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Informações da Prova Questões por Disciplina TRE - Santa Catarina - Técnico Judiciário - MS Concursos - 2009 - Prova Objetiva

Interpretação de Textos

A "Não-me-Toques"!

I

Passavam­-se  os  anos,  e  Antonieta  ia  ficando para tia,não que lhe  faltassem candidatos,  mas  ­ infeliz  moça! ­ naquela  capital de  província  não havia um homem, um só,  que  ela  considerasse digno de ser seu marido. Ao Comendador Costa começavam a inquietar seriamente as  exigências  da  filha, que  repelira, já, com desdenhosos  muxoxos, uma  boa dúzia  de  pretendentes  cobiçados pelas principais donzelas da cidade. Nenhuma destas se casou com rapaz que não fosse  primeiramente enjeitado pela altiva Antonieta. ­

- Que  diabo! dizia  o comendador à sua mulher, D. Guilhermina, ­ estou vendo que será preciso encomendar­lhe um príncipe! ­

Ou então,  acrescentava  D. Guilhermina, esperar que  algum estrangeiro ilustre, de  passagem nesta cidade...  ­

- Está  você bem aviada! Em quarenta anos que aqui estou, só dois estrangeiros ilustres cá  têm vindo: o Agassiz e o Herman. 

Entretanto, eram os  pais  os  culpados  daquele orgulho indomável. Suficientemente ricos tinham dado à filha uma educação de fidalga, habituando­a desde pequenina a ver imediatamente  satisfeitos os seus mais custosos e extravagantes caprichos. 

Bonita, rica, elegante, vestindo­se pelo último figurino, falando correntemente o francês e o inglês,  tocando muito bem o piano,  cantando que nem uma  prima­dona, tinha  Antonieta razões  sobejas para se julgar um avis rara na sociedade em que vivia, e não encontrar em nenhuma classe  homem que merecesse a honra insigne de acompanhá-­la ao altar. 

Uma grande viagem à Europa, empreendida pelo comendador em companhia da esposa e da  filha, completara a  obra. Ter estado em Paris  constituía, naquela boa terra, um título de  superioridade. 

Ao cabo de  algum tempo,  ninguém mais  se  atrevia a  erguer os  olhos  para  a  filha  do Comendador Costa, contra a qual se estabeleceu pouco a pouco certa corrente de animadversão. 

Começaram todos a notar­lhe defeitos parecidos com os das uvas de La Fontaine, e, como a  qualquer indivíduo, macho ou fêmea, que estivesse em tal ou qual evidência, era difícil escapar ali a  uma alcunha, em breve Antonieta se tornou conhecida pela "Não­me­toques". 

II

Teria  sido realmente amada? Não,  mas  apenas  desejada, ­ tanto assim que todos  os  seus  namorados se esqueceram dela...

Todos, menos  o mais  discreto,  o mais  humilde, o único talvez, que  jamais  se  atrevera  a  revelar os seus sentimentos. 

Chamava-­se José  Fernandes, e  era  o primeiro empregado da casa  do Comendador Costa, onde entrara aos dez anos de idade, no mesmo dia em que chegara de Portugal. 

Por esse  tempo veio ao mundo Antonieta. Ele  vira­a nascer,  crescer,  instruir­se,  fazer­se  altiva e bela. Quantas vezes a trouxera ao colo, quantas vezes a acalentara nos braços ou a embalara  no berço! E, alguns anos depois, era ainda ele quem todas as manhãs a levava e todas as tardes ia  buscá­la no colégio. 

Quando Antonieta chegou aos quinze anos e ele aos vinte e cinco, "Seu José" (era assim que  lhe chamavam) notou que  a sua afeição por aquela menina se transformava, tomando um caráter estranho e indefinível; mas calou­se, e começou de então por diante a viver do seu sonho e do seu tormento.  Mais  tarde,  todas  as  vezes  que  aparecia um novo pretendente  à  mão da  moça, ele  assustava­se, tremia, tinha acessos de ciúmes, que lhe causavam febre, mas o pretendente era, como todos os outros, repelido, e ele exultava na solidão e no silêncio do seu platonismo.

