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Informações da Prova Questões por Disciplina UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Vestibular - UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - 2012 - Prova - 1.ª Fase - Inglês - 1.º Semestre de 2013

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Charge 1

Com base na charge abaixo, responda à(s) questão(ões) seguinte(s).

1 -

Na charge, além da crítica à arte moderna presente na fala do personagem, é possível identificar ainda outra crítica.

Esta outra crítica está relacionada ao seguinte aspecto:

a)

moral

b)

estético

c)

econômico

d)

acadêmico

2 -

Ao formular sua crítica, o personagem demonstra certo distanciamento em relação à arte moderna. Uma marca linguística que expressa esse distanciamento é o uso de:

a)

terceira pessoa

b)

frase declarativa

c)

reticências ao final

d)

descrição do objeto

Recordações do escrivão Isaías Caminha


             Eu não sou literato, detesto com toda a paixão essa espécie de animal. O que observei neles, no
        tempo em que estive na redação do O Globo, foi o bastante para não os amar, nem os imitar. São em
        geral de uma lastimável limitação de ideias, cheios de fórmulas, de receitas, só capazes de colher
        fatos detalhados e impotentes para generalizar, curvados aos fortes e às ideias vencedoras, e
5       antigas, adstritos a um infantil fetichismo do estilo e guiados por conceitos obsoletos e um pueril
        e errôneo critério de beleza. Se me esforço por fazê-lo literário é para que ele possa ser lido, pois
        quero falar das minhas dores e dos meus sofrimentos ao espírito geral e no seu interesse, com
        a linguagem acessível a ele. É esse o meu propósito, o meu único propósito. Não nego que para
        isso tenha procurado modelos e normas. Procurei-os, confesso; e, agora mesmo, ao alcance
10      das mãos, tenho os autores que mais amo. (...) Confesso que os leio, que os estudo, que procuro
        descobrir nos grandes romancistas o segredo de fazer. Mas não é a ambição literária que me
        move ao procurar esse dom misterioso para animar e fazer viver estas pálidas Recordações.
        Com elas, queria modificar a opinião dos meus concidadãos, obrigá-los a pensar de outro modo,
        a não se encherem de hostilidade e má vontade quando encontrarem na vida um rapaz como
15      eu e com os desejos que tinha há dez anos passados. Tento mostrar que são legítimos e, se não
        merecedores de apoio, pelo menos dignos de indiferença.
             Entretanto, quantas dores, quantas angústias! Vivo aqui só, isto é, sem relações intelectuais de
        qualquer ordem. Cercam-me dois ou três bacharéis idiotas e um médico mezinheiro, repletos
        de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. (...) Entretanto, se eu amanhã lhes fosse
20      falar neste livro - que espanto! que sarcasmo! que crítica desanimadora não fariam. Depois que
        se foi o doutor Graciliano, excepcionalmente simples e esquecido de sua carta apergaminhada,
        nada digo das minhas leituras, não falo das minhas lucubrações intelectuais a ninguém, e minha
        mulher, quando me demoro escrevendo pela noite afora, grita-me do quarto:
        - Vem dormir, Isaías! Deixa esse relatório para amanhã!
25           De forma que não tenho por onde aferir se as minhas Recordações preenchem o fim a que as
        destino; se a minha inabilidade literária está prejudicando completamente o seu pensamento.
        Que tortura! E não é só isso: envergonho-me por esta ou aquela passagem em que me acho, em
        que me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pública... Sofro assim de tantos
        modos, por causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que às vezes acordo, vem dela,
30      unicamente dela. Quero abandoná-la; mas não posso absolutamente. De manhã, ao almoço, na
        coletoria, na botica, jantando, banhando-me, só penso nela. À noite, quando todos em casa se
        vão recolhendo, insensivelmente aproximo-me da mesa e escrevo furiosamente. Estou no sexto
        capítulo e ainda não me preocupei em fazê-la pública, anunciar e arranjar um bom recebimento
        dos detentores da opinião nacional. Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa também,
35      amanhã ou daqui a séculos, despertar um escritor mais hábil que a refaça e que diga o que não
        pude nem soube dizer.
             (...) Imagino como um escritor hábil não saberia dizer o que eu senti lá dentro. Eu que sofri
        e pensei não o sei narrar. Já por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a página, achei-a
        incolor, comum, e, sobretudo, pouco expressiva do que eu de fato tinha sentido.

LIMA BARRETO

Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2010.

3 -

O texto de Lima Barreto explora o recurso da metalinguagem, ao comentar, na sua ficção, o próprio ato de compor uma ficção. Esse recurso está exemplificado principalmente em:

a)

São em geral de uma lastimável limitação de ideias, (l. 2-3)

b)

Vivo aqui só, isto é, sem relações intelectuais de qualquer ordem. (l. 17-18)

c)

— Vem dormir, Isaías! Deixa esse relatório para amanhã! (l. 24)

d)

Já por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a página, achei-a incolor, comum, (l. 38-39)

4 -

O personagem Isaías Caminha faz críticas àqueles que ele denomina “literatos”.

