ACESSE GRATUITAMENTE + DE 450.000 QUESTÕES DE CONCURSOS!

Informações da Prova Questões por Disciplina Ministério Público Estadual - Rondônia - Técnico - Contabilidade - FUNCAB - 2012 - Prova Objetiva

Interpretação de Textos

Um peixe

               Virou a capanga de cabeça para baixo, e os
peixes espalharam-se pela pia. Ele ficou olhando, e
foi então que notou que a traíra ainda estava viva. Era
o maior peixe de todos ali, mas não chegava a ser
grande: pouco mais de um palmo. Ela estava
mexendo, suas guelras mexiam-se devagar, quando
todos os outros peixes já estavam mortos. Como que
ela podia durar tanto tempo assim fora d'água?...
              Teve então uma ideia: abrir a torneira, para ver
o que acontecia. Tirou para fora os outros peixes:
lambaris, chorões, piaus; dentro do tanque deixou só
a traíra. E então abriu a torneira: a água espalhou-se
e, quando cobriu a traíra, ela deu uma rabanada e
disparou, ele levou um susto – ela estava muito mais
viva do que ele pensara, muito mais viva. Ele riu, ficou
alegre e divertido, olhando a traíra, que agora tinha
parado num canto, o rabo oscilando de leve, a água
continuando a jorrar da torneira. Quando o tanque se
encheu, ele fechou-a.
              – E agora? – disse para o peixe. – Quê que eu
faço com você?...
              Enfiou o dedo na água: a traíra deu uma
corrida, assustada, e ele tirou o dedo depressa.
              – Você tá com fome?... E as minhocas que
você me roubou no rio? Eu sei que era você;
devagarzinho, sem a gente sentir... Agora está aí,
né?... Tá vendo o resultado?...
              O peixe, quieto num canto, parecia escutar.
              Podia dar alguma coisa para ele comer. Talvez
pão. Foi olhar na lata: havia acabado. Que mais? Se a
mãe estivesse em casa, ela teria dado uma ideia – a
mãe era boa para dar ideias. Mas ele estava sozinho.
Não conseguia lembrar de outra coisa. O jeito era ir
comprar um pão na padaria. Mas sujo assim de barro,
a roupa molhada, imunda?
              – Dane-se – disse, e foi.
              Era domingo à noite, o quarteirão
movimentado, rapazes no footing , bares cheios.
Enquanto ele andava, foi pensando no que
acontecera. No começo fora só curiosidade; mas
depois foi bacana, ficou alegre quando viu a traíra
bem viva de novo, correndo pela água, esperta. Mas o
que faria com ela agora? Matá-la, não ia; não, não
faria isso. Se ela já estivesse morta, seria diferente;
mas ela estava viva, e ele não queria matá-la. Mas o
que faria com ela? Poderia criá-la; por que não?
Havia o tanquinho do quintal, tanquinho que a mãe
uma vez mandara fazer para criar patos. Estava
entupido de terra, mas ele poderia desentupi-lo,
arranjar tudo; ficaria cem por cento. É, é isso o que
faria. Deixaria a traíra numa lata d'água até o dia
seguinte e, de manhã, logo que se levantasse, iria
mexer com isso.
              Enquanto era atendido na padaria, ficou
olhando para o movimento, os ruídos, o vozerio do
bar em frente. E então pensou na traíra, sua trairinha,
deslizando silenciosamente no tanque da pia, na
casa escura. Era até meio besta como ele estava
alegre com aquilo. E logo um peixe feio como traíra,
isso é que era o mais engraçado.
              Toda manhã – ia pensando, de volta para casa
– ele desceria ao quintal, levando pedacinhos de pão
para ela. Além disso, arrancaria minhocas, e de vez
em quando pegaria alguns insetos. Uma coisa que
podia fazer também era pescar depois outra traíra e
trazer para fazer companhia a ela; um peixe sozinho
num tanque era algo muito solitário.
              A empregada já havia chegado e estava no
portão, olhando o movimento.
              – Que peixada bonita você pegou...
              – Você viu?
              –Umabeleza...Tematé uma trairinha.
              – Ela foi difícil de pegar, quase que ela
escapole; ela não estava bem fisgada.
              –Traíra é duro de morrer, hem?
              – Duro de morrer?...
              Ele parou.
              – Uai, essa que você pegou estava vivinha na
hora que eu cheguei, e você ainda esqueceu o tanque
cheio d'água... Quando eu cheguei, ela estava toda
folgada, nadando. Você não está acreditando? Juro.
Ela estava toda folgada, nadando.
              – Eaí?
              –Aí? Uai, aí eu escorri a água para ela morrer;
mas você pensa que ela morreu? Morreu nada! Traíra
é duro de morrer, nunca vi um peixe assim. Eu soquei
a ponta da faca naquelas coisas que faz o peixe
nadar, sabe? Pois acredita que ela ainda ficou
mexendo? Aí eu peguei o cabo da faca e esmaguei a
cabeça dele, e foi aí que ele morreu. Mas custou, ô
peixinho duro de morrer! Quê que você está me
olhando?
              – Por nada.
              – Você não está acreditando? Juro; pode ir lá
na cozinha ver: ela está lá do jeitinho que eu deixei.
              Ele foi caminhando para dentro.
              – Vou ficar aqui mais um pouco – disse a
empregada. – depois vou arrumar os peixes, viu?
              – Sei.
              Acendeu a luz da sala. Deixou o pão em cima
da mesa e sentou-se. Só então notou como estava
cansado.

