1 O ataque cético à cientificidade das narrações históricas insistiu em seu caráter subjetivo, que
2 as assimilaria às narrações ficcionais. As narrações históricas
3 não falariam da realidade, mas sim de quem as construiu. Inútil objetar que um elemento
4 construtivo está
5 presente em certa medida até nas chamadas ciências
6 “duras”: mesmo estas foram objeto de uma crítica aná-
7 loga [...]. Falemos, então, de historiografia. Que ela
8 [tem] um componente subjetivo [...] é sabido; mas as
9 conclusões radicais que os céticos tiraram desse dado
10 concreto não levaram em conta uma mudança fundamental mencionada por Bloch nas suas
11 reflexões metodológicas póstumas. “Hoje [1942-3]..., até mesmo nos
12 testemunhos mais resolutamente voluntários”, escrevia
13 Bloch, “aquilo que o texto nos diz já não constitui o
14 objeto preferido de nossa atenção.” As Mémoires de
15 Saint-Simon ou as vidas dos santos da alta Idade Média
16 nos interessam (continuava Bloch) não tanto por suas
17 referências aos dados concretos, volta e meia inventados, mas pela luz que lançam sobre a
18 mentalidade de
19 quem escreveu esses textos. “Na nossa inevitável
20 subordinação ao passado, nós nos emancipamos, ao
21 menos no sentido de que, embora permanecendo condenados a conhecê-lo exclusivamente
22 com base em
23 seus rastros, conseguimos, todavia, saber bem mais a
24 seu respeito do que ele resolvera nos dar a conhecer”.
25 E concluía: “Olhando bem, trata-se de uma grande revanche da inteligência sobre o mero
26 dado concreto”.
(GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros: verdadeiro, falso,
fictício (Introdução). São Paulo: Companhia das Letras,
2007, p. 9)
É correta paráfrase do primeiro período do texto "O ataque cético à cientificidade das narrações históricas insistiu em seu caráter subjetivo, que as assimilaria às narrações ficcionais." o que se lê em:
a)
A credulidade abalada gerou ataques ao cientificismo característico da história, e, quando se insistiu em que deveria assumir o viés subjetivo, suas semelhanças com as narrativas ficcionais avultaram. |
b)
O ceticismo que nutre a ciência dá às narrativas, inclusive às de cunho histórico, um matiz subjetivo, o que foi apontado pelos críticos como um fator inerente a qualquer tipo de relato. |
c)
O que caracteriza o relato de fatos históricos é sua natureza científica; se esse traço fosse minimizado e abrisse espaço para a subjetividade "dizem certos críticos", esse tipo de relato estaria próximo das narrativas ficcionais. |
d)
A acusação dos que não acreditavam no caráter científico das narrações históricas enfatizava o seu caráter subjetivo, traço que as tornaria semelhantes às narrações ficcionais. |
e)
O que sempre se enfatizou como determinante de um texto é o seu cunho particular, fator de subjetividade que sempre irmanou os relatos, os científicos (como os históricos) e os ficcionais (inventados pelo autor), como reconhecem até os mais severos ataques. |
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