1 Cult — O que significa exatamente “capitalismo desastre”? Naomi Klein — Veja o que aconteceu após o furacão 4 Katrina, exemplo clássico do capitalismo do desastre. Não considero o Katrina um desastre “natural” porque envolveu uma clara omissão do Estado — no sentido de que as 7 barragens estavam deterioradas. Imediatamente depois do ocorrido, um político republicano, Richard Baker, disse “não pudemos limpar os projetos de conjuntos habitacionais, mas 10 Deus fez isso por nós”. Isso é o capitalismo do desastre! É uma ideia muito velha, que já existia na mentalidade colonial. Na América do Norte, os colonos que ocuparam a 13 Nova Inglaterra tinham uma teoria religiosa sobre a varíola, pois a causa principal de mortalidade dos índios era a doença. Nos diários da época, falava-se da moléstia como 16 uma dádiva de Deus. De diversas maneiras, estavam usando a mesma formulação que o político republicano. Quando a varíola acabou com diversas comunidades dos iroquois e a 19 terra deles foi invadida pelos colonos, Deus foi invocado, e o desastre foi visto como um ato divino. Então, sim, isso não é novidade. Mas, o que há de novo aqui, e que vimos em 22 Nova Orleans, é que não apenas o desastre foi utilizado para a privatização do sistema educacional e habitacional, mas a resposta ao próprio desastre foi vista como oportunidade 25 de mercado. E essa é realmente a última fronteira para o neoliberalismo. Todas as partes do estado foram privatizadas: estradas, eletricidade, telefone, água. Haviam 28 sobrado apenas as funções fundamentais: os militares, a polícia, os bombeiros. Mas agora estamos assistindo ao surgimento de um complexo do capitalismo do desastre: 31 negócios que dependem diretamente desse conjunto de crises e desastres.
Naomi Klein. Resistindo ao choque. In: Cult – Revista Brasileira de Cultura.
São Paulo: Bregantini, n./125, jun./2008, p. 10 (com adaptações).
Com relação aos sentidos e às estruturas do texto acima, que é parte de uma entrevista de Naomi Klein à revista Cult, julgue o(s) item(ns) a seguir:
Segundo a entrevistada, a fala do político republicano - trecho entre aspas nas linhas de 8 a 10 - e o discurso dos diários da colonização norte-americana, em nome de interesses econômicos, naturalizam e justificam desastres como o furacão e a dizimação da população provocada pela varíola, ao considerá-los obras divinas.
Certa. |
Errada. |
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