Cristiane Kampf
A visão antropocentrista, desde há muito arraigada na cultura ocidental, entende o homem como um ser superior aos demais animais por possuir uma linguagem e capacidade de raciocínio mais desenvolvidas que outros seres vivos. Características como a solidariedade, a bondade, a empatia e a capacidade de aprender são – nesta concepção que coloca o homem no centro do universo – comumente classificadas como específicas da espécie humana. Em consonância com essas ideias, está a crença de que somente aos homens caberia o direito a ter direitos. No entanto, nos últimos anos surgem polêmicas sobre a possibilidade de animais também terem direitos. [...]
O modo de entender a relação do homem com o universo e, especialmente, dos homens com os animais vem passando por grandes mudanças em todo o mundo, principalmente a partir da década de 1970. Segundo Guilherme Camargo, advogado especialista em meio ambiente e membro da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Campinas, a discussão sobre o direito dos animais remonta à Idade Média e, até o século XX, permanecia apenas no campo filosófico.
Para o advogado, a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada pela Unesco em 1978, foi um grande marco na luta pela causa animal, a qual, em sua opinião, tem relação direta com os movimentos de minorias que tiveram início nos anos 1960. “Isso ocorre – diz ele – justamente pelo foco na luta pela proteção e pelos direitos de seres vivos que não são capazes de defesa própria e de exercer a autotutela”. A aproximação entre homens e animais pode ser vislumbrada quando se nota que a declaração de 1978 guarda semelhanças com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada trinta anos antes, em 1948, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas. Há, em ambos os textos, artigos que versam sobre o direito à vida, à liberdade, à segurança pessoal e à dignidade.
[...]
As leis de proteção animal existem, mas raramente são aplicadas
Militantes da causa animal e administradoras da ONG de proteção animal Clube dos Vira-Latas - que abriga aproximadamente quinhentos cães, muitos vítimas de maus-tratos e abandono –, as advogadas Marina Antzuk e Silvia Faller são categóricas: “Animais têm direitos, sentem dor, medo, angústia, alegria, fome, saudades, não são lixo e muito menos objetos descartáveis”. Tanto Antzuk como Faller enfatizam que a vida animal deve ser protegida a qualquer custo e que “nós, seres humanos, somos a voz daqueles que não podem falar”. Segundo elas, apesar das muitas barbaridades que ainda são praticadas em todo o mundo, o assunto dos direitos animais parece estar ganhando cada vez mais espaço na mídia, o que poderia indicar que a sociedade está evoluindo e “deixando o antropocentrismo de lado”, fato que necessariamente levaria a um futuro mais respeitoso em relação à vida dos animais não-humanos.
Apesar das leis de proteção animal existirem e das punições estarem elencadas claramente nelas, existem entraves no momento da aplicação da pena, quer seja porque são brandas demais ou, em certos casos, por total desconhecimento da própria autoridade no cumprimento das leis. “O cerne da luta por delegacias especializadas para a fase preambular, que é justamente o inquérito, reside exatamente na necessidade de um maior conhecimento e especialização no tema do direito animal por parte das autoridades. [...]”
A primeira delegacia de proteção animal do Brasil
Localizada em Campinas (São Paulo), a primeira delegacia especializada no combate de crimes contra animais do país foi criada há dois anos pelo Conselho Municipal de Proteção e Defesa dos Animais do município. A delegacia funcionava inicialmente dentro do 4º Distrito Policial e contava somente com a delegada e um investigador. Atualmente, conta com mais dois investigadores e dois escrivães, e, segundo Flávio Lamas, presidente do conselho municipal e idealizador da delegacia, recebe uma média de oitocentas denúncias de maus-tratos por ano – para ele, um “número fantástico”.
O objetivo do conselho é criar políticas públicas para a defesa dos direitos dos animais e promover a castração, a guarda responsável e a educação infantil sobre o tema. A delegacia, por sua vez, existe para coibir os maus-tratos e o abandono, além de assegurar o cumprimento das leis que já existem e lutar por uma punição mais severa no caso de não-observância das leis. “Nós achamos muito branda a punição prevista no artigo 32 da Lei 9605, apesar de já considerarmos um avanço o fato de que uma pessoa que seja condenada por maus-tratos perca a primariedade. Mas só isso não satisfaz: é preciso uma punição mais efetiva, de cadeia, para quem cometer crimes contra animais. [...]”
