O triunfo humano sobre as forças da natureza é, desta vez, um triste sintoma da saúde do planeta. Dois cargueiros alemães estão prestes a se tornarem os primeiros a navegar por inteiro a Passagem Nordeste, como é conhecido o trajeto via Ártico entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
Essa rota marítima mais curta entre a Europa e a Ásia sempre foi um risco no mapa impossível de ser navegado. Durante o verão, quando a camada de gelo da calota polar se retrai, somente comboios liderados por navios quebra-gelo trafegam pela imensa costa russa – e apenas em trechos curtos. Essa situação já tem data marcada para acabar. Salvo algum contratempo imprevisível, os dois navios, que já ultrapassaram os trechos mais difíceis, devem completar a viagem até o fim do mês. E aqui está a má notícia: a proeza dos cargueiros alemães só foi possível devido ao encolhimento progressivo da calota polar do Ártico, provocada pelo aquecimento global. Em 2007 e 2008, a superfície congelada se reduziu ao menor tamanho já registrado. A camada de gelo também está mais fina: sua espessura encolhe, em média, 17 centímetros por ano.
Toda a fauna adaptada ao clima único da região está ameaçada. As focas criam seus filhotes durante as primeiras semanas em placas de gelo flutuantes, para que acumulem gordura suficiente antes de se aventurar pela água gelada do mar. O degelo precoce dos glaciares pode resultar na separação prematura desses filhotes, diminuindo suas chances de sobrevivência. Estudos preveem que, devido à diminuição de seu território de caça, a população de ursos polares estará reduzida a um terço da atual até 2050. Morsas, renas e baleias típicas da região também sofrem com os efeitos da mudança climática. Mas o impacto do derretimento dos polos não se limitará a esses rincões mais frios. As calotas polares ajudam a manter o clima global ameno e alimentam as correntes marítimas, que redistribuem o calor pelo planeta.
O paradoxo do aquecimento é que, à medida que o gelo derrete, o Oceano Ártico se abre à navegação e viabiliza a exploração de riquezas até então intocadas. Estima-se que a região concentre 13% das reservas de petróleo e 30% de todo o gás natural do planeta. Cinco países que fazem fronteira com o Círculo Polar Ártico (Estados Unidos, Canadá, Rússia, Noruega e Dinamarca) disputam o controle desses recursos.
(Thomaz Favaro. Veja, 23 de setembro de 2009, pp. 106-108, com adaptações)
É correto perceber no texto, predominantemente:
a)
o interesse comum aos países mais fortes economicamente na exploração conjunta dos recursos naturais do Ártico. |
b)
os perigos da exploração da fauna típica da região ártica em razão da presença de navios durante a maior parte do ano. |
c)
a importância da preservação ambiental no Ártico tanto para a manutenção da fauna da região quanto para o equilíbrio climático em todo o planeta. |
d)
a necessidade de se criarem rotas diferenciadas de navegação em toda a região do Ártico, para facilitar a exploração de seus recursos naturais. |
e)
a possibilidade de acordos entre os países que fazem fronteira com o Círculo Polar Ártico no sentido de garantir a navegabilidade da região durante todo o ano. |
Considerando-se que paradoxo constitui uma proposição que contraria ou desafia a opinião compartilhada pela maioria, o paradoxo referido no texto se estabelece entre:
a)
a façanha dos navios alemães ao vencer os obstáculos à navegabilidade no Ártico e os interesses comerciais dos países que têm suas fronteiras na região. |
b)
os interesses comerciais dos países que fazem fronteira com o polo ártico e a impossibilidade de navegação durante boa parte do ano. |
c)
a dificuldade em estabelecer uma rota mais curta na passagem para o Ártico e os investimentos necessários para a manutenção dessa rota na região. |