 Materialmente, Seu José sacrificara­-se pelo seu amor. Era ele, como se costuma dizer (não sei com que propriedade) o "tombo" da casa comercial do Comendador Costa; entretanto, depois de  tantos anos de dedicação e amizade, a sua situação era ainda a de um simples empregado; o patrão,  ingrato e egoísta, pagava­lhe em consideração e elogios o que lhe devia em fortuna. Mais de uma  vez apareceram a Seu José ocasiões de trocar aquele emprego por uma situação mais vantajosa; ele,  porém, não tinha ânimo de deixar a casa onde ao seu lado Antonieta nascera e crescera. 

III

 Um dia, tudo mudou de repente. Sem dar ouvidos  a  Seu José, que lhe  aconselhava  o contrário,  o Comendador Costa  empenhou a sua casa numa grande especulação, cujos efeitos foram desastrosos, e, para não fechar a porta, viu­se obrigado a fazer uma concordata com os credores. Foi este o primeiro golpe atirado pelo destino contra a altivez da "Não­me­toques".

 A casa ia de novo se levantando, e já estava quase livre dos seus compromissos de honra, quando o Comendador Costa, adoecendo gravemente, faleceu, deixando a  família numa situação embaraçosa. 

 Um verdadeiro deus ex machina apareceu então na  figura  de  Seu José que,  reunindo as  suadas  economias  que ajuntara durante  trinta  anos,  e associando­-se  a  D. Guilhermina, fundou a  firma Viúva Costa & Fernandes, e salvou de uma ruína iminente a casa do seu finado patrão. 

IV

 O estabelecimento prosperava a olhos vistos e era apontado como uma prova eloquente de  quanto podem a  inteligência, a  boa  fé  e a  força de vontade,  quando o falecimento da viúva  D. Guilhermina  veio colocar a filha  numa situação difícil... Sozinha, sem pai nem mãe, nem amigos,  aos trinta e dois anos de idade, sempre bela e arrogante em que pesasse a todos os seus dissabores,  aonde iria  a  "Não­me­toques"? Antonieta  foi a  primeira  a  pensar que o seu casamento com José  Fernandes era um ato que as circunstâncias impunham... [...]

 Começou então uma  nova  existência  para  Antonieta, que, não obstante  aproximar-­se  da  medonha casa dos quarenta, era sempre formosa, com o seu porte de rainha e o seu colo opulento,  de  uma brandura de cisne. As suas  salas,  profundamente  iluminadas,  abriam­se  quase  todas  as  noites para grandes e pequenas recepções: eram festas sobre festas. Agora já lhe não chamavam a  "Não­me­toques";  ela  tornara-­se  acessível, amável,  insinuante, com um sorriso sempre  novo e  espontâneo para  cada visita. Fizeram-­lhe a corte, e  ela, outrora impassível diante  dos galanteios,  escutava-­os  agora  com prazer. Um galã, mais atrevido que os outros, aproveitou o momento psicológico e conseguiu uma entrevista - Esse primeiro amante foi prontamente substituído. Seguiu­ se outro, mais outro, seguiram-­se muitos... 

VII

E quando Seu José, desesperado, fez saltar os miolos com uma bala, deixou esta frase escrita num pedaço de papel: 

"Enquanto foi  solteira, achava minha mulher que  nenhum homem era  digno de  ser seu marido;  depois de casada (por conveniência) achou que todos eles eram dignos de ser seus amantes. Mato-me”. 

Correio da Manhã, 12 de outubro de 1902http://www.dominiopublico.gov.br /download/texto/bi000050.pdf

1 -

O título do conto é justificado no seguinte trecho:

a)

Passavam­se os anos, e Antonieta ia ficando para tia.

b)

[...] em breve Antonieta se tornou conhecida pela "Não­me­toques".

c)

Bonita, rica, elegante, vestindo­se pelo último figurino, falando correntemente o francês e o inglês, [...] tinha Antonieta razões sobejas para se julgar um avis rara na sociedade em que vivia, e não encontrar em nenhuma classe homem que merecesse a honra insigne de acompanhá­la ao altar.

d)

Começaram todos a notar­lhe defeitos parecidos com os das uvas de La Fontaine [...]

