Eric Hobsbawm, um dos maiores historiadores do nosso tempo, acredita que nunca o conhecimento da História se fez tão necessário como nestes dias em que, justamente, muitos a julgam quase irrelevante. O fato de o século XX ter sido marcado, ao mesmo tempo, por massacres e guerras, de um lado, e por um notável avanço das ciências e da tecnologia, de outro, talvez ajude a entender por que o homem contemporâneo parece ter fechado os olhos para o passado longínquo ou recente, e viva o presente com a sensação de já estar instalado no futuro. Nesse vão do tempo, em que a velocidade do que é novo se traduz a cada dia numa espécie de arrebatadora vertigem, não há pausa para qualquer reflexão que implique dúvida, desconfiança ou hesitação. Nunca se viu tanta gente afirmar, a propósito de qualquer coisa: “Com certeza!”
A História nos ensina que não há fatos estanques, ou rupturas absolutas: há alguma continuidade na transformação, algum encadeamento na progressão. Os processos da civilização não constituem saltos caprichosos e inexplicáveis, por isso é um erro imaginar que o que se vive hoje é uma inauguração absoluta. Mesmo os avanços no campo da informática ou da neurociência, erroneamente vistos como verdadeiros “milagres”, compõem uma sequência histórica esclarecedora.
O problema maior está em que o homem contemporâneo, cético em relação ao passado, não conserva deste lições que podem ser preciosas no futuro. O primeiro grande cientista político, Maquiavel, preocupado com a unificação de uma Itália dividida em principados, foi buscar em grandes líderes políticos do passado inspiração para as ações necessárias no presente. Sua intuição lhe dizia (e há quem aproveite suas lições até hoje) que o jogo do poder não muda em sua essência, apenas variam as circunstâncias.
Considere-se, ainda, o aspecto afetivo da nossa memória. Nossa sensibilidade acusa momentos marcantes, experiências inesquecíveis, que continuam a produzir efeito em nossa personalidade, em nosso modo de ver o mundo. Se os valores da nossa biografia ajudam a esclarecer o sentido de nossa trajetória pessoal, por que imaginar que a História não tenha o que dizer quanto ao sentido da caminhada que estamos todos empreendendo?
(Aristeu de Valença, inédito)
Atente para as seguintes afirmações:
I. O autor considera que os momentos de dúvida e de hesitação que marcam o homem contemporâneo devem-se à falta de consciência histórica.
II. Os processos da História, diferentemente dos que ocorrem com a ciência, não dão saltos caprichosos, pois há encadeamento em sua progressão.
III. A importância que tem a memória pessoal para cada indivíduo é análoga à que tem a História para a compreensão da caminhada humana.
Em relação ao texto, está correto o que se afirma SOMENTE em:
a)
I. |
b)
II. |
c)
III. |
d)
I e II. |
e)
II e III. |
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