TRT - 18.ª Região - Analista Judiciário - Judiciária - Oficial de Justiça Avaliador Federal - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2013 - Prova Objetiva
A montanha de moluscos de Leonardo da Vinci.
Para responder à(s) questão(ões) seguinte(s), considere o texto abaixo.
Se um cachorro “pensa” ou não, “tem consciência” ou não, isso depende da definição escolhida. Algumas pessoas não atribuirão “consciência” a criatura alguma que não seja capaz de abstrair um conceito geral com base em fatos particulares e, a partir daí, aplicar o aparato da lógica formal de modo a fazer inferências para além desses fatos. Outros conferem “consciência” a criaturas que reconhecem seus parentes consanguíneos e se recordam de locais prévios relacionados a situações de perigo ou de prazer. Pelo primeiro critério, os cães não têm consciência; pelo segundo, têm. Mas os cães permanecem sendo cães e sentindo aquilo que sentem, sem levar em consideração os rótulos escolhidos por nós.
No contexto dos esforços internacionais para conservar a biodiversidade, essa questão assume uma importância central, uma vez que o argumento clássico sobre os motivos pelos quais uma criatura supostamente decente e moral como o Homo sapiens pode maltratar e até mesmo exterminar outras espécies se assenta sobre uma posição extrema num continuum. A tradição cartesiana, formulada explicitamente no século XVII, mas presente, sem dúvida, numa forma “popular” ou em outras versões, ao longo de toda história humana, sustenta que os outros animais são pouco mais que máquinas desprovidas de sentimentos e que apenas os homens gozam de “consciência”, não importa como ela seja definida. Nas versões radicais dessa teoria, até mesmo a dor e o sofrimento manifestos de outros mamíferos (tão palpáveis para nós, e da maneira mais visceral, uma vez que as expressões vocais e faciais desses parentes evolutivos próximos são semelhantes às nossas próprias reações aos mesmos estímulos) nada mais sinalizam do que uma resposta automática sem nenhuma representação interna em termos de sentimento − porque os outros animais não têm consciência alguma. Assim, levando adiante esse argumento, poderíamos nos preocupar com a extinção em função de outras razões, mas não em virtude de alguma espécie de dor ou sofrimento associado a essas mortes inevitáveis.
Não acredito que muitas pessoas sustentem nos dias de hoje uma versão tão forte da posição cartesiana, mas a tradição de se considerar os animais “inferiores” como “menos capazes de sentir” certamente persiste como um paliativo que ajuda a justificar nossa rapacidade − do mesmo modo como os nossos ancestrais racistas argumentavam que os “insensíveis” índios eram incapazes de experimentar alguma forma de dor conceitual ou filosófica pela perda de seu ambiente ou modo de vida (desde que os territórios reservados suprissem suas necessidades corporais de alimento e segurança), e que os “primitivos” africanos não lamentariam a terra natal e a família abandonadas à força uma vez que a escravidão lhes assegurasse a sobrevivência do ponto de vista físico.
(Adaptado de: Stephen Jay Gould. A montanha de moluscos de Leonardo da Vinci. Trad. de Rejane Rubino.
S.Paulo: Cia. das Letras, 2003. p.465-6)
Para o autor do texto,
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a)
o argumento de que os animais não sofrem do mesmo modo que os homens é um pretexto para o exercício da avidez humana. |
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b)
a defesa da biodiversidade não pode ter como base a questão da consciência dos animais, já que não há consenso sobre essa questão. |
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c)
o modo como vivem os homens no mundo contemporâneo faz com que sejam inevitáveis as mortes dos animais. |
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d)
a discussão sobre o nível de consciência que pode ser atingido pelos cães é inteiramente inócua, pois nunca chegaremos a um consenso. |
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e)
os mamíferos, que em tantos aspectos assemelham- se aos homens, devem ser colocados numa escala muito superior aos outros animais. |
No último parágrafo do texto, Jay Gould
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a)
sugere que a alegação de que os animais são inferiores ao homem é preconceituosa e interessada. |
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b)
insinua que o nível de consciência dos animais é semelhante àquele que os homens mais primitivos possuíam. |
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c)
defende que os animais são hoje tratados de modo mais cruel do que eram tratados os escravos. |
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d)
aventa a possibilidade de já não haver mais quem sustente a posição cartesiana nos dias atuais. |
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e)
concede que aqueles que escravizaram índios no passado só o fizeram por acreditar na sua inferioridade. |
Considerado o contexto, o segmento cujo sentido está adequadamente expresso em outras palavras é:
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a)
criatura supostamente decente e moral = ser hipoteticamente inteiriço e devoto. |
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b)
capaz de abstrair um conceito geral = apto a destacar um aforismo genérico. |
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c)
de modo a fazer inferências = a fim de tirar ilações. |
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d)
versões radicais dessa teoria = facetas temerárias desse método. |
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e)
persiste como um paliativo = remanesce como um subterfúgio. |
Não acredito que muitas pessoas sustentem nos dias de hoje uma versão tão forte da posição cartesiana...