Lamas informa que, atualmente, há delegacias de proteção animal em Ribeirão Preto, Sorocaba, Jundiaí e outras cidades do interior paulista, ou seja, vários municípios do estado estão se espelhando na experiência pioneira de Campinas. “Até mesmo outros estados, como o Rio Grande do Sul, também já estão tentando criar as suas. O secretário de segurança pública do Rio Grande do Sul nos procurou para saber como estamos fazendo aqui, para que eles possam levar o modelo da delegacia pra lá. Então, veja que a iniciativa já partiu do governo do estado e não de um delegado – eles querem montar delegacias em todas as cidades que sigam certos critérios de volume de população”, comemora Lamas. [...]
Assim como os outros entrevistados, Lamas também identifica uma nova tendência na maneira dos homens tratarem os animais. “Há algumas décadas, os animais eram propriedade dos humanos e dificilmente alguém iria discordar disso. Hoje, os animais são parceiros dos humanos no planeta e não bens semoventes, como consta na legislação. Esta é a nova postura, a qual certamente vai passar a influenciar cada vez mais o direito tradicional. Não se diz mais, por exemplo, que alguém é dono de um cachorro. Agora a pessoa é o tutor do cachorro, ou seja, o cão ou gato está sob os cuidados dela e não é sua propriedade”, finaliza.
Disponível em <http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=73&id=913>.
Acesso em 11 de abril de 2012. (Texto adaptado)
Assinale a alternativa que expressa as ideias contidas no texto.
a)
O antropocentrismo, doutrina arraigada na cultura ocidental, que considera o homem um ser superior com características próprias, tais como a bondade e a empatia, vem passando por transformações. |
b)
A primeira delegacia especializada no combate a crimes contra animais foi criada em Campinas e busca, entre outros, criar políticas públicas para a defesa dos animais, além da castração, da guarda responsável e da conscientização infantil. |
c)
A Declaração Universal dos Direitos Humanos deu origem, na íntegra, à Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada em 1978 pela Unesco. |
d)
O espaço dado às causas animais na mídia é uma comprovação, segundo Marina Antzuk e Silvia Faller, de que a sociedade já evoluiu, apesar das inúmeras atrocidades ainda cometidas. |
e)
O artigo 32 da Lei 9605 prevê punição efetiva, até mesmo cadeia, para quem cometer crimes contra animais. |
Considerando as assertivas abaixo, assinale a alternativa CORRETA.
a)
Em “Apesar das leis de proteção animal existirem e das punições estarem elencadas claramente nelas, existem entraves no momento da aplicação da pena [...]” (quinto parágrafo), o conectivo em destaque denota ideia de oposição. |
b)
Em “A delegacia funcionava inicialmente dentro do 4º Distrito Policial e contava somente com a delegada e um investigador.” (sexto parágrafo), o emprego do pretérito imperfeito do indicativo remete a um fato duvidoso e acabado, posterior ao momento da fala. |
c)
Em “Esta é a nova postura, a qual certamente vai passar a influenciar cada vez mais o direito tradicional.” (nono parágrafo), o pronome em destaque retoma a ideia dos animais serem propriedades dos humanos. |
d)
Em “‘Mas só isso não satisfaz: é preciso uma punição mais efetiva, de cadeia, para quem cometer crimes contra animais.’”(sétimo parágrafo), o emprego dos dois pontos poderia ser substituído sem alteração de sentido por “entretanto”. |
e)
Em “‘Até mesmo outros estados, como o Rio Grande do Sul, também já estão tentando criar as suas [...]’”(oitavo parágrafo), o conectivo em destaque expressa ideia de oposição em relação ao que foi citado anteriormente no texto. |
Assinale a alternativa em que a palavra em destaque NÃO está adequadamente interpretada de acordo com o seu sentido no texto.
