Assembleia Legislativa - São Paulo - Agente Técnico Legislativo - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2010 - Prova Objetiva
Representatividade Ética
Costuma-se repetir à exaustão, e com as consequências características do abuso de frases feitas e lugares-comuns, que as esferas do poder público são o reflexo direto das melhores qualidades e dos piores defeitos do povo do país. Na esteira dessa convicção geral, afirma-se que as casas legislativas brasileiras espelham fielmente os temperamentos e os interesses dos eleitores brasileiros. É o caso de se perguntar: mesmo que seja assim, deve ser assim? Pois uma vez aceita essa correspondência mecânica, ela acaba se tornando um oportuno álibi para quem deseja inocentar de plano a classe política, atribuindo seus deslizes a vocações disseminadas pela nação inteira... Perguntariam os cínicos se não seria o caso, então, de não mais delegar o poder apenas a uns poucos, mas buscar repartilo entre todos, numa grande e festiva anarquia, eliminando-se os intermediários. O velho e divertido Barão de Itararé já reivindicava, com a acidez típica de seu humor: “Restaure-se a moralidade, ou então nos locupletemos todos!”. As casas legislativas, cujos membros são todos eleitos pelo voto direto, não podem ser vistas como uma síntese cristalizada da índole de toda uma sociedade, incluindo-se aí as perversões, os interesses escusos, as distorções de valor. A chancela da representatividade, que legitima os legisladores, não os autoriza em hipótese alguma a duplicar os vícios sociais; de fato, tal representação deve ser considerada, entre outras coisas, como um compromisso firmado para a eliminação dessas mazelas. O poder conferido aos legisladores deriva, obviamente, das postulações positivas e construtivas de uma determinada ordem social, que se pretende cada vez mais justa e equilibrada. Combater a circulação dessas frases feitas e lugarescomuns que pretendem abonar situações injuriosas é uma forma de combater a estagnação crítica − essa oportunista aliada dos que maliciosamente se agarram ao fatalismo das “fraquezas humanas” para tentar justificar os desvios de conduta do homem público. Entre as tarefas do legislador, está a de fazer acreditar que nenhuma sociedade está condenada a ser uma comprovação de teses derrotistas.
(Demétrio Saraiva, inédito)
Pareceu necessário, ao autor, empregar o adjetivo ética, no título do texto, porque o conceito de representatividade costuma ser:
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a)
utilizado como um valor, em princípio, absoluto, não se prestando a justificar interesses escusos. |
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b)
lembrado em seu valor relativo, pois a tarefa legislativa é mais alta do que a de representar os anseios públicos. |
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c)
maliciosamente utilizado por quem dele se vale como abono social para a prática de atos inescrupulosos. |
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d)
referido como um desses valores que, historicamente, vão mudando de sentido de acordo com a época. |
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e)
ingenuamente tomado como consensual, já que há muitas dúvidas quanto às tarefas que cabem ao legislador. |
Atente paras as seguintes afirmações:
I. No 1.º parágrafo, a pergunta dos cínicos e a frase do Barão de Itararé consideram a possibilidade da universalização de vantagens inescrupulosamente obtidas.
II. No 2.º parágrafo, o autor expressa sua convicção de que é fatal, na esfera do poder legislativo, a disseminação das mesmas mazelas que afetam o conjunto da sociedade.
III.No 3.º parágrafo, o combate aos lugares-comuns e às frases feitas é considerado um recurso válido para quem considera banal a disseminação dos vícios sociais.
Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em:
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a)
I. |
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b)
II. |
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c)
III. |
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d)
I e II. |
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e)
II e III. |
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em:
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a)
são o reflexo direto (1.º parágrafo) = constituem a condicionante básica. |
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b)
Na esteira dessa convicção (1.º parágrafo) = em que pese a tal certeza. |
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c)
síntese cristalizada (2.º parágrafo) = tópico transparente. |
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d)
postulações positivas (2.º parágrafo) = demandas afirmativas. |
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e)
abonar situações injuriosas (3.º parágrafo) = retificar ações caluniosas. |
O velho e divertido Barão de Itararé já reivindicava (...): “Restaure-se a moralidade, ou então nos locupletemos todos!”.
