A pergunta que mais me fazem quando dou palestras é se acredito em Deus. Quando respondo que não acredito, vejo um ar de confusão, às vezes até de medo no rosto das pessoas. “Mas como é que o senhor consegue dormir à noite?” Não há nada de estranho em perguntar a um cientista sobre suas crenças. Mesmo o grande Newton via um papel essencial para Deus na natureza: Ele interferia para manter o cosmo em xeque, de modo que os planetas não desenvolvessem instabilidades e acabassem todos amontoados no centro, junto ao Sol. Porém, logo ficou claro que a natureza podia cuidar de si mesma. O Deus que interferia no mundo transformou- se no Deus criador: após criar o mundo, deixou-o à mercê de suas leis. Mas, nesse caso, o que seria de Deus? Se essa tendência continuasse, a ciência tornaria Deus desnecessário? Foi dessa tensão que surgiu a crença de que a agenda da ciência é roubar Deus das pessoas. Eu conheço muitos cientistas religiosos que não veem qualquer conflito entre a sua ciência e a sua crença. Para eles, quanto mais entendem o Universo, mais admiram a obra do seu Deus. (São vários) Mesmo que essa não seja a minha posição, respeito os que creem. A ciência se propõe simplesmente a interpretar a natureza, expandindo nosso conhecimento do mundo natural. Sua missão é aliviar o sofrimento humano, aumentando o conforto das pessoas, desenvolvendo técnicas de produção avançadas, ajudando no combate de doenças. O problema se torna sério quando a religião se propõe a explicar fenômenos naturais: dizer que o mundo tem menos de 7.000 anos ou que somos descendentes diretos de Adão e Eva é equivalente a viver no século 16 ou antes disso. A insistência em negar os avanços e as descobertas da ciência é, francamente, inaceitável. Podemos dizer que há dois tipos de pessoa: os naturalistas e os sobrenaturalistas: estes veem forças ocultas por trás dos afazeres dos homens, escravizados por crenças inexplicáveis, e aqueles aceitam que nunca teremos todas as respostas. Mas, em vez de temer o desconhecido, os naturalistas abraçam essa ignorância como um desafio, e não uma prisão. É por isso que eu durmo bem à noite.
(Adaptado de Marcelo Gleiser, cientista e professor de física teórica. Folha de S. Paulo, 28/03/2010)
Ao refletir sobre a relação entre ciência e religião, o autor defende a seguinte convicção:
a)
elas são caminhos de conhecimento igualmente aceitáveis e compatíveis, variando apenas a metodologia de cada uma. |
b)
nada obsta a que um cientista seja religioso, desde que confie à ciência a explicação dos fenômenos naturais. |
c)
os conflitos históricos entre ciência e religião devemse ao fato de que aquela busca ocupar o lugar desta. |
d)
sendo naturalistas, os cientistas temem que os sobrenaturalistas venham a obter todas as respostas que a ciência persegue. |
e)
ambas oferecem interpretações legítimas do universo, apenas divergindo quanto à razão primeira da Criação. |
Atente para as seguintes afirmações:
I. No 2.º parágrafo, afirma-se que a ciência fundamentou o papel de Deus como criador do universo, ao negar seu papel de interventor na natureza.
II. No 3.º parágrafo, evidências científicas, como a de que o mundo tem muito mais que 7.000 anos, são lembradas para contestar o que apregoam certas crenças.
III. No 4.º parágrafo, identifica-se nos mistérios do universo a fonte de um temor que tanto pode assaltar um cientista como a um crente.
