1 O Fórum Social Mundial (FSM) de Belém abre um novo ciclo
2 do movimento altermundialista. O FSM acontecerá na
3 Amazônia, no coração da questão ecológica planetária, e deverá
4 colocar a grande questão sobre as contradições entre a crise
5 ecológica e a crise social. Será marcado ainda pelo novo
6 movimento social a favor da cidadania na América Latina, pela
7 aliança dos povos indígenas, das mulheres, dos operários, dos
8 camponeses e dos sem-terra, da economia social e solidária.
9 Esse movimento cívico construiu novas relações entre o
10 social e o político que desembocaram nos novos regimes e
11 renovaram a compreensão do imperativo democrático.
12 Ele modificou a evolução do continente, mostrando a
13 importância das grandes regiões na globalização e diante da
14 crise de hegemonia dos Estados Unidos. O movimento
15 altermundialista deverá também responder à nova situação
16 mundial nascida da crise escancarada da fase neoliberal da
17 globalização capitalista.
18 O movimento altermundialista em seus diferentes
19 significados é portador de uma nova esperança nascida da
20 recusa da fatalidade. É esse o sentido da afirmação "um outro
21 mundo é possível". Não vivemos nem "o fim da História" nem "o
22 choque de civilizações".
23 A estratégia desse movimento se organiza em torno da
24 convergência dos movimentos sociais e pela cidadania que
25 enfatizam a solidariedade, as liberdades e a paz. No espaço do
26 FSM, eles comparam suas lutas, práticas, reflexões e propostas.
27 E constroem também uma nova cultura política, fundada na
28 diversidade, nas atividades autogeridas, na partilha, na
29 "horizontalidade" em vez da hierarquia.
30 Ao longo dos fóruns, uma orientação estratégica se
31 consolidou: a do acesso aos direitos fundamentais para todos.
32 Trata-se da construção de uma alternativa à lógica dominante,
33 ao ajustamento de todas as sociedades ao mercado mundial por
34 meio da regulação pelo mercado mundial de capitais.
35 À evidência imposta, que presume que a única forma
36 aceitável de organização de uma sociedade é a regulação pelo
37 mercado, podemos opor a proposta de organizar as sociedades
38 e o mundo a partir do acesso para todos aos direitos
39 fundamentais. Essa orientação comum ganha sentido com a
40 convergência dos movimentos e se traduz por uma nova cultura
41 da transformação que se lê na evolução de cada um dos
42 movimentos.
43 Os debates em curso no movimento enfatizam a questão
44 estratégica. Ela põe em relevo o problema do poder, que remete
45 ao debate sobre o Estado, e atravessa a questão dos partidos e
46 do modelo de transformação social, assim como dos caminhos
47 do desenvolvimento.
48 O movimento altermundialista não se resume aos Fóruns
49 Sociais, mas o processo dos fóruns ocupa de fato uma posição
50 especial.
51 O movimento altermundialista não deixa de expandir e de se
52 aprofundar. Com a expansão geográfica, social, temática, viu
53 sua força aumentar consideravelmente em menos de dez anos.
54 No entanto, nada está ganho, mesmo que a crise em muitos
55 aspectos confirme várias de suas análises e justifique seu
56 chamado à resistência.
57 O movimento altermundialista é histórico e prolonga e
58 renova os três movimentos históricos precedentes: o da
59 descolonização - o altermundialismo modificou em
60 profundidade as representações norte-sul em proveito de um
61 projeto mundial comum; o das lutas operárias - desse ponto de
62 vista, está comprometido com a mudança rumo a um
63 movimento social e pela cidadania mundial; e o das lutas pela
64 democracia a partir dos anos 1960-1970 - é um movimento pela
65 renovação do imperativo democrático após a implosão dos
66 Estados soviéticos em 1989 e as regressões representadas
67 pelas ideologias e doutrinas de segurança / militaristas /
68 disciplinares / paranoicas. A descolonização, as lutas sociais, o
69 imperativo democrático e as liberdades constituem a cultura de
70 referência histórica do movimento altermundialista.
71 O movimento altermundialista se vê diante da crise da
72 globalização capitalista em sua fase neoliberal. Essa crise não é
73 uma surpresa para o movimento; ela estava prevista e era
74 anunciada há muito tempo.
75 Três grandes questões determinam a evolução da situação
76 em escala mundial e marcam os diferentes níveis de
77 transformação social (mundial, por região, nacional e local): a
78 crise ecológica mundial, que se tornou patente, a crise do
79 neoliberalismo e a crise geopolítica com o fim da hegemonia
80 dos Estados Unidos.
81 A crise de hegemonia norte-americana aprofunda-se
82 rapidamente. A evolução das grandes regiões se diferencia: as
83 respostas de cada uma à crise de hegemonia norte-americana
84 são muito diferentes. A luta contra a pretensa guerra entre
85 civilizações e contra a tão real guerra sem-fim constitui uma das
86 prioridades do movimento altermundialista.
87 A fase neoliberal parece ofegante. A nova crise financeira é
88 particularmente grave. Não é a primeira crise financeira deste
89 período (outras ocorreram no México, Brasil, Argentina etc.) nem
90 é suficiente para sozinha caracterizar o esgotamento do
91 neoliberalismo.
92 A consequência das diferentes crises é mais singular. A crise
93 financeira aumenta as incertezas a respeito dos rearranjos
94 monetários. A crise imobiliária nos Estados Unidos revela o
95 papel que o superendividamento exerce, bem como suas
96 limitações como motor do crescimento. A crise energética e a
97 climática revelam os limites do ecossistema planetário. A crise
98 alimentar, de gravidade excepcional, pode pôr em xeque os
99 equilíbrios mais fundamentais.
100 O aprofundamento das desigualdades e das discriminações,
101 em cada sociedade e entre os países, atinge um nível crítico e
102 repercute na intensificação dos conflitos e das guerras e na
103 crise de valores.
104 (...)
(Gustave Massiah. Le Monde Diplomatique Brasil, janeiro de 2009)
“A estratégia desse movimento se organiza em torno da convergência dos movimentos sociais e pela cidadania que enfatizam a solidariedade, as liberdades e a paz. No espaço do FSM, eles comparam suas lutas, práticas, reflexões e propostas. E constroem também uma nova cultura política, fundada na diversidade, nas atividades autogeridas, na partilha, na ‘horizontalidade’ em vez da hierarquia.” (L.23-29)
A respeito do trecho, analise as afirmativas a seguir:
I. O que do primeiro período gera ambiguidade.
II. É desnecessário explicar a sigla FSM nesse trecho pois já foi explicada antes.
III. É possível substituir “em vez de” por “ao invés de”.
Assinale:
a)
se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas. |
b)
se apenas as afirmativas I e III estiverem corretas. |
c)
se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas. |
d)
se nenhuma afirmativa estiver correta. |
e)
se todas as afirmativas estiverem corretas. |
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