Juro que entendo alguma coisa de arquitetura urba-
na, embora alguns pobres arquitetos profissionais achem que
não.
Assim vos direi que a primeira coisa a respeito de uma
casa é que ela deve ter um porão, um bom porão com entrada
pela frente e saída pelos fundos. Esse porão deve ser habitável
porém inabitado; e ter alguns quartos sem iluminação alguma,
onde se devem amontoar móveis antigos, quebrados, objetos
desprezados e baús esquecidos. Deve ser o cemitério das
coisas. Ali, sob os pés da família, como se fosse no subcons- ciente dos vivos, jazerão os leques, as cadeiras, as fantasias do
carnaval do ano de 1920, as gravatas manchadas, os sapatos
que outrora andaram em caminhos longe.
(Adaptado de Rubem Braga, Casa dos Braga – Memórias de infância)
Depreende-se do texto que, para o autor, o porão é o espaço de uma casa
a)
destinado ao despejo de coisas inúteis, inexpressivas e sem vida, que nenhum membro da família vê sentido em preservar. |
b)
caracterizado tanto pelo aspecto sombrio como pelos mais variados vestígios de um tempo morto, ali acumulados. |
c)
reservado às vivas lembranças de uma época mais feliz, que a família faz absoluta questão de não esquecer. |
d)
resguardado de qualquer vestígio do presente que possa macular a história solene dos antepassados, ali recolhida e administrada. |
e)
esvaziado de sentido, tanto pelo fato de não ser funcional como por parecer um desses museus que a ninguém mais interessa visitar. |
O porão, ao ser caracterizado pelo autor, reveste-se de qualidades tais que o aproximam da condição humana, tal como sugerem os elementos
a)
arquitetura urbana e um bom porão. |
b)
deve ser habitável e ter alguns quartos. |
c)
o cemitério das coisas e no subconsciente dos vivos. |
d)
sem iluminação e onde se devem amontoar móveis antigos. |
e)
sob os pés da família e entrada pela frente e saída pelos fundos. |
Está plenamente correta a pontuação do seguinte período:
a)
Confessando não sem ironia, que entende de arquitetura, o cronista Rubem Braga, mestre do gênero propõe uma receita de casa, em que o porão, área frequentemente desprezada, ganha ares de profundidade e mistério. |
b)
Confessando, não sem ironia, que entende de arquitetura o cronista, Rubem Braga, mestre do gênero, propõe uma receita de casa, em que, o porão, área frequentemente desprezada, ganha ares de profundidade e mistério. |
c)
Confessando não sem ironia que entende de arquitetura, o cronista Rubem Braga, mestre do gênero, propõe: uma receita de casa em que, o porão área frequentemente desprezada, ganha ares de profundidade, e mistério. |
d)
Confessando, não sem ironia que, entende de arquitetura, o cronista Rubem Braga - mestre do gênero - propõe uma receita, de casa, em que o porão (área frequentemente desprezada), ganha ares de profundidade e mistério. |
e)
Confessando, não sem ironia, que entende de arquitetura, o cronista Rubem Braga, mestre do gênero, propõe uma receita de casa em que o porão, área frequentemente desprezada, ganha ares de profundidade e mistério. |
A frase em que ambos os elementos sublinhados são complementos verbais é:
a)
Assim vos confesso que entendo de arquitetura, apesar das muitas opiniões em contrário. |
b)
Ninguém se impressiona tanto com um velho porão como este velho cronista, leitor amigo. |
c)
O porão deverá jazer sob os pés da família como jazem os cadáveres num cemitério. |
d)
Que atração exercem sobre o cronista as gravatas manchadas, quando desce a um porão... |
e)
Já não se fazem porões, hoje em dia, já não há qualquer mistério ou evocação mágica numa casa moderna. |
E, subitamente, é a era do Automóvel. O monstro transformador irrompeu, bufando, por entre os descombros da cidade velha, e como nas mágicas e na natureza, aspérrima educadora, tudo transformou com aparências novas e novas aspirações. Quando os meus olhos se abriram para as agruras e também para os prazeres da vida, a cidade, toda estreita e toda de mau piso, eriçava o pedregulho contra o animal de lenda, que acabava de ser inventado em França. Só pelas ruas esguias dois pequenos e lamentáveis corredores tinham tido a ousadia de aparecer. Um, o primeiro, de Patrocínio, quando chegou, foi motivo de escandalosa atenção. Gente de guarda-chuva debaixo do braço parava estarrecida como se tivesse visto um bicho de Marte ou um aparelho de morte imediata. Oito dias depois, o jornalista e alguns amigos, acreditando voar com três quilômetros por hora, rebentavam a máquina de encontro às árvores da rua da Passagem. O outro, tão lento e parado que mais parecia uma tartaruga bulhenta, deitava tanta fumaça que, ao vê-lo passar, várias damas sufocavam. A imprensa, arauto do progresso, e a elegância, modelo do esnobismo, eram os precursores da era automobílica. Mas ninguém adivinhava essa era. Quem poderia pensar na futura influência do Automóvel diante da máquina quebrada de Patrocínio? Quem imaginaria velocidades enormes na corriola dificultosa que o conde Guerra Duval cedia aos clubes infantis como um brinco idêntico aos baloiços e aos pôneis mansos? Ninguém! Absolutamente ninguém. [...]
