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Informações da Prova Questões por Disciplina SEFAZ - Secretaria de Estado de Fazenda - Rio de Janeiro - Auditor Fiscal da Receita Estadual - Auditoria - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2014 - Prova Objetiva 1 - P1

Língua Portuguesa

Ponderando o julgamento

As leis não podem deixar de ressentir-se da fraqueza dos homens. Elas são variáveis como eles.

Algumas, nas grandes nações, foram ditadas pelos poderosos com o fim de esmagar os fracos. Eram tão equívocas que mil intérpretes se apressaram a comentá-las; e, como a maioria só fez sua glosa como quem executa um ofício para ganhar algum dinheiro, acabou o comentário sendo mais obscuro que o texto. A lei transformou-se numa faca de dois gumes que degola tanto o inocente quanto o culpado. Assim, o que devia ser a salva guarda das nações transformou-se tão amiúde em seu flagelo que alguns chegaram a perguntar se a melhor das legislações não consistiria em não se ter nenhuma.

Examinemos a questão. Se vos moverem um processo de que dependa vossa vida, e se de um lado estiverem as compilações de juristas sabidos e prepotentes, e de outro vos apresentarem vinte juízes pouco eruditos mas que, sendo anciãos isentos das paixões que corrompem o coração, estejam acima das necessidades que o aviltam, dizei-me: por quem escolheríeis ser julgados, por aquela turba de palradores orgulhosos, tão interesseiros quanto ininteligíveis, ou pelos vinte ignorantes respeitáveis?

 (VOLTAIRE. O preço da justiça. Trad. Ivone Castilho Benedetti. São Paulo Martins Fontes, 2011. p. 7-8)

1 -

O texto permite inferir adequadamente que, para Voltaire, as leis

a)

elaboradas por anciãos ignorantes demandam o corretivo da sabedoria dos especialistas, quando de sua aplicação num julgamento.

b)

devem ser permanentemente revistas, para que de forma alguma venham a refletir debilidades ou imperfeições que são próprias dos homens.

c)

elaboradas por déspotas poderosos trazem consigo a qualidade do que é inflexível, não permitindo aberturas interpretativas.

d)

refletem a falibilidade humana, podendo ser aplicadas com mais justiça pelos sensatos e experientes do que por arrogantes eruditos.

e)

costumam ser tão obscuras quanto os comentários explicativos, advindo daí a necessidade de serem elaboradas por doutos especialistas.

2 -

Atente para as seguintes afirmações:

I. No primeiro parágrafo, o segmento elas são variáveis expressa uma causa da qual a expressão fraqueza dos homens constitui o efeito.

II. No segundo parágrafo, considera-se que a multiplicidade de interpretações da lei, acionadas por glosadores interesseiros, acaba por comprometer a implementação da justiça.

III. No terceiro parágrafo, a interrogação final de Voltaire pode ser considerada retórica pois implica uma resposta já encaminhada pela pergunta.

Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em

a)

II e III.

b)

I e II.

c)

III.

d)

II.

e)

I.

3 -

Considerando-se o sentido contextualizado, traduz-se adequadamente um segmento em:

a)

turba de palradores orgulhosos (3.º parágrafo) = malta de loquazes desfibrados

b)

ressentir-se da fraqueza dos homens (1.º parágrafo) = impressionar-se com a insipidez humana

c)

transformou-se numa faca de dois gumes (2.º parágrafo) = tornou-se um instrumento ambivalente

d)

transformou-se tão amiúde em seu flagelo (2.º parágrafo) = converteu-se em miudezas punitivas

e)

compilações de juristas sabidos (3.º parágrafo) = seleções de jurisconsultos leigos

4 -

Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:

a)

Voltaire entendia que as leis, em cuja aplicação traduz-se as fraquezas humanas, dependem do espírito de quem as aplica, de vez que está nisso sua faculdade maior.

b)

A Voltaire interessava não apenas reconhecer ou esmiuçar as leis de seu tempo, mas sobretudo avaliá-las considerando a instância de sua aplicação, que deveria ser a mais justa possível.

c)

Esmiuçar ou interpretar as leis eram um empenho de Voltaire, para quem a salvaguarda dos direitos humanos, sobretudo dos mais pobres, deveriam ser invioláveis.

d)

Para quem se ater ao espírito das leis, segundo Voltaire, é preferível fazer justiça com os leigos ponderados do que deixar-lhe nas mãos de juristas empertigados e autoritários.

e)

Sendo função das leis regular a distribuição de justiça, Voltaire não admitia que seu espírito venha a sofrer prejuízo em sua concepção, mormente quando mal aplicada.

