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Informações da Prova Questões por Disciplina CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos - CBTU) - Técnico - Mecatrônica - FUMARC (Fundação Mariana Resende Costa) - 2016

Língua Portuguesa

Texto I

Quem são nossos ídolos?

Claudio de Moura Castro

Eu estava na França nos idos dos anos 80. Ligando a televisão, ouvi por

acaso uma entrevista com um jovem piloto de Fórmula 1. Foi-lhe perguntado em

quem se inspirava como piloto iniciante. A resposta foi pronta: Ayrton Senna. O

curioso é que nessa época Senna não havia ganho uma só corrida importante.

Mas bastou ver o piloto brasileiro se preparando para uma corrida: era o primeiro

a chegar no treino, o único a sempre fazer a pista a pé, o que mais trocava ideias

com os mecânicos e o último a ir embora. Em outras palavras, sua dedicação,

tenacidade, atenção aos detalhes eram tão descomunais que, aliadas a seu talento,

teriam de levar ao sucesso.

Por que tal comentário teria hoje alguma importância?

Cada época tem seus ídolos, pois eles são a tradução de anseios, esperanças,

sonhos e identidade cultural daquele momento. Mas, ao mesmo tempo,

reforçam e ajudam a materializar esses modelos de pensar e agir.

Já faz muito tempo, Heleno de Freitas foi um grande ídolo do futebol. Segundo

consta, jactava-se de tomar uma cachacinha antes do jogo, para aumentar

a criatividade. Entrava em campo exibindo seu bigodinho e, após o gol, puxava o

pente e corrigia o penteado. O ídolo era a genialidade pura do futebol-arte.

Mais tarde, Garrincha era a expressão do povo, com sua alegria e ingenuidade.

Era o jogador cujo estilo brotava naturalmente. Era a espontaneidade,

como pessoa e como jogo, e era facilmente amado pelos brasileiros, pois materializava

as virtudes da criação genial.

Para o jogador "cavador", cabia não mais do que um prêmio de consola-

ção. Até que veio Pelé. Genial, sim. Mas disciplinado, dedicado e totalmente

comprometido a usar todas as energias para levar a cabo sua tarefa. E de atleta

completo e brilhante passou a ser um cidadão exemplar.

É bem adiante que vem Ayrton Senna. Tinha talento, sem dúvida. Mas tinha

mais do que isso. Tinha a obsessão da disciplina, do detalhe e da dedicação

total e completa. Era o talento a serviço do método e da premeditação, que são

muito mais críticos nesse desporto.

Há mais do que uma coincidência nessa evolução. Nossa escolha de ídolos

evoluiu porque evoluímos. Nossos ídolos do passado refletiam nossa imaturidade.

Era a época de Macunaíma. Era a apologia da genialidade pura. Só talento,

pois esforço é careta. Admirávamos quem era talentoso por graça de Deus e

desdenhávamos o sucesso originado do esforço. Amadurecemos. Cresceu o

peso da razão nos ídolos. A emoção ingênua recuou. Hoje criamos espaço para

os ídolos cujo êxito é, em grande medida, resultado da dedicação e da disciplina

? como Pelé e Senna.

Mas há o outro lado da equação, vital para nossa juventude. Necessitamos

de modelos que mostrem o caminho do sucesso por via do esforço e da

dedicação. Tais ídolos trazem um ideário mais disciplinado e produtivo.

Nossa educação ainda valoriza o aluno genial, que não estuda ? ou que,

paradoxalmente, se sente na obrigação de estudar escondido e jactar-se de não

fazê-lo. O cê-dê-efe é diminuído, menosprezado, é um pobre-diabo que só obtém

bons resultados porque se mata de estudar. A vitória comemorada é a que deriva

da improvisação, do golpe de mestre. E, nos casos mais tristes, até competência

na cola é motivo de orgulho.

Parte do sucesso da educação japonesa e dos Tigres Asiáticos provém

da crença de que todos podem obter bons resultados por via do esforço e da

dedicação. Pelo ideário desses países, pobres e ricos podem ter sucesso, é só

dar duro.

O êxito em nossa educação passa por uma evolução semelhante à que

aconteceu nos desportos ? da emoção para a razão. É preciso que o sucesso

escolar passe a ser visto como resultado da disciplina, do paroxismo de dedica-

ção, da premeditação e do método na consecução de objetivos.

A valorização da genialidade em estado puro é o atraso, nos desportos e

na educação. O modelo para nossos estudantes deverá ser Ayrton Senna, o

supremo cê-dê-efe de nosso esporte. Se em seu modelo se inspirarem, vejo

bons augúrios para nossa educação.