Para que a era se firmasse fora preciso a transfiguração da cidade. [...] Ruas arrasaram-se, avenidas surgiram, os impostos aduaneiros caíram, e triunfal e desabrido o automóvel entrou, arrastando desvairadamente uma catadupa de automóveis. Agora, nós vivemos positivamente nos momentos do automóvel, em que o chofer é rei, é soberano, é tirano.
(João do Rio. A era do automóvel. Crônicas. São Paulo: Companhia das Letras. 2005. p. 17-18)
A afirmativa correta é:
a)
A crônica aborda transformações decorrentes da chegada do automóvel às ruas do Rio de Janeiro. |
b)
João do Rio mostra uma cidade multifacetada, dividida entre poderosos e humildes. |
c)
A elegância dos hábitos da sociedade carioca da época é destaque no desenvolvimento do texto. |
d)
O cronista se desencanta com as ruas malcuidadas da cidade, que impedem a circulação de veículos. |
e)
A crônica é uma reportagem sobre os perigos do tráfego de automóveis nas ruas do Rio. |
É correto perceber na crônica de João do Rio
a)
ceticismo quanto ao poder de uma nova invenção e à sua eventual influência no futuro da cidade, despreparada para tais novidades. |
b)
crença na possível destruição de valores sociais decorrente da busca irrefreável pelo progresso e do orgulho pessoal trazido pela posse do automóvel. |
c)
entusiasmo pelas medidas que deveriam ser tomadas no sentido de preparar uma cidade antiga para a modernidade representada pelo automóvel. |
d)
censura à inadequação do comportamento de alguns proprietários de automóveis que ostentavam seu poder em uma época de austeridade. |
e)
viés irônico em algumas observações a respeito do incipiente poder e da inimaginável influência do automóvel nos rumos da cidade. |
Com as questões apresentadas no final do 1.º parágrafo do texto, o autor
a)
expõe o seu descrédito ao relatar as consequências do uso de automóveis em ruas não pavimentadas para o tráfego desses veículos. |
b)
pressupõe posicionamento contrário ao domínio do automóvel nas ruas do Rio, dadas as consequências desastrosas provocadas pelos primeiros veículos. |
c)
alude à impossibilidade, naquele momento, de prever as mudanças que ocorreriam no Rio de Janeiro, incluindo soluções urbanísticas. |
d)
conclui que tais acontecimentos não seriam tão inesperados e surpreendentes em uma cidade não mais caracterizada por um modelo antigo de vida. |
e)
deixa evidente que o Rio de Janeiro daquela época não comportaria a presença dos automóveis em suas ruas estreitas e cheias de pedregulhos. |
Considerando-se o contexto, há noção de consequência no segmento:
a)
... como nas mágicas e na natureza ... |
b)
... a cidade (...) eriçava o pedregulho contra o animal de lenda ... |
c)
... que acabava de ser inventado em França. |
d)
... várias damas sufocavam. |
e)
Mas ninguém adivinhava essa era. |
Considere as afirmativas feitas a seguir. Está INCORRETO o que consta em:
a)
O adjetivo áspero está flexionado no grau superlativo, em sua forma sintética: aspérrima educadora. |
b)
A imprensa, arauto do progresso, e a elegância, modelo do esnobismo... Os segmentos grifados se classificam sintaticamente como complementos nominais das expressões a que se referem. |
c)
.. que acabava de ser inventado em França. Ruas arrasaram-se... As formas verbais grifadas são exemplo de voz passiva. |
d)
Ninguém! Absolutamente ninguém. O ponto de exclamação denota ênfase do autor. |
e)
Para que a era se firmasse fora preciso a transfiguração da cidade. O emprego da forma verbal grifada denota ação passada, anterior a outra, também passada. |
Ao contrário do que se pensa, a carreira de Clarice Lispector não foi uma sucessão de facilidades. Já o seu livro de estreia, Perto do coração selvagem, esbarrou na incompreensão de alguns críticos e foi recusado por mais de uma editora.
A voz nova e solitária em seguida iria encontrar obstáculos na publicação de seus outros livros. O lustre levou anos até aparecer. Clarice se encontrava no exterior e os amigos aqui no Rio tentavam encontrar um editor de boa vontade. Fernando Sabino, que costumava ser invencível nessa matéria, ainda não tinha a experiência que só depois viria a ter, e fazia as vezes de agente literário da amiga, nem sempre bem-sucedido. O nome de Clarice, prejudicado pela sua ausência, tinha aqui pequena repercussão.
Quem sabe das dificuldades que Clarice enfrentou vê com alegria o reconhecimento que seu nome alcança e sua irradiação pelo mundo. Personalíssima na dicção brasileira, a universalidade de sua obra vai ampliando o clube de seus devotos. No Canadá, Claire Varin aprendeu português para lê-la no original. E descobriu a idade da escritora, que nasceu em 1920 e não em 1925, como está dito por toda parte. Se foi Clarice que mudou a data, já não faz sentido manter o erro por simples respeito a uma faceirice momentânea.
(Adaptado de Otto Lara Resende. Bom dia para nascer. São Paulo: Cia. das Letras, 2011. p. 218-220)
A voz nova e solitária em seguida iria encontrar obstáculos na publicação de seus outros livros.
O tempo verbal empregado pelo autor na frase acima indica
a)
ação posterior a outra, ambas localizadas no passado. |
b)
dúvida sobre a possibilidade de um fato vir a ocorrer. |
c)
forma polida de indicar um desejo no presente. |
d)
fato que depende de certa condição para ocorrer. |
e)
ação anterior a outra ocorrida no passado. |
Copyright © Tecnolegis - 2010 - 2024 - Todos os direitos reservados.