5 -

O verbo entre parênteses, para vir a integrar adequadamente a frase, deverá flexionar-se concordando com o elemento sublinhado em:

a)

Ao admitir que a ignorância e a respeitabilidade são qualidades que (poder) alcançar conciliação , Voltaire revela seu lado democrático.

b)

Nunca (ter) faltado a Voltaire, em relação às leis que analisava, disposição para tornar sua aplicação o mais justa possível.

c)

Não se (atribuir) apenas ao pobre rábula os prejuízos que recaem sobre os mais fracos; também os eruditos sejam responsabilizados.

d)

Devido à má aplicação das leis, problema que a muitos juristas (parecer) incontornável, houve quem pensasse em aboli-las por completo.

e)

Voltaire entende que os anciãos, aos quais não (costumar) faltar a experiência dos anos, são mais imunes às paixões que corrompem o coração.

6 -

Para Voltaire, quem se ...... (dispor) a zelar pela justa aplicação das leis, não importando a época em que isso ...... (vir) a ocorrer, ...... (dever), antes de mais nada, considerar a fragilidade daqueles sobre os quais o seu peso ...... (recair).

Para preencherem adequadamente as lacunas da frase acima, os verbos indicados entre parênteses deverão flexionar-se na seguinte sequência:

a)

disponha - viria - deveria - recairia

b)

disponha - viesse - deveria - recaía

c)

dispuser - venha - deverá - recairá

d)

dispuser - virá - deveria - recaia

e)

dispusesse - vinha - devesse - recaísse

Dois fragmentos sobre historia

A História não é uma ciência. É uma ficção. Vou mais longe: assim como ocorre na ficção, há na História uma tentativa de reconstruir a realidade por meio de um processo de seleção de materiais. Os historiadores apresentam uma realidade cronológica, linear, lógica. Mas a verdade é que se trata de uma montagem, fundada sobre um ponto de vista. A História é escrita sob um prisma masculino. A História é escrita na perspectiva dos vencedores. Se fosse feita pelas mulheres ou pelos vencidos, seria outra. Enfim, há uma História dos que têm voz e uma outra, não contada, dos que não a têm. (...)

Que diabo é a verdade histórica? Só algo que foi desenhado, e depois esse desenho estabelecido foi cercado de escuro para que a única imagem que pudesse ser vista fosse a que se quer mostrar como verdade. Nossa tarefa é tirar todo o escuro, saber o que é que ficou sem ser mostrado.

(Adaptado de: SARAMAGO, José. As palavras de Saramago. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 254)

7 -

O autor propõe que a História deva se constituir a partir de um empenho coletivo em:

a)

Se fosse feita pelas mulheres (...) seria outra.

b)

A História é escrita sob um prisma masculino.

c)

(...) se trata de uma montagem, fundada sobre um ponto de vista.

d)

(...) há uma História dos que não têm voz.

e)

Nossa tarefa é tirar todo o escuro.

8 -

Com base no que afirma o texto, deve-se depreender que a História, vista como um discurso produzido por determinados sujeitos,

a)

é uma narrativa que explicita com clareza os mecanismos de poder aos quais a maioria da população está sendo submetida.

b)

somente traduz o ponto de vista de quem é capaz de reconhecer, porque os sofreu, os processos políticos e sociais mais adversos.

c)

traduz tão somente o ponto de vista interessado e tendencioso de quem a narra, o que a dota de um caráter eminentemente parcial.

d)

somente será legítima na medida em que representar a média das opiniões e valores dos indivíduos poderosos que a desenham.

e)

é uma narrativa destituída de qualquer valor documental, pois a rigor não representa a perspectiva de nenhum dos setores sociais.

9 -

Ao se defrontar com a História, Saramago submete a História a uma rigorosa análise, considerando a História como um discurso, atribuindo à História certo caráter ficcional, que compromete a transparência da História .

Evitam-se as viciosas repetições do texto acima substituindo-se os elementos sublinhados, na ordem dada, por:

a)

submete-lhe -  a considerando -  atribuindo-a  - compromete-lhe a transparência

b)

submete-a   - considerando-a   - atribuindo-lhe -   lhe compromete a transparência

c)

lhe submete   -  considerando-a   -  atribuindo-lhe -   compromete-lhe a transparência

d)

a submete   -  considerando-lhe    -  atribuindo-a    -  lhe compromete a transparência

e)

submete-a    -  a considerando    -  atribuindo-na    -  lhe compromete a transparência

10 -

É preciso corrigir, por apresentar irregularidades gramaticais e/ou defeito estrutural, a redação da seguinte frase:

a)

Para que não haja senão um desenho parcial da História, é preciso iluminar aquilo que foi deixado à sombra, e assim surgirá a imagem integral de tudo o que a constituiu.

b)

Saramago apresenta em seu texto uma visão bastante rigorosa da História, ao considerá-la um discurso que, nada tendo de científico, identifica-se com o da ficção literária.

c)

O autor do texto deixa claro que a voz das camadas sociais menos prestigiadas jamais se representa no discurso da História, organizado na perspectiva dos vencedores.

d)

Ao se posicionar diante da História, quando então Saramago julga-a um discurso em cuja carga ficcional se assemelha a ficção, afastando-a assim do estatuto de uma ciência.

e)

Fossem as mulheres ou os vencidos os encarregados de narrar a História, esta certamente não se apresentaria na perspectiva pela qual a narram os homens e os vencedores.

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