Em 1997, as obras da usina hidrelétrica de Salto Caxias, no Paraná, revelaram material inusitado. Encravadas na terra, havia gravuras indígenas em baixo-relevo que retratavam o movimento dos corpos celestes, provavelmente utilizadas para caça, pesca e agricultura.
A descoberta chamou a atenção de especialistas e remeteu a estudos realizados em solo brasileiro séculos antes. "Há grandes semelhanças entre o sistema astronômico utilizado hoje pelos guaranis do sul do Brasil e as medições dos tupinambás do Maranhão, descritas pelo missionário Claude d'Abbeville em 1612", diz Germano Afonso, especialista em etnoastronomia e pesquisador da Universidade Federal do Paraná. "Isso ocorre apesar das diferenças linguísticas, da distância geográfica e dos quase 400 anos que os separam no tempo."
Claude d'Abbeville, monge capuchinho francês, esteve no Brasil no século XVII em missões de evangelização junto a aldeias indígenas do Maranhão. Seu relato, considerado uma das mais importantes fontes de informação sobre a etnia tupi, trazia uma novidade para a época: a relação de aproximadamente 30 estrelas e constelações utilizadas pelos índios para atividades de plantio, pesca, caça e rituais religiosos. As semelhanças entre os conhecimentos dos índios coloniais e os das aldeias atuais motivaram novas pesquisas junto a etnias indí- genas de todo o país. "É possível que as tribos se utilizem desse conhecimento desde que deixaram de ser nômades, como forma de entender as flutuações sazonais de clima para sua subsistência”, diz Afonso.
As atividades das tribos indígenas guiam-se geralmente por dois tipos principais de constelações. Há aquelas relacionadas ao clima, à fauna, e à flora do lugar, conhecidas por toda a comunidade, e outras, relacionadas aos espíritos indígenas, mais difíceis de visualizar e conhecidas normalmente apenas pelos pajés. No firmamento, encontram mais do que orientação sobre marés e estações do ano: veem um retrato do mundo terrestre.
Na estrada esbranquiçada da Via Láctea, tribos encontram o principal ponto de referência para as medições celestes. Chamam-na Tapi'i rapé (Caminho da Anta), devido à posição das constelações que a formam. Se para medir fenômenos climáticos as referências são animais terrestres, quando se trata do sagrado a região recebe o nome de Morada dos Deuses. Ali, próxima à constelação do Cisne, está a mancha escura que simboliza Nhanderu, o deus maior guarani. Sentado em um banco, segurando o Sol e a Lua, ele aparece todos os anos para anunciar a primavera.
(Juliana Winkel. Brasil. Almanaque de cultura popular . São Paulo: Andreato
comunicação & cultura, ano 9, n. 97, maio de 2007, pp. 18-19, com adaptações)
Percebe-se no texto que:
a)
o conhecimento sobre o sistema astronômico dos guaranis e tupinambás se assemelha às informações trazidas pelos europeus durante a colonização. |
b)
os europeus que aqui estiveram pouco descobriram a respeito dos conhecimentos indígenas, principalmente sobre sua concepção do sistema celeste. |
c)
os primeiros habitantes do Brasil, que organizavam suas vidas pelos astros, detinham conhecimentos mais precisos do que os dos europeus. |
d)
as tribos indígenas brasileiras transmitiram seus segredos sobre os astros aos primeiros colonizadores que estiveram no país. |
e)
algumas tribos indígenas utilizavam conhecimentos, para aplicação na vida cotidiana, resultantes da observação dos astros. |
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