O fragmento a seguir será o texto base para se responder(em) a(s) questão(ões) a seguir desta prova. Ele compõe a obra “O Processo”, escrita pelo tcheco Franz Kafka (em tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 228- 230.). Autores e estudiosos têm denominado o excerto como sendo uma parábola, intitulando-a “Diante da lei”.
1 Diante da lei está postado um guarda. Até ele se chega um homem do campo que lhe pede que o deixe entrar na lei. Mas o sentinela lhe diz que nesse momento não é permitido entrar. O homem reflete e depois pergunta se 5 mais tarde lhe será permitido entrar. “É possível”, diz o guarda, “mas agora não.” A grande porta que dá para a lei está aberta de par em par como sempre, e o guarda se põe de lado; então o homem, inclinando-se para diante, olha para o interior através da porta. Quando o guarda 10 percebe isso desata a rir e diz: “Se tanto te atrai entrar, procura fazê-lo não obstante a minha proibição. Mas guarda bem isto: eu sou poderoso e contudo não sou mais do que o guarda mais inferior; em cada uma das salas existem outros sentinelas, um mais poderoso do 15 que o outro. Eu não posso suportar já sequer o olhar do terceiro”. O camponês não esperara tais dificuldades; parece-lhe que a lei tem de ser acessível sempre a todos, mas agora que examina com maior atenção o guarda, envolto em seu abrigo de peles, que tem grande nariz 20 pontiagudo e barba longa, delgada e negra à moda dos tártaros, decide que é melhor esperar até que lhe deem permissão para entrar. O guarda dá-lhe então um escabelo e o faz sentar-se a um lado, frente à porta. Ali passa o homem, sentado, dias e anos. Faz infinitas 25 tentativas para entrar na lei e cansa o sentinela com suas súplicas. O sentinela às vezes o submete a pequenos interrogatórios, pergunta-lhe por sua pátria e por muitas outras coisas, mas no fundo não lhe interessam especialmente as respostas. Pergunta como o faria um 30 grande senhor; e sempre termina por manifestar-lhe que ainda não pode entrar. O homem, que para realizar aquela viagem teve de se abastecer de muitas coisas, emprega tudo, por mais valioso que seja, para subornar o porteiro. Este aceita tudo, mas diz: “Aceito-o para que não 35 julgues que te descuidaste de alguma coisa”. Durante muitos anos aquele homem não afasta os seus olhos do sentinela. Esquece-se dos outros sentinelas e chega a parecer-lhe que este primeiro é o único obstáculo que lhe impede entrar na lei. Nos primeiros anos maldiz a gritos 40 sua funesta sorte, mas depois, quando se torna velho, limita-se a grunhir entre dentes. E, como nos longos anos que passou estudando o sentinela, chega a conhecer também as pulgas de seu abrigo de pele, tornado outra vez à infância, roga até a essas pulgas para que o 45 auxiliem a quebrar a resistência do guarda. Por fim vê que a luz que seus olhos percebem é mais fraca e não consegue distinguir se realmente se fez noite ao redor dele ou se simplesmente são os olhos que o enganam. Mas agora, em meio às trevas, percebe um raio de luz 50 inextinguível através da porta. Resta-lhe pouca vida. Antes de morrer concentram-se em sua mente todas as lembranças e pensamentos daquele tempo em uma pergunta que até esse momento não tinha ainda formulado ao sentinela. Como seu corpo já rígido não se 55 pode mover, faz um sinal ao guarda para que se aproxime. Este precisa inclinar-se profundamente pois a diferença de dimensões entre um e outro chegou a fazerse muito grande em virtude do empequenecimento do homem. “Que é o que ainda queres saber?”, pergunta o 60 sentinela. “És incontestável”. “Dize-me”, diz o homem, “se todos desejam entrar na lei, como se explica que em tantos anos ninguém, além de mim, tenha pretendido fazê-lo?” O guarda percebe que o homem está já às portas da morte, de modo que para alcançar o seu ouvido 65 moribundo ruge sobre ele: “Ninguém senão tu podia entrar aqui, pois esta entrada estava destinada apenas para ti. Agora eu me vou e a fecho”.