O verbo empregado nos mesmos tempo e modo que o verbo grifado acima está em:
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a)
... certamente persiste como um paliativo... |
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b)
... e que apenas os homens gozam de “consciência”... |
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c)
... criatura alguma que não seja capaz de... |
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d)
... desde que os territórios reservados suprissem suas necessidades corporais... |
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e)
... os nossos ancestrais racistas argumentavam que... |
Atente para as afirmações abaixo sobre a pontuação empregada no texto.
I. Outros conferem “consciência” a criaturas que reconhecem seus parentes consanguíneos e se recordam de locais prévios relacionados a situações de perigo ou de prazer. (1.º parágrafo)
Sem prejuízo para o sentido e a correção, uma vírgula poderia ser colocada imediatamente depois da palavra criaturas.
II. Não acredito que muitas pessoas sustentem nos dias de hoje uma versão tão forte da posição cartesiana... (3.º parágrafo)
Sem prejuízo para a correção e a clareza, o segmento em destaque poderia ser isolado por vírgulas.
III. ... os “insensíveis” índios eram incapazes de experimentar alguma forma de dor conceitual ou filosófica pela perda de seu ambiente ou modo de vida (desde que os territórios reservados suprissem suas necessidades corporais de alimento e segurança), e que os “primitivos” africanos... (3.º parágrafo)
A substituição dos parênteses por travessões não implicaria prejuízo para a correção e a lógica.
Está correto o que se afirma em
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a)
II, apenas. |
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b)
I, apenas. |
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c)
I, II e III. |
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d)
II e III, apenas. |
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e)
I e III, apenas. |
Algumas pessoas não atribuirão “consciência” a criatura alguma...
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o verbo grifado acima está em:
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a)
... e que os “primitivos” africanos não lamentariam a terra natal e a família abandonadas à força... |
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b)
... essa questão assume uma importância central... |
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c)
... as expressões vocais e faciais desses parentes evolutivos próximos são semelhantes às nossas próprias reações... |
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d)
... isso depende da definição escolhida. |
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e)
... uma vez que a escravidão lhes assegurasse a sobrevivência do ponto de vista físico. |
Não acredito que muitas pessoas sustentem nos dias de hoje uma versão tão forte da posição cartesiana, mas a tradição de se considerar os animais “inferiores” como “menos capazes de sentir” certamente persiste como um paliativo que ajuda a justificar nossa rapacidade − do mesmo modo como os nossos ancestrais racistas argumentavam que os “insensíveis” índios eram incapazes de experimentar alguma forma de dor conceitual ou filosófica pela perda de seu ambiente ou modo de vida (desde que os territórios reservados suprissem suas necessidades corporais de alimento e segurança), e que os “primitivos” africanos não lamentariam a terra natal e a família abandonadas à força uma vez que a escravidão lhes assegurasse a sobrevivência do ponto de vista físico.
Mantém-se clara e correta a redação da frase acima caso, sem qualquer outra alteração, os elementos sublinhados sejam substituídos, respectivamente, por:
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a)
embora − de modo que. |
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b)
contudo − contanto que. |
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c)
conquanto − porquanto. |
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d)
embora − contanto que. |
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e)
porém − antes que. |
... uma vez que as expressões vocais e faciais desses parentes evolutivos próximos são semelhantes às nossas próprias reações aos mesmos estímulos...
Sem que qualquer outra modificação seja feita na frase acima, o sinal indicativo de crase deverá ser mantido caso o segmento sublinhado seja substituído por:
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a)
afiguram. |
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b)
parecem. |
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c)
correspondem. |
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d)
lembram. |
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e)
rememoram. |
... desde que os territórios reservados suprissem suas necessidades corporais de alimento e segurança...
A transposição da frase acima para a voz passiva terá como resultado a forma verbal:
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a)
fossem supridas. |
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b)
forem supridos. |
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c)
fossem supridos. |
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d)
viessem a suprir. |
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e)
sejam supridas. |
A substituição do elemento grifado pelo pronome correspondente foi realizada de modo INCORRETO em:
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a)
sem levar em consideração os rótulos = sem levá-los em consideração. |
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b)
capaz de abstrair um conceito geral = capaz de abstraí-lo. |
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c)
suprissem suas necessidades = suprissem-nas. |
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d)
conferem “consciência” a criaturas = conferem-lhes consciência. |
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e)
que reconhecem seus parentes consanguíneos = que lhes reconhecem. |