Disponível em: http://veja.abril.com.br/idade/educacao/060601/ponto_de_vista.html. Acesso em: jul. 2016.

1 -

A pergunta que inicia o segundo parágrafo: “Por que tal comentário teria hoje

alguma importância?" tem o objetivo de

a) apresentar a ideia que será desenvolvida no texto.
b) introduzir o assunto do texto por meio de uma pergunta.
c) justificar o comentário feito no parágrafo anterior.
d) relacionar a ideia anterior à que será desenvolvida ao longo do texto.
2 -

Sobre a constituição do texto, é correto afirmar, EXCETO:

a) No 1º parágrafo, o autor faz uso da 1ª pessoa do singular, o que não atrapalha a confiabilidade de seu texto.
b) No 3º parágrafo, apresenta-se a tese que será defendida ao longo do texto.
c) Utiliza-se de uma linguagem formal, o que dá ao leitor a ideia de um batepapo.
d) Utiliza-se da exemplificação, para melhor compreensão do tema a ser tratado.
3 -

A evolução na escolha dos ídolos se deveu

a) à evolução dos nossos ídolos.
b) à nossa emoção ingênua.
c) ao amadurecimento da população.
d) ao reconhecimento da genialidade dos ídolos.
4 -

Todas as extrapolações abaixo podem ser feitas a partir do texto, EXCETO:

a) O aluno que é ídolo ainda é aquele que consegue se dar bem sem nenhum esforço.
b) O aluno que estuda, no Brasil, para não se passar por cê-dê-efe, tem de fazê-lo escondido.
c) O amadurecimento que adquirimos nos esportes, em relação aos ídolos, ainda não foi alcançado na educação.
d) Os ídolos de antigamente eram a expressão do povo, pois não precisavam se esforçar nem ter disciplina.
5 -

Em todos os trechos, a narradora inclui o leitor em suas reflexões, EXCETO em:

a) “Cresceu o peso da razão nos ídolos.”
b) “Nossa escolha de ídolos evoluiu porque evoluímos.”
c) “Nossos ídolos do passado refletiam nossa imaturidade.”
d) “O modelo para nossos estudantes deverá ser Ayrton Senna [...].
6 -

Todas as palavras estão corretamente interpretadas entre parênteses, EXCETO em:

a)

A valorização da genialidade em estado puro é o atraso, nos desportos e na educação. (esportes)

b)

Em outras palavras, sua dedicação, tenacidade, atenção aos detalhes eram tão descomunais que, aliadas a seu talento, teriam de levar ao sucesso.(persistência)

c)

Se em seu modelo se inspirarem, vejo bons augúrios para nossa educação. (formatos)

d)

Segundo consta, jactava-se de tomar uma cachacinha antes do jogo, para aumentar a criatividade. (orgulhava-se)

7 -

Há linguagem oral em:

a)

“Foi-lhe perguntado em quem se inspirava como piloto iniciante."

b)

“Há mais do que uma coincidência nessa evolução."

c)

“O ídolo era a genialidade pura do futebol-arte."

d)

“Só talento, pois esforço é careta."

8 -

O termo destacado está corretamente substituído entre parênteses, EXCETO

em:

a)

Segundo consta, jactava-se de tomar uma cachacinha antes do jogo, para aumentar a criatividade." (Uma vez que)

b)

Mas bastou ver o piloto brasileiro se preparando para uma corrida: era o primeiro a chegar no treino [...]" (No entanto)

c)

“Cada época tem seus ídolos, pois eles são a tradução de anseios, esperanças, sonhos e identidade cultural daquele momento." (porque)

d)

“Admirávamos quem era talentoso por graça de Deus e desdenhávamos o sucesso originado do esforço [...]." (bem como)

9 -

Em “O êxito em nossa educação passa por uma evolução semelhante à que

aconteceu nos desportos – da emoção para a razão.", à é:

a) artigo definido.
b) pronome demonstrativo.
c) pronome indefinido.
d) preposição.
10 -

A posição do pronome oblíquo destacado é facultativa em:

a)

“[...] ou que, paradoxalmente, se sente na obrigação de estudar escondido e jactar-se de não fazê-lo."

b)

“Foi-lhe perguntado em quem se inspirava como piloto iniciante."

c)

“O cê-dê-efe é diminuído, menosprezado, é um pobre-diabo que só obtém bons resultados porque se mata de estudar."

d)

Se em seu modelo se inspirarem, vejo bons augúrios para nossa educação."

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