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Informações da Prova Questões por Disciplina UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Vestibular - UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - 2013 - Prova Objetiva - Inglês - 1.º Semestre de 2014

Interpretação de Textos

Fotojornalismo


                 Vem perto o dia em que soará para os escritores a hora do irreparável desastre e da derradeira
            desgraça. Nós, os rabiscadores de artigos e notícias, já sentimos que nos falta o solo debaixo
            dos pés… Um exército rival vem solapando os alicerces em que até agora assentava a nossa
            supremacia: é o exército dos desenhistas, dos caricaturistas e dos ilustradores. O lápis destronará
5         a pena: ceci tuera cela1.
                 O público tem pressa. A vida de hoje, vertiginosa e febril, não admite leituras demoradas, nem
            reflexões profundas. A onda humana galopa, numa espumarada bravia, sem descanso. Quem
            não se apressar com ela será arrebatado, esmagado, exterminado. O século não tem tempo a
            perder. A eletricidade já suprimiu as distâncias: daqui a pouco, quando um europeu espirrar,
10       ouvirá incontinenti2 o “Deus te ajude” de um americano. E ainda a ciência humana há de achar o
            meio de simplificar e apressar a vida por forma tal que os homens já nascerão com dezoito anos,
            aptos e armados para todas as batalhas da existência.
                 Já ninguém mais lê artigos. Todos os jornais abrem espaço às ilustrações copiosas, que entram
            pelos olhos da gente com uma insistência assombrosa. As legendas são curtas e incisivas: toda
15       a explicação vem da gravura, que conta conflitos e mortes, casos alegres e casos tristes.
            É provável que o jornal-modelo do século 20 seja um imenso animatógrafo3, por cuja tela vasta
            passem reproduzidos, instantaneamente, todos os incidentes da vida cotidiana. Direis que as
            ilustrações, sem palavras que as expliquem, não poderão doutrinar as massas nem fazer uma
            propaganda eficaz desta ou daquela ideia política. Puro engano. Haverá ilustradores para a sátira,
20       ilustradores para a piedade.
                 (...) Demais, nada impede que seja anexado ao animatógrafo um gramofone de voz tonitruosa4,
            encarregado de berrar ao céu e à terra o comentário, grave ou picante, das fotografias.
            E convenhamos que, no dia em que nós, cronistas e noticiaristas, houvermos desaparecido da
            cena – nem por isso se subverterá a ordem social. As palavras são traidoras, e a fotografia é fiel.
25       A pena nem sempre é ajudada pela inteligência; ao passo que a máquina fotográfica funciona
            sempre sob a égide5 da soberana Verdade, a coberto das inumeráveis ciladas da Mentira, do
            Equívoco e da Miopia intelectual. Vereis que não hão de ser tão frequentes as controvérsias…
            (...)
                 Não insistamos sobre os benefícios da grande revolução que a fotogravura vem fazer no
            jornalismo. Frisemos apenas este ponto: o jornal-animatógrafo terá a utilidade de evitar que
30       nossas opiniões fiquem, como atualmente ficam, fixadas e conservadas eternamente, para
            gáudio6 dos inimigos… Qual de vós, irmãos, não escreve todos os dias quatro ou cinco tolices
            que desejariam ver apagadas ou extintas? Mas, ai! de todos nós! Não há morte para as nossas
            tolices! Nas bibliotecas e nos escritórios dos jornais, elas ficam (...) catalogadas.
            No jornalismo do Rio de Janeiro, já se iniciou a revolução, que vai ser a nossa morte e a
35       opulência7 dos que sabem desenhar. Preparemo-nos para morrer, irmãos, sem lamentações
            ridículas, aceitando resignadamente a fatalidade das coisas, e consolando-nos uns aos outros
            com a cortesia de que, ao menos, não mais seremos obrigados a escrever barbaridades…
            Saudemos a nova era da imprensa! A revolução tira-nos o pão da boca, mas deixa-nos aliviada
            a consciência.

Olavo Bilac, Gazeta de Notícias, 3/0 / 90 .

1 ceci tuera cela − isto vai matar aquilo

2 incontinenti − sem demora

3 animatógrafo − aparelho que passa imagens sequenciais

4 tonitruosa − com o volume alto

5 égide − proteção

6 gáudio − alegria extremada

7 opulência − riqueza, grandeza

1 -

Já em 1901, o escritor Olavo Bilac temia que a imagem substituísse a escrita. No entanto, ele reconhecia aspectos positivos dessa possível substituição.

Um desses aspectos é observado no seguinte trecho:

a)

O século não tem tempo a perder. (l. 8-9)

b)

Já ninguém mais lê artigos. (l. 13)

c)

aceitando resignadamente a fatalidade das coisas. (l. 36)

d)

não mais seremos obrigados a escrever barbaridades... (l. 37)

2 -

Vem perto o dia em que soará para os escritores a hora do irreparável desastre e da derradeira desgraça. (l.1-2)

A profecia para os escritores, anunciada na primeira frase do texto de forma extremamente negativa, se opõe ao tom e à conclusão do texto.

