“O diretor de uma escola em dificuldades, num subúrbio de Paris, expressa em uma entrevista sua amargura pessoal: em vez de se preocupar com a transmissão de conhecimento, ele se tornou, a contragosto, uma espécie de policial de uma ‘delegacia’ [...]”.(BOURDIEU, Pierre. “Contrafogos - táticas para enfrentar a invasão neoliberal”. 1998. Editora Zahar). Em um texto que trata do papel do Estado no modelo capitalista neoliberal, o sociólogo francês Pierre Bourdieu apresenta a situação acima para ilustrar sua crítica à crescente retirada do Estado de certo número de setores da vida social que antes eram de sua responsabilidade, tais como, a habitação pública, a escola pública, os hospitais públicos, entre outros. Utilizando-se da metáfora MÃO DIREITA E MÃO ESQUERDA DO ESTADO, chama a atenção daqueles que pregam “menos Estado” e que “enterram rapidamente o público e o interesse pela coisa pública”, e para a oposição existente no interior do próprio Estado entre os ministérios das finanças, os bancos públicos ou privados, os ministérios da área econômica em geral (a “mão direita”) e o conjunto dos ministérios considerados “gastadores” e seus agentes - os chamados “trabalhadores dos setores sociais” (a “mão esquerda”). Entre as afirmativas do sociólogo apresentadas abaixo a que melhor expressa a oposição representada pela metáfora em destaque é:
a) o neoliberalismo produziu uma situação política na qual se vê um Estado emparedado pelo economicismo estreito e de curto alcance da “visão-de-mundo-do FMI”, que também faz enormes estragos nas relações norte-sul.
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b) os chamados “trabalhadores sociais”, agentes de alguns ministérios, são enviados à linha-de-frente para lidar com as questões da pobreza, da criminalidade, da violência, da precariedade das escolas e dos hospitais públicos, precisando desempenhar suas funções em um contexto das insuficiências produzidas pela lógica do mercado, sem que lhes sejam dados os meios de cumprir efetivamente sua “missão”.
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c) os ministérios da área econômica e das finanças, obcecados com o equilíbrio financeiro, parecem ignorar frequentemente as consequências sociais decorrentes de necessidades orçamentárias dos ministérios e setores públicos da área social – consideradas excessivamente dispendiosas.
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d) na França, o modelo neoliberal conflita em todos os sentidos com a crença no papel do Estado-providência quando por todo tipo de medidas e políticas vem minando ou destruindo as conquistas do walfare state até os anos de 1970.
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e) a revolta que se estende entre os “trabalhadores sociais” vai além das questões da desvalorização de seus salários, pois o desprezo por certas funções se traduz primeiro na remuneração mais baixa que lhes é atribuída.
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