a)
“‘Agora a pessoa é o tutor do cachorro, ou seja, o cão ou gato está sob os cuidados dela e não é sua propriedade’, finaliza.”(nono parágrafo) = PROTETOR |
b)
“[...] a discussão sobre o direito dos animais remonta à Idade Média e, até o século XX, permanecia apenas no campo filosófico.” (segundo parágrafo) = RELEMBRA |
c)
“‘O cerne da luta por delegacias especializadas para a fase preambular, que é justamente o inquérito [...]’” (quinto parágrafo) = INTRODUTÓRIA |
d)
“as advogadas Marina Antzuk e Silvia Faller são categóricas: ‘Animais têm direitos, sentem dor, medo, [...]’”. (quarto parágrafo) = CLARAS |
e)
“ Tanto Antzuk como Faller enfatizam que a vida animal deve ser protegida a qualquer custo [...]” (quarto parágrafo) = SALIENTAM |
Minha vida meu amor
Olha minha vida meu amor Há muito não és mais meu Toda a loucura que fiz Foi por você Que nunca me deu valor (...) Por tua causa João Eu morro pelada (...) No fundo do poço Amor desculpe algum erro E a falta de vírgula
Dalton Trevisan, Minha vida meu amor. Revista Língua, ano 7, jan. 2011. (texto adaptado)
Considerando a linguagem utilizada no texto Minha vida meu amor, podemos afirmar que:
a)
A falta do uso da vírgula nos vocativos você (linha 4), João (linha 6) e amor (linha 9) é uma inadequação à variedade padrão escrita. |
b)
Sem pontuação, a linha 1 é ambígua, pois minha vida poderia funcionar como aposto ou como complemento do verbo olhar. |
c)
Os verbos no imperativo olha (linha 1) e desculpe (linha 9) fazem concordância com o mesmo pronome gramatical. |
d)
Percebe-se, nas linhas 9 e 10, que o texto foi redigido de acordo com a variedade padrão da língua. |
e)
No texto, mescla-se o uso dos pronomes tu e você, como é possível perceber nas linhas 2 e 4. |
Considere as afirmativas abaixo acerca do uso dos pronomes tu e você no infográfico.
I. O uso do tu é mais frequente nas regiões Norte e Nordeste. Nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, prevalece o uso do você. Na região Sul, há o uso equilibrado.
II. Uma das explicações para uso mais frequente do pronome você, originário de vossa mercê, é que esse pronome se desenvolveu nos estados que mais cresceram e espalharam migrantes.
III. Os dados demonstram que, na Região Norte e no Meio- Norte, usa-se preferencialmente o pronome você, refletindo, dessa forma, a variedade culta da língua.
IV. Acredita-se que, embora em São Paulo 95% da população utilizem o pronome você, na Baixada Santista, predomina o uso do pronome tu em razão da chegada dos migrantes nordestinos ao Porto de Santos.
Assinale a alternativa CORRETA:
a)
Apenas as alternativas I e II estão corretas. |
b)
Apenas as alternativas II e III estão corretas. |
c)
Apenas as alternativas III e IV estão corretas. |
d)
Apenas as alternativas I, II e IV estão corretas. |
e)
Apenas as alternativas I, III e IV estão corretas. |
A “netiqueta”
Como se comportar corretamente no mundo virtual
- Maiúsculas: textos em maiúsculas (CAPS LOCK ativado), na maioria dos casos, dão a entender que você está gritando. Se quiser destacar algo, sublinhe ou coloque entre aspas. Se o programa utilizado na comunicação permitir, use itálico ou negrito, mas sempre de forma moderada para não poluir o texto.
- Erros de grafia: em conversas informais é normal que a norma culta da língua seja posta de lado. O que não quer dizer que se possa escrever de qualquer jeito. Atenção para os erros que podem mudar o significado do que quis dizer, como usar “mais” em vez de “mas”, “e” em vez de “é”, “de” em vez de “dê” e assim por diante.
- Pontuação: por mais informal que seja, o interlocutor pode não conseguir acompanhar o fluxo de pensamento do redator. Daí a necessidade de pausas. Por isso atenção à pontuação e à divisão de parágrafos. [...]