d)
a existência de obstáculos quase intransponíveis nas águas geladas do Ártico e a tentativa de exploração dos recursos naturais da região. |
e)
as más consequências do aquecimento global em oposição às possibilidades de exploração de riquezas insuspeitadas numa região ainda intocada pelo homem. |
Salvo algum contratempo imprevisível ... (2º parágrafo)
A afirmativa introduz, no contexto:
a)
certeza dos perigos trazidos pelas condições climáticas. |
b)
restrição ao que foi afirmado anteriormente. |
c)
conclusão de todo o desenvolvimento do parágrafo. |
d)
temporalidade, em relação à demora na viagem dos cargueiros alemães. |
e)
finalidade, com o objetivo de vencer as más condições climáticas da região. |
... a proeza dos cargueiros alemães só foi possível devido ao encolhimento progressivo da calota polar do Ártico ... (2º parágrafo)
O sentido da afirmativa grifada está corretamente reproduzido, com outras palavras, em:
a)
porque houve aumento na diminuição ... |
b)
embora tivesse tido evidente diminuição ... |
c)
mesmo que tivesse tido pequena redução ... |
d)
durante o tempo que se teve redução acentuada ... |
e)
se fosse possível ter diminuição constante ... |
A camada de gelo também está mais fina: sua espessura encolhe, em média, 17 centímetros por ano. (2.º parágrafo)
Os dois-pontos introduzem, no trecho:
a)
dado a ser confirmado por um cientista. |
b)
oposição ao sentido da afirmativa anterior. |
c)
afirmativa de sentido explicativo. |
d)
observação com base em previsões. |
e)
informação repetitiva e desnecessária. |
A concordância verbal e nominal está inteiramente correta na frase:
a)
A descoberta de rotas navegáveis no polo ártico foi feito por dois navios alemães, quando venceram os trechos mais difíceis. |
b)
A viagem, apesar dos perigos trazidos pelas placas de gelo flutuantes, devem se completar até o fim do mês. |
c)
As placas de gelo flutuantes, que se vê em toda a região ártica, serve de berçário para os filhotes de focas. |
d)
A passagem que resultou do derretimento do gelo na região do polo ártico desperta os interesses comerciais de países próximos. |
e)
O controle desses recursos estão sendo disputados por países que se dispõe a investir na região do polo ártico. |
A afirmativa escrita de modo inteiramente claro e correto é:
a)
Com a navegabilidade do Oceano Ártico, vai ficar esposto a quantidade de riquesas que existe nessa região. |
b)
A opção pela nova rota, conhecida como Passagem Nordeste, que economizou distâncias, também reduziu o consumo de combustível. |
c)
Para se fazer com segurança a travessia de mares gelados prescisa haver muito cuidado e precalção contra os perigos que surgem. |
d)
Não se deve extranhar a cobissa de alguns países para explorar os recursos naturais que vão ser encontrados no Ártico. |
e)
Para percorrer a rota que é feita abitualmente as embarcações estão sugeitas aos riscos permanentes trazidos por placas de gelo. |
Em 1997, as obras da usina hidrelétrica de Salto Caxias, no Paraná, revelaram material inusitado. Encravadas na terra, havia gravuras indígenas em baixo-relevo que retratavam o movimento dos corpos celestes, provavelmente utilizadas para caça, pesca e agricultura.
A descoberta chamou a atenção de especialistas e remeteu a estudos realizados em solo brasileiro séculos antes. "Há grandes semelhanças entre o sistema astronômico utilizado hoje pelos guaranis do sul do Brasil e as medições dos tupinambás do Maranhão, descritas pelo missionário Claude d'Abbeville em 1612", diz Germano Afonso, especialista em etnoastronomia e pesquisador da Universidade Federal do Paraná. "Isso ocorre apesar das diferenças linguísticas, da distância geográfica e dos quase 400 anos que os separam no tempo."
