Desastres naturais não provocam apenas mortes e prejuízos. Deixam a sociedade mais suscetível a discursos apocalípticos. Depois da virada (e do bug) do milênio, o fantasma da vez são as supostas profecias maias de que o mundo vai acabar em 2012. Para quem acredita nelas, as catástrofes deste semestre seriam apenas o começo do fim. Pouco importa que, segundo cientistas, a Terra registre 50 mil tremores todos os anos e esse número não esteja aumentando.
Para o físico e astrônomo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Othon Winter, paradoxalmente a sociedade da informação reage aos desastres naturais de forma muito semelhante à dos povos da antiguidade. "Os fenômenos eram mais locais. Uma cheia do rio Nilo poderia ser indício de que os deuses estavam zangados com os homens. Na antiguidade, o acesso ao conhecimento era mínimo e as pessoas com um pouco mais de informação conduziam outras. O medo decorria da falta de informação. Hoje, todo mundo tem informação demais e, por isso, teme", acredita.
A psicóloga Eda Tassara, do Laboratório de Psicologia Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), acha que o excesso de informação também contribui para a disseminação do pânico. "Não sei se há uma intensificação das chamadas catástrofes, mas sei que o acesso à informação sobre elas se intensificou muito."
Para ela, fenômenos como a erupção do vulcão islandês passaram a ser vistos como catástrofes por conta do atual estágio de organização da sociedade. "A dimensão da erupção foi amplificada pelos seus danos econômicos. Sob esse ponto de vista, pode ser considerada uma catástrofe, mas, na verdade, é um acidente de dimensões locais."
Eventos como a passagem de cometas e a virada de milênios sempre provocaram tensão. Os temores de catástrofes cósmicas têm origem na crença de que eventos terrenos e celestes estariam fisicamente conectados. Em seu livro, o astrônomo lembra que a aparição de um cometa em 1664 foi interpretada como responsável pela peste bubônica que dizimou 20% da população europeia. Para Eda, até mesmo questões relevantes da atualidade, como a do aquecimento global, são contaminadas por um discurso apocalíptico que lembra o dos profetas religiosos. Ele traz consigo a culpa e a noção de castigo. Você tem culpa das mazelas do planeta porque come carne ou anda de avião. É como comer a maçã e ser expulso do Paraíso.
(Karina Ninni. O Estado de S. Paulo, Especial, H5, 30 de abril de 2010, com adaptações)
Os especialistas citados no texto
a)
discutem a ocorrência de certos fenômenos climáticos mesmo sem dispor de dados necessários para a correta avaliação de seu impacto no planeta. |
b)
tendem a apoiar as conclusões de outros cientistas sobre a iminente catástrofe mundial, a partir da gravidade dos fenômenos climáticos mais recentes. |
c)
defendem a mesma opinião, de que as reações de momento a catástrofes se destacam pelo exagero, por excesso de informação sobre elas. |
d)
divergem em suas opiniões, pois apenas o astrônomo da Unesp reconhece a importância das informações transmitidas atualmente. |
e)
constatam, simplesmente, que a ocorrência de maior número de fenômenos climáticos confirma a crença generalizada na proximidade do fim do mundo. |
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