MURANO, Edgard. O texto na era digital. Revista Língua, ano 5, fev. de 2011 (texto adaptado)
As “netiquetas” apresentadas tratam do comportamento dos usuários em relação à produção de textos no mundo virtual. Sobre os usos recomendados pelo texto, podemos afirmar que:
a)
as letras maiúsculas têm um significado específico no mundo virtual e só podem ser usadas para destacar passagens do texto, quando o programa não possuir outro recurso. |
b)
em ambientes virtuais mais informais, a exigência com a correta ortografia e com a pontuação adequada é dispensável, ainda que algumas trocas de palavras possam acarretar mudança de significado. |
c)
a pontuação e a divisão de parágrafos são consideradas acessórias para que o leitor acompanhe o pensamento do autor, uma vez que marcam as pausas na leitura. |
d)
um bom usuário de internet deve se preocupar com a poluição visual do texto, preferindo usar itálico e negrito em vez de maiúsculas. |
e)
as palavras ‘mais’, ‘mas’, ‘e’, ‘é’, ‘de’ e ‘dê’ estão grafadas em desacordo com as normas ortográficas vigentes. |
Disponível em
a)
as noções de barbarismo e idiotismo surpreendem o receptor ao apresentarem-se com o sentido de convencê-lo de alguma coisa por meio de uma ordem. |
b)
as noções de flexão do substantivo e a ideia do imperativo constituemse pela expressividade de sentimentos, prevalecendo a ideia de convencimento. |
c)
as noções de adjetivo, telegrama e verbo apresentam-se a partir do ponto de vista do emissor e são constituídas pela subjetividade e recursos sonoros. |
d)
as noções de sujeito e de objeto direto constituem-se de impessoalidade e de elementos da realidade objetiva. As ideias, neste caso, estão centradas no receptor. |
e)
as noções de classes de palavras (substantivo, adjetivo e verbo) apresentam-se na linguagem denotativa, centradas no receptor, além disso, apresentam-se como dados da realidade objetiva. |
Em produções escritas é comum o uso excessivo do elemento “que”. Substituí-lo por substantivos e orações reduzidas pode ser uma alternativa no sentido de eliminar seu uso exagerado.
Considerando o enunciado “A coordenadora exigiu que adiasse o encontro até que as infrações que o funcionário cometeu fossem solucionadas.”, assinale a alternativa em que a substituição do “que” por substantivos e/ou orações reduzidas pode deixar o texto mais leve, sem alterar o sentido.
a)
A coordenadora exigiu o adiamento do encontro com o funcionário até as infrações serem solucionadas. |
b)
A coordenadora exigiu o adiamento do encontro até a solução das infrações cometidas pelo funcionário. |
c)
A coordenadora exigiu o adiamento do encontro com o funcionário até as infrações serem solucionadas por ele. |
d)
A coordenadora exigiu o adiamento do encontro até as infrações cometidas serem solucionadas pelo funcionário. |
e)
A coordenadora exigiu o adiamento do encontro até o funcionário solucionar as infrações cometidas por ele. |
Leia o fragmento de texto abaixo para responder à questão seguinte.
Linha reta e linha curva
Feliz Azevedo! À hora em que começa essa narrativa é ele um marido feliz, inteiramente feliz. Casado de fresco, possuindo por mulher a mais formosa dama da sociedade, e a melhor alma que ainda se encarnou ao sol da América, dono de algumas propriedades bem situadas e perfeitamente rendosas, acatado, querido, descansado, tal é o nosso Azevedo, a quem por cúmulo de ventura coroam os mais belos vinte e seis anos. Deu-lhe a fortuna um emprego suave: não fazer nada. Possui um diploma de bacharel em direito; mas esse diploma nunca lhe serviu; existe guardado no fundo da lata clássica em que o trouxe da faculdade de São Paulo. De quando em quando Azevedo faz uma visita ao diploma, aliás ganho legitimamente, mas é para não o ver mais senão daí a longo tempo. Não é um diploma, é uma relíquia.
ASSIS, Machado de. Contos fluminenses. São Paulo: Editora Martin Claret, 2006, p.137.
Apesar da presença de traços comuns ao Romantismo, na caracterização do personagem Azevedo e de seu mundo, o teor romântico é substituído pelo olhar do narrador machadiano caracterizado por
a)
ambiguidade. |
b)
pessimismo. |
c)
ceticismo. |
d)
cinismo. |
e)
ironia. |
MELO NETO, João Cabral de: Morte e vida Severina.Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, pp. 111-112.
A voz do eu-lírico, presente no fragmento citado, reflete sobre as dificuldades sociais vivenciadas e ao mesmo tempo compreende que:
a)
por menores que sejam as diferenças entre o lugar de origem e o de migração, é possível ver com otimismo a nova vida que se apresenta. |
b)
para garantir a extensão da vida, é preciso cobiça e coragem para se defender diante de situações adversas. |
c)
as diferenças existentes entre a terra de onde veio e os lugares por onde tem passado anulam-se diante da situação de semelhança que compõe a vida e a morte. |
d)
estar vivo, até os trinta anos, representa ser vitorioso e ter como garantia uma vida mais longa e segura, desde que longe das regiões de seca como o Agreste e a Caatinga. |
e)
o contraste entre as regiões da Caatinga e da Mata, relativas às condições geográficas, diferencia a qualidade de vida das pessoas dessas regiões. |
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