa obra exordial, a língua portuguesa era escrita segundo ortografias de orientação especialmente latinizante, a exemplo do que também se praticava em quase todos os demais vernáculos que já se haviam diferenciado no mundo neolatino. [linhas 7-10]
ii. A profusão de obras de cunho gramatical dedicadas ao português nos últimos séculos indica a busca incessante de descrição da estrutura e do funcionamento da língua, bem como a necessidade de fixação de normas gramaticais mais cultas.
III. Em sua essência, o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 2009, pouco apresenta de efetivamente novo em relação ao disposto no encontro multinacional de países falantes da língua portuguesa ocorrido em 1990. [linhas 33-35]
iii. Os portugueses têm defendido, através de movimentos populares e de debates acadêmicos bastante inflamados, uma posição conservadora e abertamente contrária à adoção dos termos do Acordo de 2009, por eles considerado ineficaz para sanar os problemas ortográficos existentes.
Nos pares (I, i), (II, ii) e (III, iii), as afirmativas (i, ii, iii), se corretas,
a)
extrapolam o disposto no texto, mas enfraquecem os argumentos principais dos trechos que acompanham, respectivamente. |
b)
extrapolam o disposto no texto e não dialogam diretamente com os argumentos principais dos trechos que acompanham, respectivamente. |
c)
extrapolam o disposto no texto, mas fortalecem os argumentos principais dos trechos que acompanham, respectivamente. |
d)
estão contidas no texto, mas apenas duas delas dialogam diretamente com os argumentos principais dos trechos que acompanham, respectivamente. |
Leia as assertivas apresentadas abaixo.
I. Toda gramática é revolucionária, pois tem como objetivo representar, da melhor maneira, a complexidade da fala da sociedade segundo as regras da modalidade escrita.
II. Fenômenos como a comunicação através de meios eletrônicos frequentemente subvertem as regras ortográficas consuetudinárias.
III. Os gramáticos portugueses usam uma orientação gramatical diferente daquela encontrada no Brasil, haja vista o fato de que a língua nacional é o brasileiro.
É CORRETO afirmar que:
a)
apenas uma das assertivas representa uma inferência que pode ser diretamente feita a partir do texto. |
b)
apenas duas das assertivas representam inferências que podem ser diretamente feitas a partir do texto. |
c)
as três assertivas representam inferências que podem ser diretamente feitas a partir do texto. |
d)
nenhuma das assertivas representa uma inferência que pode ser diretamente feita a partir do texto. |
A função sintática de cada par de expressões destacadas em negrito está INCORRETAMENTE identificada pelo respectivo termo sublinhado em:
a)
que está próximo de completar 500 anos [linhas 1 e 2] = que, em 1517, recebeu o primeiro conjunto de regras ortográficas [linhas 10 e 11] - sujeito |
b)
mas fundamentalmente um quadro complexo e pluricêntrico [linha 40] = admirável [linha 2] - predicativo do sujeito |
c)
a língua exercida por uma comunidade [linha 17] = críticas particularmente severas - e absolutamente pertinentes - feitas por acadêmicos [linhas 35-36] - aposto |
d)
que... a língua portuguesa era escrita segundo ortografias de orientação especialmente latinizante [linhas 7-9] = a necessidade de revisão de seus termos [linhas 38-39] - objeto direto |
É uma inferência CORRETA e que pode ser feita diretamente a partir do disposto no texto:
a)
A impossibilidade de impedir a mudança linguística implica necessariamente o caráter artificial das convenções ortográficas |
b)
Em virtude de se terem processado modificações pouco numerosas na ortografia portuguesa, é potencialmente fácil a leitura de textos medievais impressos. |
c)
Nos períodos imediatamente posteriores à adoção de novas normas ortográficas, as flutuações observadas na escrita são devidas à baixa escolaridade do indivíduo. |
d)
As questões de variação e de mudança linguística são muito mais sérias nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa do que no Brasil ou em Portugal. |
A alternativa em que a alteração do termo em negrito NÃO implica inadequação gramatical nem mudança de significado é:
a)
' da língua portuguesa, que está próximo de completar 500 anos...' [linhas 1-2] / ' da língua portuguesa, que está próxima de completar 500 anos...' |
b)
' entre vários outros aspectos da língua de sua época...' [linha 6] / ' dentre vários outros aspectos da língua de sua época...' |
c)
' toda oscilação ortográfica dos textos portugueses.' [linhas 12 e 13] / ' toda a oscilação ortográfica dos textos portugueses.' |
d)
' e foi necessária a promulgação de lei específica, em 1971...' [linhas 30-31] / ' e foi necessário promulgar lei específica, em 1971...' |
Copyright © Tecnolegis - 2010 - 2024 - Todos os direitos reservados.