No primeiro parágrafo, podemos entender que os chamados literatos são escritores com a característica de:

a)

carecer de bons leitores

b)

negar o talento individual

c)

repetir regras consagradas

d)

apresentar erros de escrita

5 -

O personagem parece julgar quase todos que o rodeiam, mas não se exime de julgar também a si mesmo. Um julgamento autocrítico de Isaías Caminha está melhor ilustrado no seguinte trecho:

a)

Confesso que os leio, que os estudo, (l. 10)

b)

Mas não é a ambição literária que me move (l. 11-12)

c)

Entretanto, quantas dores, quantas angústias! (l. 17)

d)

Imagino como um escritor hábil não saberia dizer o que eu senti (l. 37)

6 -

só capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar, (l. 3-4)

Esse trecho se refere à utilização do seguinte método de argumentação:

a)

indutivo

b)

dedutivo

c)

dialético

d)

silogístico

7 -

Na descrição de sua situação e de seus sentimentos, o narrador utiliza diversos recursos coesivos, dentre eles o da adição. O fragmento do texto que exemplifica o recurso da adição está em:

a)

repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. (l. 18-19)

b)

me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pública... (l. 28)

c)

Sofro assim de tantos modos, por causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que às vezes acordo, vem dela, (l. 28-29)

d)

Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa também, amanhã ou daqui a séculos, despertar um escritor mais hábil (l. 34-35)

8 -

O emprego de sinais de pontuação contribui para a construção do sentido dos textos. O emprego de exclamações, no segundo parágrafo, reforça o seguinte elemento relativo ao narrador:

a)

ironia

b)

mágoa

c)

timidez

d)

insegurança

Ciência e Hollywood

 
             Infelizmente, é verdade: explosões não fazem barulho algum no espaço. Não me lembro de um
        só filme que tenha retratado isso direito. Pode ser que existam alguns, mas se existirem não
        fizeram muito sucesso. Sempre vemos explosões gigantescas, estrondos fantásticos. Para existir
        ruído é necessário um meio material que transporte as perturbações que chamamos de ondas
5       sonoras. Na ausência de atmosfera, ou água, ou outro meio, as perturbações não têm onde se
        propagar. Para um produtor de cinema, a questão não passa pela ciência. Pelo menos não como
        prioridade. Seu interesse é tornar o filme emocionante, e explosões têm justamente este papel;
        roubar o som de uma grande espaçonave explodindo torna a cena bem sem graça.
             Recentemente, o debate sobre as liberdades científicas tomadas pelo cinema tem aquecido. O
10      sucesso do filme O dia depois de amanhã (The day after tomorrow), faturando mais de meio bilhão
        de dólares, e seu cenário de uma idade do gelo ocorrendo em uma semana, em vez de décadas
        ou, melhor ainda, centenas de anos, levantaram as sobrancelhas de cientistas mais rígidos que
        veem as distorções com desdém e esbugalharam os olhos dos espectadores (a maioria) que
        pouco ligam se a ciência está certa ou errada. Afinal, cinema é diversão.
15           Até recentemente, defendia a posição mais rígida, que filmes devem tentar ao máximo ser fiéis à
        ciência que retratam. Claro, isso sempre é bom. Mas não acredito mais que seja absolutamente
        necessário. Existe uma diferença crucial entre um filme comercial e um documentário científico.
        Óbvio, documentários devem retratar fielmente a ciência, educando e divertindo a população,
        mas filmes não têm necessariamente um compromisso pedagógico. As pessoas não vão ao
20      cinema para serem educadas, ao menos como via de regra.
            Claro, filmes históricos ou mesmo aqueles fiéis à ciência têm enorme valor cultural. Outros
        educam as emoções através da ficção. Mas, se existirem exageros, eles não deverão ser
        criticados como tal. Fantasmas não existem, mas filmes de terror sim. Pode-se argumentar que,
        no caso de filmes que versam sobre temas científicos, as pessoas vão ao cinema esperando uma
25      ciência crível. Isso pode ser verdade, mas elas não deveriam basear suas conclusões no que diz
        o filme. No mínimo, o cinema pode servir como mecanismo de alerta para questões científicas
        importantes: o aquecimento global, a inteligência artificial, a engenharia genética, as guerras
        nucleares, os riscos espaciais como cometas ou asteroides etc. Mas o conteúdo não deve ser
        levado ao pé da letra. A arte distorce para persuadir. E o cinema moderno, com efeitos especiais
30      absolutamente espetaculares, distorce com enorme facilidade e poder de persuasão.
             O que os cientistas podem fazer, e isso está virando moda nas universidades norte-americanas,
        é usar filmes nas salas de aula para educar seus alunos sobre o que é cientificamente correto
        e o que é absurdo. Ou seja, usar o cinema como ferramenta pedagógica. Os alunos certamente
        prestarão muita atenção, muito mais do que em uma aula convencional. Com isso, será possível
35      educar a população para que, no futuro, um número cada vez maior de pessoas possa discernir
        o real do imaginário.

MARCELO GLEISER

Adaptado de www1.folha.uol.com.br.

9 -

Marcelo Gleiser é um cientista que admite mudar de opinião se confrontado com novas evidências ou com novas reflexões. De acordo com o texto, o autor antes pensava "que filmes devem tentar ao máximo ser fiéis à ciência que retratam", mas atualmente tem outra opinião. A opinião que hoje ele defende, acerca desse assunto, baseia-se na seguinte conclusão:

a)

Existe uma diferença crucial entre um filme comercial e um documentário científico. (l. 17)

b)

documentários devem retratar fielmente a ciência, educando e divertindo a população, (l. 18)

c)

filmes históricos ou mesmo aqueles fiéis à ciência têm enorme valor cultural. (l. 21)

d)

as pessoas vão ao cinema esperando uma ciência crível. (l. 24-25)

10 -

A oposição entre “ciência” e “Hollywood”, expressa no título do artigo de Gleiser, corresponde a outra oposição bastante estudada no campo da literatura, que se verifica entre:

a)

acontecimento e opinião

b)

historicismo e atualidade

c)

verdade e verossimilhança

d)

particularização e universalismo

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