Claude d'Abbeville, monge capuchinho francês, esteve no Brasil no século XVII em missões de evangelização junto a aldeias indígenas do Maranhão. Seu relato, considerado uma das mais importantes fontes de informação sobre a etnia tupi, trazia uma novidade para a época: a relação de aproximadamente 30 estrelas e constelações utilizadas pelos índios para atividades de plantio, pesca, caça e rituais religiosos. As semelhanças entre os conhecimentos dos índios coloniais e os das aldeias atuais motivaram novas pesquisas junto a etnias indí- genas de todo o país. "É possível que as tribos se utilizem desse conhecimento desde que deixaram de ser nômades, como forma de entender as flutuações sazonais de clima para sua subsistência”, diz Afonso.
As atividades das tribos indígenas guiam-se geralmente por dois tipos principais de constelações. Há aquelas relacionadas ao clima, à fauna, e à flora do lugar, conhecidas por toda a comunidade, e outras, relacionadas aos espíritos indígenas, mais difíceis de visualizar e conhecidas normalmente apenas pelos pajés. No firmamento, encontram mais do que orientação sobre marés e estações do ano: veem um retrato do mundo terrestre.
Na estrada esbranquiçada da Via Láctea, tribos encontram o principal ponto de referência para as medições celestes. Chamam-na Tapi'i rapé (Caminho da Anta), devido à posição das constelações que a formam. Se para medir fenômenos climáticos as referências são animais terrestres, quando se trata do sagrado a região recebe o nome de Morada dos Deuses. Ali, próxima à constelação do Cisne, está a mancha escura que simboliza Nhanderu, o deus maior guarani. Sentado em um banco, segurando o Sol e a Lua, ele aparece todos os anos para anunciar a primavera.
(Juliana Winkel. Brasil. Almanaque de cultura popular . São Paulo: Andreato
comunicação & cultura, ano 9, n. 97, maio de 2007, pp. 18-19, com adaptações)
Percebe-se no texto que:
a)
o conhecimento sobre o sistema astronômico dos guaranis e tupinambás se assemelha às informações trazidas pelos europeus durante a colonização. |
b)
os europeus que aqui estiveram pouco descobriram a respeito dos conhecimentos indígenas, principalmente sobre sua concepção do sistema celeste. |
c)
os primeiros habitantes do Brasil, que organizavam suas vidas pelos astros, detinham conhecimentos mais precisos do que os dos europeus. |
d)
as tribos indígenas brasileiras transmitiram seus segredos sobre os astros aos primeiros colonizadores que estiveram no país. |
e)
algumas tribos indígenas utilizavam conhecimentos, para aplicação na vida cotidiana, resultantes da observação dos astros. |
De acordo com o texto, é correto o concluir:
a)
o material inusitado descoberto no Paraná consistia em gravuras criadas no século XVII pelos índios tupinambás. |
b)
ainda não se encontram em território brasileiro informações mais exatas a respeito dos conhecimentos indígenas sobre astronomia. |
c)
algumas tribos indígenas, por serem nômades, não conseguiram desenvolver conhecimentos mais profundos sobre astronomia. |
d)
o último parágrafo expõe claramente a mitologia dos índios guaranis, com uma interpretação peculiar da visão do espaço celeste. |
e)
no 4º parágrafo ficam evidentes as diferenças de classe social entre os índios, diferenças que vêm desde os tempos coloniais. |
"Isso ocorre apesar das diferenças linguísticas, da distância geográfica e dos quase 400 anos que os separam no tempo." (2.º parágrafo)
O pronome Isso evita repetir, no contexto:
a)
a importância da descoberta recente de antigas gravuras indígenas que comprovam seus conhecimentos sobre os corpos celestes. |
b)
a referência aos estudos sobre etnias indígenas no Brasil desde os tempos coloniais, muitos deles desenvolvidos por sacerdotes que vieram para o país. |
c)
as grandes semelhanças entre os sistemas astronômicos dos índios guaranis do sul do Brasil e os dos tupinambás do Maranhão. |
d)
o conhecimento da movimentação dos corpos celestes para determinar as condições favoráveis para caça, pesca e agricultura. |
e)
a descoberta da existência de relatos datados dos tempos coloniais sobre os conhecimentos astronômicos das tribos indígenas brasileiras. |
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