Tomando como referência a figura do porteiro, analise as assertivas a seguir e marque a alternativa correta:
I. Ele nega, em caráter definitivo, o acesso do homem ao campo da Lei;
II. Ele adia constantemente o acesso do camponês ao conhecimento encerrado na Lei;
III. Ele oferece explicitamente a ignorância ao camponês, como forma de lhe preservar a vida;
IV. Ele é venal, pois admite receber presentes do camponês, embora continue lhe barrando a entrada;
V. Ele se contradiz ao dizer que não podia franquear a entrada ao camponês e, noutro momento, afirma que a entrada estava destinada apenas àquele homem;
a)
Apenas a II está correta. |
b)
Apenas a IV está correta. |
c)
Apenas a II e a III estão corretas. |
d)
Apenas a I, a III, a IV e a V estão corretas. |
Releia o fragmento final da parábola: “Ninguém senão tu podia entrar aqui, pois esta entrada estava destinada apenas para ti. Agora eu me vou e a fecho.” (linhas 65 a 67).
Dentre as alternativas a seguir, qual delas NÃO se relaciona a um dos sentidos possíveis do texto?
a)
O homem foi alcançado pela lei, no sentido restrito desta de se estabelecer uma ordem e de se obedecer a ela. |
b)
O homem deve preservar-se e submeter-se a uma intimidação constante ao longo de sua vida terrena, como lhe julga a lei. |
c)
O empecilho enfrentado pelo homem frente à lei pode ser ele próprio, que se resigna e se contenta com a ignorância, conservando seus medos. |
d)
O homem, já no fim de sua vida, faz a pergunta libertadora, embora já estivesse efetivamente livre ao longo de todos os anos, permanecendo sentado à porta da lei voluntariamente. |
Considerando a forma e a linguagem do gênero a que pertence o texto lido, marque a alternativa que explicite a tipologia textual que o caracteriza:
a)
Obedece à estrutura convencional da dissertação argumentativa, cujo intuito é discorrer sobre um dado assunto e, senão também persuadir o leitor, transmitirlhe algum conhecimento. |
b)
Seu intuito preponderante é descrever a experiência humana de séculos, por isso recebendo o mérito de ser lido e admirado por representar interesse de cunho social e de ter validade ainda nos dias atuais. |
c)
Trata-se de uma narrativa de caráter essencialmente argumentativo, cujo objetivo é imprimir concepções sobre a natureza física, a organização e o funcionamento da sociedade, regras de conduta e comportamento. |
d)
Por ser de caráter preditivo, contempla as etapas da vida do homem, como nascimento, velhice e morte, retratando formas de se agir perante o ódio, a desconfiança, a amizade, a rivalidade e contrastando bem e mal, êxito e fracasso, vitória e derrota. |
Reconhece-se que não existem sinônimos perfeitos. Contudo, algum tipo de equivalência semântica deve haver entre palavras ou expressões, principalmente quando se trata de traduções de obras. Nesse sentido, compare os grupos de sentenças abaixo e os termos em destaque e marque a alternativa em que não há equivalência semântica entre as diferentes versões do texto lido, uma de Torrieri Guimarães e outra de Modesto Carone (Companhia das Letras, 2005), respectivamente:
a)
“O guarda dá-lhe então um escabelo (...)”. “O porteiro lhe dá um banquinho (...)”. |
b)
“És incontestável.” “Você é insaciável.” |
c)
“O guarda percebe que o homem está já às portas da morte (...)”. “O porteiro percebe que o homem já está no fim (...)”. |
d)
“Nos primeiros anos maldiz a gritos sua funesta sorte (...)”. “Nos primeiros anos, amaldiçoa em voz alta o acaso infeliz (...)”. |
Com base nos fragmentos abaixo, analise o valor semântico do conector MAS (que, além da ideia de oposição, de contraste, pode exprimir restrição, retificação, atenuação ou adição) para assinalar a alternativa CORRETA:
I. “Diante da lei está postado um guarda. Até ele se chega um homem do campo que lhe pede que o deixe entrar na lei. Mas a sentinela lhe diz que nesse momento não é permitido entrar”. (linhas 01 a 04);
II. “O homem reflete e depois pergunta se mais tarde lhe será permitido entrar. É possível”, diz o guarda, “mas agora não”. (linhas 04 a 06);
III. “O camponês não esperara tais dificuldades; parece-lhe que a lei tem de ser acessível sempre a todos, mas agora que examina com maior atenção o guarda, envolto em seu abrigo de peles, que tem grande nariz pontiagudo e barba longa, delgada e negra à moda dos tártaros, decide que é melhor esperar até que lhe deem permissão para entrar.” (linhas 16 a 22);
IV. “O homem, que para realizar aquela viagem teve de se abastecer de muitas coisas, emprega tudo, por mais valioso que seja, para subornar o porteiro. Este aceita tudo, mas diz: “Aceito-o para que não julgues que te descuidaste de alguma coisa”. (linhas 31 a 35);
a)
Contraste, contraste, restrição, retificação, |
b)
Adição, contraste, restrição, contraste. |
c)
Contraste, contraste, retificação, restrição. |
d)
Restrição, restrição, retificação, retificação. |
Em: “Se tanto te atrai entrar, (linha 10) procura fazê-lo não obstante a minha proibição.” (linha 11), temos:
Oração 1 – condição para a realização;
Oração 2 – resultado da condição enunciada;
Na noção de condicionalidade, diz-se que a construção apoiase em uma hipótese. Pode-se considerar, no excerto acima, do ponto de vista lógico-semântico, que a relação que se instaura entre o conteúdo da condicionante (subordinada, oração 1) e o conteúdo da condicionada (principal, oração 2) é um resultado que se resolve na oração 2, sendo, portanto, uma relação do tipo:
a)
Realização / fato, pois, dada a realização / factualidade da oração condicionante, segue-se, necessariamente, a realização / a factualidade da oração condicionada. |
b)
Não realização / não fato, pois, dada a não realização da oração condicionante, segue-se, necessariamente, a não realização da oração condicionada. |
c)
Realização eventual / fato eventual, dada a potencialidade da oração condicionante, segue-se a eventualidade da oração condicionada. |
d)
Realização / fato da primeira e não realização da segunda, pois, dada a realização da oração que exprime a condição (subordinada), segue-se a não realização da oração que exprime o condicionado (principal). |
Considere o período a seguir: “A grande porta que dá para a lei está aberta de par em par como sempre, e o guarda se põe de lado; então o homem, inclinando-se para diante, olha para o interior através da porta.” (linhas 6 a 9). Nesse trecho, a palavra em destaque estabelece relação de:
a)
Causalidade entre dois argumentos. |
b)
Conclusão entre dois segmentos do texto. |
c)
Proximidade entre um ocorrido e sua objeção. |
d)
Temporalidade entre duas sequências factuais. |
Leia os itens a seguir:
I. “Eu não posso suportar já sequer o olhar do terceiro”;
II. “Esquece-se dos outros sentinelas e chega a parecer-lhe que este primeiro é o único obstáculo (...);
III. “Mas agora, em meio às trevas, percebe um raio de luz inextinguível através da porta.”;
IV. “Ninguém senão tu podia entrar aqui, pois esta entrada estava destinada apenas para ti.”;
De modo que se mantenham os sentidos e que se atendam as normas propostas pela gramática normativa da língua portuguesa, assinale a alternativa que propõe a reescrita igualmente adequada para uma das sentenças acima:
a)
Sequer posso suportar o olhar do terceiro (em lugar de I). |
b)
Mas agora, em meio a trevas, percebe um raio de luz inextinguível através da porta (em lugar de III). |
c)
Esquece os outros sentinelas e lhe chega a parecer que este primeiro é o único obstáculo (em lugar de II). |