Transpondo-se adequadamente o trecho acima para o discurso indireto, ele ficará: O velho e divertido Barão de Itararé já reivindicava que:
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a)
ou bem se restaurasse a moralidade, senão nos locupletaríamos todos. |
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b)
fosse restaurada a moralidade, ou então que nos locupletássemos todos. |
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c)
seja restaurada a moralidade, ou todos nos locupletávamos. |
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d)
seria restaurada a moralidade, caso contrário nos locupletássemos. |
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e)
a moralidade seja restaurada, quando não venhamos a nos locupletar. |
As normas de concordância verbal estão plenamente observadas na frase:
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a)
Há frases que se repete à exaustão e que, exatamente por isso, passam a soar como se constituíssem cada uma delas uma verdade incontestável. |
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b)
Frases sempre haverão que, à força de se repetirem ao longo do tempo, acabam sendo tomadas como verdades absolutas. |
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c)
Quando a muitas pessoas interessam dar crédito a frases feitas e lugares-comuns, há o risco de se cristalizar falsos juízos. |
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d)
O hábito da repetição mecânica de frases feitas e lugares-comuns acabam por nos conduzirem à fixação de muitos preconceitos. |
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e)
Cabe aos indivíduos mais conscientes combater o chavão e o lugar-comum, para que não se percam de vista os legítimos valores sociais. |
As casas legislativas, cujos membros são todos eleitos pelo voto direto, não podem ser vistas como uma síntese cristalizada da índole de toda uma sociedade (...).
Considerando-se aspectos de construção da frase acima, é correto afirmar que:
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a)
o segmento cujos membros são todos eleitos pode ser adequadamente substituído por em cujas os membros são todos eleitos. |
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b)
a eliminação das duas vírgulas em nada alteraria o sentido veiculado pela frase. |
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c)
a transposição para a voz ativa do segmento não podem ser vistas resultará na forma não se veem. |
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d)
o segmento como uma síntese pode ser adequadamente substituído por tal uma síntese. |
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e)
o segmento de toda uma sociedade está empregado no sentido de qualquer sociedade. |
Uma nova e correta redação da frase do Barão de Itararé, citada no texto, que preserva o sentido original é:
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a)
Nos locupletemos todos, quando se restaurar a moralidade. |
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b)
Locupletemo-nos todos, a menos que se restaure a moralidade. |
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c)
Venhamos a nos locupletar, conquanto se restaura a moralidade. |
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d)
Que todos locupletemo-nos, ou então restaure-se a moralidade. |
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e)
Quando todos nos locupletamos, escusado é restaurar a moralidade. |
A chancela da representatividade, que legitima os legisladores, não os autoriza em hipótese alguma a duplicar os vícios sociais (...).
Nessa frase, são exemplos de uma mesma função sintática os termos:
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a)
os legisladores e os vícios sociais. |
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b)
A chancela e os legisladores. |
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c)
da representatividade e autoriza. |
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d)
em hipótese alguma e da representatividade. |
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e)
A chancela e os vícios sociais. |
Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:
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a)
Imagina-se que o povo espera dos legisladores uma representação de seus valores essenciais, pois quanto a isso é que se galga o poder. |
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b)
O Barão de Itararé ficou sendo um signo do anedotário nacional, tanto assim que em suas frases de efeito resistem a perdurar por gerações. |
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c)
Os lugares-comuns constituem expressões do senso comum, em cuja prática muitos hábitos se propagam e muitos preconceitos se consolidam. |
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d)
Uma frase-feita, é com frequência, mais que um vício de linguagem, sendo uma acomodação da consciência que se dispensa a criticar. |
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e)
Os inescrupulosos costumam atribuir aos demais cidadãos o epíteto de fraquezas humanas, quando eles próprios é que costumam envergá-la. |
Quanto à flexão e à correlação de tempos e modos, estão corretas as formas verbais da frase:
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a)
Não constitue desdouro valer-se de uma frase feita, a menos que se pretendesse que ela venha a expressar um pensamento original. |
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b)
Se os valores antigos virem a se sobrepor aos novos, a sociedade passaria a apoiar-se em juízos anacrônicos e hábitos desfibrados. |
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c)
Dizia o Barão de Itararé que, se ninguém cuidar da moralidade, não haveria razão para que todos não obtessem amplas vantagens. |
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d)
Para que uma sociedade se cristalize e se estaguine, basta que seus valores tivessem chegado à triste consolidação dos lugares-comuns. |
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e)
Não conviria a ninguém valer-se de um cargo público para auferir vantagens pessoais, houvesse no horizonte a certeza de uma sanção. |