Considerando esse contraste, o texto de Bilac pode ser qualificado basicamente como:

a)

irônico.

b)

incoerente.

c)

contraditório.

d)

ultrapassado.

3 -

O texto, apesar de escrito no início do século XX, demonstra surpreendente atualidade, conferida sobretudo por uma semelhança entre a vida moderna da época e a experiência contemporânea.

Essa semelhança está exemplificada na passagem apresentada em:

a)

O público tem pressa. (l. 6)

b)

As palavras são traidoras, e a fotografia é fiel. (l. 24)

c)

Não há morte para as nossas tolices! (l. 32-33)

d)

Nas bibliotecas e nos escritórios dos jornais, elas ficam (...) catalogadas. (l. 33)

4 -

O cinema se popularizou no Brasil depois de esta crônica ter sido escrita. Nela, porém, o autor já antecipa o advento do novo meio de comunicação.

Um trecho que comprova tal afirmativa é:

a)

E ainda a ciência humana há de achar o meio de simplificar e apressar a vida (l. 10-11)

b)

toda a explicação vem da gravura, que conta conflitos e mortes, (l. 14-15)

c)

nada impede que seja anexado ao animatógrafo um gramofone de voz tonitruosa, (l. 21)

d)

a máquina fotográfica funciona sempre sob a égide da soberana Verdade, (l. 25-26)

5 -

Vereis que não hão de ser tão frequentes as controvérsias… (l. 27)

A previsão de Bilac sobre a diminuição das controvérsias ou polêmicas, por causa da vitória da imagem sobre a palavra, baseia-se em uma pressuposição acerca da maneira de representar a realidade.

Essa pressuposição está enunciada em:

a)

o desenho critica o real e as palavras expressam consciência.

b)

a fotografia reproduz o real e as palavras provocam distorções.

c)

a imagem interpreta o real e as palavras precisam de inteligência.

d)

a fotogravura subverte o real e as palavras tendem ao conservadorismo.

Porque a realidade é inverossímil


                Escusando-me1 por repetir truísmo2 tão martelado, mas movido pelo conhecimento de que os
          truísmos são parte inseparável da boa retórica narrativa, até porque a maior parte das pessoas
          não sabe ler e é no fundo muito ignorante, rol no qual incluo arbitrariamente você, repito o que
          tantos já dizem e vivem repetindo, como quem usa chupetas: a realidade é, sim, muitíssimo
5        mais inacreditável do que qualquer ficção, pois esta requer uma certa arrumação falaciosa3, a
          que a maioria dá o nome de verossimilhança. Mas ocorre precisamente o oposto. Lê-se ficção
          para fortalecer a noção estúpida de que há sentido, lógica, causa e efeito lineares e outros
          adereços que integrariam a vida. Lê-se ficção, ou mesmo livros de historiadores ou jornalistas,
          por insegurança, porque o absurdo da vida é insuportável para a vastidão dos desvalidos que
          povoa a Terra.

João Ubaldo Ribeiro 

Diário do Farol. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. 

1 escusando-me − desculpando-me

2 truísmo − verdade trivial, lugar comum

3 falaciosa − enganosa, ilusória

6 -

O título do texto soa contraditório, se a verossimilhança for tomada como uma semelhança com o mundo real, com aquilo que se conhece e se compreende.

Essa contradição se desfaz porque, na interpretação do autor, a ficção organiza elementos da vida, enquanto a realidade é considerada como:

a)

linear.

b)

absurda.

c)

estúpida.

d)

falaciosa.

7 -

Para justificar a repetição de algo já conhecido, o autor se baseia na relação que mantém com os leitores.

Com base no texto, é possível perceber que essa relação se caracteriza genericamente pela:

a)

insegurança do autor.

b)

imparcialidade do autor.

c)

intolerância dos leitores.

d)

inferioridade dos leitores.

8 -

os truísmos são parte inseparável da boa retórica narrativa, até porque a maior parte das pessoas não sabe ler (l. 1-3)

O narrador justifica a necessidade de truísmos pela dificuldade de leitura da maior parte das pessoas.

Encontra-se implícita no argumento a noção de que o leitor iniciante lê melhor se:

a)

estuda autores clássicos.

b)

conhece técnicas literárias.

c)

identifica ideias conhecidas.

d)

procura textos recomendados.

Protesto contra o sistema

9 -

O sentido da charge se constrói a partir da ambiguidade de determinado termo. O termo em questão é:

a)

fora.

b)

agora.

c)

sistema.

d)

protestar.

10 -

A disposição dos manifestantes contrasta com a atitude do homem de terno e gravata. Essa atitude, no que diz respeito ao uso da linguagem, caracteriza-se por:

a)

falsa indignação.

b)

pouca formalidade.

c)

clara agressividade.

d)

muita subjetividade.

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