(VILELA, Luiz,O violino e outros contos. 7ª ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 36-38.)
 

VOCABULÁRIO:

Capanga: bolsa pequena, de tecido, couro ou
plástico, usada a tiracolo.
 

footing: passeio a pé, com o objetivo de
arrumar namorado(a).

Guelra: estrutura do órgão respiratório da
maioria dos animais aquáticos.

Vozerio: som de muitas vozes juntas.

1 -

Nos primeiros parágrafos, o narrador descreve a cena em que o protagonista volta de uma pescaria. Logo em seguida, esse mesmo narrador dá ao leitor uma informação que vai alterar a situação inicial e mudar o rumo da trama. Assinale a alternativa que aponta qual é essa informação e por que muda o rumo da história.

a)

A traíra estava viva e, a partir do momento em que esse fato fica comprovado, o que fazer com ela é a questão que se segue.

b)

As guelras do peixe mexiam-se devagar e isso fez com que o protagonista enchesse o tanque para salvar todos os peixes, fato que impulsiona a narrativa.

c)

Virou a capanga de cabeça para baixo e essa atitude altera a construção da história emtorno do grande pescador em mais uma façanha.

d)

A empregada chegou e, ao matar a traíra, provocou no protagonista uma mudança de planos e de comportamento.

e)

A empregada afirmou que conseguira matar a traíra e, a partir desse momento, o protagonista entristece e fica cansado.

2 -

Considerando os determinantes do substantivo, pode-se afirmar que, no início da narrativa, a traíra era realmente, para o protagonista, "um peixe", conforme aponta o título do texto; mas, no desenrolar da trama, ele já poderia se referir à traíra como "o peixe", como comprova a passagem "- E agora? - disse para o peixe. - Quê que eu faço com você?...", porque:

a)

no início da narrativa, a indeterminação de sentido do artigo em relação ao peixe é usada para criar expectativa em torno da história, apontando para o distanciamento entre o protagonista e o peixe em questão. Logo depois, o artigo objetiva criar ambiguidade, dupla interpretação sobre isso.

b)

no início da narrativa, o artigo faz referência precisa ao peixe, para atribuir um caráter mais pessoal, com forte conteúdo reflexivo, e mostrar a importância do peixe para o protagonista. Logo a seguir, o que se quer é a representação da voz que fala numa perspectivamais impessoal.

c)

no início da narrativa, o peixe é um desconhecido, igual a outros que a personagem principal viu. Depois, o artigo individualiza o peixe, não se trata mais de qualquer peixe, mas daquele ao qual a personagemse afeiçoou.

d)

no início da narrativa, o artigo é usado com a finalidade de particularizar o ser ao qual se refere. Em seguida, generaliza o ser, aproximando-o do protagonista.

e)

no início da narrativa, o artigo é utilizado para construir e manter presente a ideia de proximidade e cumplicidade entre o peixe e o protagonista. Depois, com a morte do peixe, o artigo assume uma característica de distanciamento entre os dois.

Figuras de Linguagem
3 -

Pleonasmo é uma figura de linguagem que tem como marca a repetição de palavras ou expressões, aparentemente desnecessárias, para enfatizar uma ideia. No entanto, alguns pleonasmos são considerados "vícios de linguagem" por informarem uma obviedade e não desempenharem função expressiva no enunciado. Considerando esta afirmação, assinale a alternativa que possui exemplo de pleonasmo vicioso.

a)

"(...) E então abriu a torneira: a água espalhou-se (...)"

b)

"(...)O jeito era ir comprar um pão na padaria. (...)"

c)

"(...)Matá-la, não ia; não, não faria isso. (...)"

d)

"(...) Traíra é duro de morrer, nunca vi um peixe assim. (...)"

e)

"(...) Tirou para fora os outros peixes: lambaris, chorões, piaus; (...)"

Interpretação de Textos
4 -

"(...) TEVE então uma ideia: abrir a torneira, para ver o que acontecia." / "... que agora TINHA parado num canto, o rabo oscilando de leve,(...)". Nessas duas frases, o verbo TER foi empregado em lugar de outros verbos de significado mais preciso. A alternativa em que as substituições propostas das formas destacadas são, respectivamente adequadas, é:

a)

Conservou / permanecia.

b)

Alcançou / possuía.

c)

Apresentou / seguia.

d)

Ocorreu / havia.

e)

Revelava / procedia.