d)
Ninguém senão tu podias entrar aqui, pois esta entrada estava destinada apenas para ti (em lugar de IV). |
Considere o trecho seguinte: "Nos primeiros anos maldiz a gritos sua funesta sorte, mas depois, quando se torna velho, limita-se a grunhir entre dentes. E, como nos longos anos que passou estudando o sentinela, chega a conhecer também as pulgas de seu abrigo de pele, tornado outra vez à infância, roga até a essas pulgas para que o auxiliem a quebrar a resistência do guarda. Por fim vê que a luz que seus olhos percebem é mais fraca e não consegue distinguir se realmente se fez noite ao redor dele ou se simplesmente são os olhos que o enganam." (linhas 39 a 48). Dentre as alternativas a seguir, indique aquela que apresente pontuação igualmente correta para esse mesmo fragmento, sem alterar-lhe o sentido ou a função sintática de seus constituintes:
a)
Nos primeiros anos, maldiz a gritos sua funesta sorte. Mas, depois, quando se torna velho, limita-se a grunhir entre dentes. E, como nos longos anos que passou estudando, o sentinela chega a conhecer também as pulgas de seu abrigo de pele. Tornado outra vez à infância, roga até a essas pulgas para que o auxiliem a quebrar a resistência do guarda. Por fim, vê que a luz que seus olhos percebem é mais fraca e não consegue distinguir se realmente se fez noite ao redor dele ou se, simplesmente, são os olhos que o enganam. |
b)
Nos primeiros anos maldiz a gritos sua funesta sorte, mas, depois, quando se torna velho, limita-se a grunhir entre dentes. E, como nos longos anos que passou estudando o sentinela chega a conhecer também as pulgas de seu abrigo de pele tornado outra vez à infância, roga até a essas pulgas para que o auxiliem a quebrar a resistência do guarda. Por fim, vê que a luz, que seus olhos percebem, é mais fraca e não consegue distinguir se realmente se fez noite ao redor dele ou se simplesmente são os olhos que o enganam. |
c)
Nos primeiros anos maldiz a gritos sua funesta sorte, mas depois, quando se torna velho, limita-se a grunhir entre dentes. E, como nos longos anos que passou estudando o sentinela, chega a conhecer também as pulgas de seu abrigo de pele, tornado outra vez à infância, roga até a essas pulgas para que o auxiliem a quebrar a resistência do guarda. Por fim vê, que a luz que seus olhos percebem é mais fraca, e não consegue distinguir se realmente se fez noite ao redor dele ou se simplesmente são os olhos que o enganam. |
d)
Nos primeiros anos, maldiz a gritos sua funesta sorte. Mas, depois, quando se torna velho, limita-se a grunhir entre dentes. E, como nos longos anos que passou estudando o sentinela chega a conhecer também as pulgas de seu abrigo de pele, tornado outra vez à infância, roga até a essas pulgas para que o auxiliem a quebrar a resistência do guarda. Por fim, vê que a luz que seus olhos percebem é mais fraca e não consegue distinguir se realmente se fez noite ao redor dele ou se, simplesmente, são os olhos que o enganam." |
Assinale a alternativa em que a partícula “se” exerce função sintática idêntica à do trecho “O homem reflete e depois pergunta se mais tarde lhe será permitido entrar.”:
a)
“Se tanto te atrai entrar, procura fazê-lo não obstante a minha proibição.” (linhas 10 e 11) |
b)
“A grande porta que dá para a lei está aberta de par em par como sempre, e o guarda se põe de lado; (...)” (linhas 6 a 8) |
c)
“(...) e não consegue distinguir se realmente se fez noite ao redor dele ou se simplesmente são os olhos que o enganam.” (linhas 46 a 48) |
d)
“O homem, que para realizar aquela viagem teve de se abastecer de muitas coisas, emprega tudo (...) para subornar o porteiro.” (linhas 31 a 34) |
Copyright © Tecnolegis - 2010 - 2024 - Todos os direitos reservados.