2 -

O conto só não traz uma crítica à(s):

a)

infidelidade conjugal.

b)

soberba e ganância.

c)

falsas aparências.

d)

altruísmo e complacência.

3 -

Considerando que Artur Azevedo foi um descobridor de assuntos do cotidiano da vida carioca, e observador dos hábitos da capital na época, pode-­se afirmar que um dos principais objetivos do texto era:

a)

Ridicularizar os defeitos ou vícios da sociedade carioca.

b)

Demonstrar ao público leitor como a sociedade vivia na época.

c)

Contar fatos corriqueiros e cotidianos dos cariocas.

d)

Sensibilizar as pessoas para que mudem de atitude.

4 -

A história começa a tomar um rumo diferente quando:

a)

O Comendador Costa adoeceu.

b)

A D. Guilhermina faleceu.

c)

Seu José casou­se com Antonieta.

d)

O Comendador Costa empenhou a sua casa.

5 -

Por meio das ações dos personagens, podemos descrevê­-los. Assim, coloque V (verdadeiro) ou F (falso) para as características atribuídas aos personagens. A seguir , assinale a sequência correta:

I. Comendador Costa: egoísta e mesquinho. (    )

II. D. Guilhermina: inexpr essiva e suscetível. (    )

III. Seu José: abnegado e soberbo. (    )

IV. Antonieta: aprazível e altiva. (    )

a)

V, F, F, F.

b)

V, V, F, F.

c)

V, F, F, V.

d)

V, V, F, V.

Crase
6 -

Observe o trecho: "Que diabo! Dizia o comendador à sua mulher". Em relação ao acento grave - indicativo de crase - utilizado, pode-­se afirmar que é:

a)

Empregado incorretamente, pois não ocorre crase antes de pronome.

b)

Facultativo, pois ocorre antes de pronome possessivo.

c)

Empregado corretamente, pois está diante de uma palavra feminina.

d)

Obrigatório, pois está anteposto a um pronome possessivo.

7 -

Releia o trecho: ''Uma grande viagem à Europa'', a alternativa que deve receber o acento grave seguindo a mesma regra do trecho é:

a)

“Uma grande viagem a Curitiba”.

b)

“Uma grande viagem a Brasília”.

c)

“Uma grande viagem a Itália”.

d)

“Uma grande viagem a Paris”.

Pronomes: Emprego, Formas de Tratamento e Colocação
8 -

Na oração final do texto: "Mato­-me'', a colocação pronominal está:

a)

Correta, pois depois de verbo é obrigatória a ênclise.

b)

Incorreta, pois depois de verbo é obrigatória a próclise.

c)

Adequada, pois não se inicia frase ou oração com pronome oblíquo átono.

d)

Adequada, pois não se inicia frase ou oração com pronome pessoal reto.

9 -

Para se dirigir em à Antonieta, no Brasil, antes do casamento, as pessoas deveriam utilizar o seguinte pronome de tratamento:

a)

Vossa Senhoria.

b)

Vossa Excelência.

c)

Vossa Eminência.

d)

Vossa Magnificência.

10 -

Releia o excerto: "o patrão, ingrato e egoísta, pagava­-lhe em consideração e elogios o que lhe devia em fortuna" e assinale a alternativa correta relacionada aos pronomes grifados:

a)

Em ambos, ocorre a ênclise, pois não há elementos que atraem o pronome.

b)

No primeiro, ocorre a ênclise, e no segundo, a próclise, pois há elemento atrativo.

c)

Em ambos, ocorre a próclise, pois não há elementos que atraem o pronome.

d)

No primeiro, ocorre a próclise, e no segundo, a ênclise, pois há elemento atrativo.

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