Em relação ao texto, está correto o que se afirma em:
a)
I, II e III. |
b)
I e II, apenas. |
c)
I e III, apenas. |
d)
II e III, apenas. |
e)
II, apenas. |
A afirmação que NÃO constitui um argumento utilizado pelo autor na defesa de suas convicções é:
a)
O papel da ciência não é o de se indispor contra os que têm fé, pois seus objetivos não se prendem a um mundo sobrenatural. |
b)
Os cientistas que são também crentes exercem sua função de intérpretes da natureza, vendo-a como uma obra de Deus. |
c)
São, na verdade, vários os deuses em que os cientistas do mundo todo podem crer e aos quais podem cultuar. |
d)
Uma das missões da ciência é negar o misticismo, para assim dissipar o temor que têm os homens do desconhecido. |
e)
Para um cientista, o desconhecido instiga, em vez de assustar, desafia, em vez de submeter o homem à crença no inexplicável. |
Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:
a)
Ao observar que a ciência não se dispõe a invadir o espaço da religião, o autor lembra que o contrário costuma acontecer. |
b)
Segundo o autor, a religião, que a ciência não contesta, costuma fazê-lo ela mesma, criando uma disparidade entre as funções. |
c)
A rigor, nem a ciência nem a religião deveriam contestar- se, uma vez que ambas dispõem de objetivo que lhes são inerentes. |
d)
Uma vez conduzida por método próprio, a ciência não tem porquê defrontar os caminhos da fé, que lhe são alheios. |
e)
Desde que ambas se guiem pela prudência, fé e ciência podem se arvorar fraternalmente como ínvios caminhos para o saber. |
As normas de concordância verbal estão plenamente observadas na frase:
a)
Quando se questiona cientistas sobre assuntos religiosos, não se espere votos de fé como resposta. |
b)
Por que caberiam aos cientistas, podemos perguntar, explicar fenômenos tidos como sobrenaturais? |
c)
Cobre-se dos cientistas a interpretação do mundo natural, e não o desvendamento de todos os mistérios. |
d)
Não se atribuam aos físicos a responsabilidade de esclarecer fenômenos imateriais. |
e)
Nem mesmo aos profetas costumam exigir-se explicação para todos os fenômenos de causa desconhecida. |
O Deus que interferia no mundo transformou-se no Deus criador: após criar o mundo, deixou-o à mercê de suas leis.
A frase permanecerá correta e manterá o sentido caso se substituam os elementos sublinhados, respectivamente, por:
a)
imiscuía ao - tornou-o à deriva em |
b)
intercalava ao - pô-lo ao acaso de |
c)
intervinha no - abandonou-o às |
d)
entronizava no - confiou-o às |
e)
imputava ao - manteve-o entregue às |
Transpondo-se para a voz passiva a construção de modo que os planetas não desenvolvessem instabilidades, a forma verbal resultante será:
a)
sejam desenvolvidas. |
b)
fossem desenvolvidas. |
c)
tivessem desenvolvido. |
d)
viessem a desenvolver. |
e)
hajam desenvolvido. |
É preciso reformular, por falha estrutural, a redação da seguinte frase:
a)
Aos que lhe perguntam se dorme bem à noite, responde o autor afirmativamente, mostrando que não teme o desafio do desconhecido. |
b)
A ciência almeja o progresso, colaborar e diminuir os males da humanidade, preocupa-se em aplicar seu próprio conhecimento. |
c)
O autor se opõe frontalmente aos que creem em Adão e Eva e propagam a convicção de que o mundo tem menos de 7.000 anos. |
d)
Ao usar a expressão agenda da ciência, o autor está- se referindo às metas principais que os cientistas se propõem a perseguir. |
e)
O autor não deixa de compreender as razões que levam alguns cientistas a seguir uma religião, sem que, por isso, comprometam a ciência. |
Estabelecem, no contexto, uma relação de causa (I) e efeito (II) os segmentos:
a)
em vez de temer o desconhecido, os naturalistas abraçam essa ignorância como um desafio (I) // eu durmo bem à noite (II). |
b)
Não há nada de estranho (I) // em perguntar a um cientista sobre suas crenças (II). |
c)
Eu conheço muitos cientistas religiosos (I) // que não veem qualquer conflito entre a sua ciência e a sua crença (II). |
d)
O problema se torna sério (I) // dizer que o mundo tem menos de 7.000 anos (II). |
e)
estes veem forças ocultas (I) por trás dos afazeres dos homens (II). |
É adequada a correlação entre tempos e modos verbais na frase:
a)
Logo acabaria por ficar claro que a natureza pudesse cuidar muito bem de si mesma, haja o que houver. |
b)
Se Deus interviesse no mundo, os homens terão sido os responsáveis por todas as decisõs que vierem a tomar? |
c)
A religião busca aliviar o sofrimento humano, mas também a ciência se preocupe com o bem estar da humanidade. |
d)
Os cientistas que sentirem como conflituosa a relação entre a ciência e a religião acabarão, mais cedo ou mais tarde, por fazer uma opção. |
e)
Caso venhamos todos a temer profundamente o desconhecido, a ciência não tem como enfrentar os desafios que nos cabiam. |
Copyright © Tecnolegis - 2010 - 2024 - Todos os direitos reservados.