Pronomes: Emprego, Formas de Tratamento e Colocação
5 -

O pronome - LO da frase "(...) mas ele poderia desentupi-LO, arranjar tudo; ficaria cem por cento.(...)" (parágrafo 9), no contexto, refere-se ao:

a)

quarteirão.

b)

tanquinho.

c)

bar.

d)

rio.

e)

quintal.

Compreensão e Interpretação de Textos
6 -

Assinale a alternativa em que a preposição em destaque estabelece uma relação de sentido de modo dentro da frase.

a)

"(...) Era o maior peixe DE todos ali,(...)"

b)

"(...) Uai, aí eu escorri a água PARA ela morrer;(...)"

c)

"(...) Deixaria a traíra numa lata d'água ATÉ o dia seguinte, (...)."

d)

"(...) Era ATÉ meio besta como ele estava alegre com aquilo.(...)"

e)

"(...) que agora tinha parado num canto, o rabo oscilando DE leve,(...)"

7 -

A alternativa que transcreve uma frase do texto em que foi feita uma construção INADEQUADA, quanto à concordância, é:

a)

"(...) Eu sei que era você; devagarzinho, sem a gente sentir... Agora está aí, né?... Tá vendo o resultado?"

b)

"(...) - Uai, essa que você pegou estava vivinha na hora que eu cheguei, e você ainda esqueceu o tanque cheio d'água(...)"

c)

"(...) Eu soquei a ponta da faca naquelas coisas que faz o peixe nadar, sabe? Pois acredita que ela ainda ficou mexendo?(...)"

d)

"(...) Aí eu peguei o cabo da faca e esmaguei a cabeça dele, e foi aí que ele morreu.(...)"

e)

"(...) Quando eu cheguei, ela estava toda folgada, nadando. Você não está acreditando? Juro. Ela estava toda folgada, nadando.(...)"

8 -

Todas as frases das alternativas abaixo admitem voz passiva, EXCETO:

a)

"Virou a capanga de cabeça para baixo,(...)"

b)

"E então abriu a torneira:(...)"

c)

"Enfiou o dedo na água:(...)"

d)

"Traíra é duro de morrer, hem?(...)"

e)

"... esmaguei a cabeça dele,(...)"

9 -

Observe o uso do diminutivo nas frases:

1. "(...) E então pensou na traíra, sua TRAIRINHA, deslizando silenciosamente no tanque da pia, na casa escura.(...)"

2. "(...) - Uai, essa que você pegou estava VIVINHA na hora que eu cheguei, e você ainda esqueceu o tanque cheio d'água(...)"

A respeito da flexão sofrida pelas palavras em destaque, analise os itens a seguir:

I. O uso da forma sintética do diminutivo, na frase 1, atribui ao substantivo flexionado um sentido conotativo, contribuindo para a manifestação da afetividade do protagonista emr elação ao peixe.

II. Na frase 2, o diminutivo intensifica a ideia de vivo. Vivinho =muito vivo, bem vivo, saudável.

III. Em ambas as frases os termos flexionados têm valor denotativo, pois o sufixo diminutivo atribui a eles sua significação normal, apesar de diminuída sua intensidade.

Assinale a alternativa que aponta o(s) item(ns) correto(s).

a)

Somente o I está correto.

b)

Somente o II está correto.

c)

Somente I e II estão corretos.

d)

Somente I e III estão corretos.

e)

Somente II e III estão corretos.

10 -

Em relação ao SE em "(...) Se a mãe estivesse em casa, ela teria dado uma ideia (...)", é correto afirmar que,morfologicamente, o termo é:

a)

uma conjunção subordinativa integrante, ou seja, é elemento de ligação entre a oração subordinada substantiva direta e a oração principal.

b)

uma conjunção subordinat iva adverbial condicional, ou seja, é elemento de ligação entre a oração subordinada adverbial condicional e a oração principal.

c)

pronome reflexivo, pois indica que a ação expressa volta-se sobre o próprio sujeito da ação verbal, nele se refletindo.

d)

índice de indeterminação do sujeito, porque serve para deixar indeterminado um sujeito de 3ª pessoa, junto ao verbo intransitivo.

e)

pronome apassivador, porque associa-se ao verbo transitivo para garantir o sentido passivo pretendido para a voz verbal, ou seja, contribui para a caracterização da voz do verbo.

« anterior 1 2 3 4 5 próxima »

Marcadores

Marcador Verde Favorita
Marcador Azul Dúvida
Marcador Amarelo Acompanhar
Marcador Vermelho Polêmica
Marcador Laranja  Adicionar

Meus Marcadores

Fechar
⇑ TOPO

 

 

 

Salvar Texto Selecionado


CONECTE-SE

Facebook
Twitter
E-mail

 

 

Copyright © Tecnolegis - 2010 - 2024 - Todos os direitos reservados.