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Comentários / Ministério Público Estadual - Amapá - Técnico Ministerial - Administrativa - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2009 - Prova Objetiva


Velhos e modernos

Pode-se assistir a mais de um comercial na TV em que se explora a imagem de “velhinhas modernas”, ou seja, senhoras idosas que falam gíria de surfista, dominam a linguagem dos computadores ou denunciam com malícia juvenil a atitude conservadora de algum jovem. Tais velhinhas em geral surgem vestidas à antiga – o que ressalta ainda mais a inesperada demonstração de “modernidade” de que são capazes.

Certo, não há mesmo por que identificar a velhice com estagnação da vida, asilo e melancolia. Mas por que identificála com o seu contrário? Isso equivale a sair de um estereótipo para cair em outro: em vez de se passar a imagem de uma pessoa acomodada e incapaz, resignada numa cadeira de balanço ou num sofá, busca-se a imagem padrão do adolescente para “salvar” a velhice de seus limites naturais. Parece que a dificuldade está em aceitar as qualidades que são efetivamente próprias de uma pessoa já bastante vivida: experiência, sabedoria, maturação, generosidade, capacidade de compreensão. Tais atributos parecem estar em baixa na cotação do mercado publicitário: jovens vendem, e velhos podem vender se forem tão ou mais “modernos” do que os jovens. O resultado, como não poderia deixar de ser, é uma caricatura: a vovó fala palavrões que escandalizam a adolescente, a vovó é mais maliciosa que a neta. Em suma: o melhor de viver bastante é poder chegar à velhice exatamente como aquele que está começando a viver...

Antes de se classificar tais comerciais como tolos, melhor será pensar na razão mesma de existirem. Não foram criados a partir do nada: correspondem a uma supervalorização da juventude, que é um fenômeno do nosso tempo. Desde que se descobriu que as crianças e os adolescentes constituem uma fatia considerável do consumo, investe-se muito na conquista desse público – o que significa potenciar os valores que nele se representam. Já os aposentados não terão tão grande atrativo. Como se vê, a cultura moderna incorpora cada vez mais drasticamente as qualidades que ao mercado interessa ressaltar. A velhice passa a não ter rosto: colocaram-lhe a máscara risonha de um jovem deslumbrado.

(Horácio Valongo dos Reis, inédito)

Questão:

De acordo com o último parágrafo, deve-se entender que valores culturais e leis do mercado:

Resposta correta
a)

são indissociáveis, sobretudo no quadro da modernidade.

Resposta errada
b)

se dissociam, quando se trata de superestimar a juventude.

Resposta errada
c)

se dissociam, quando se trata de superestimar a velhice.

Resposta errada
d)

são indissociáveis, já que a cultura determina o que é valor comercial.

Resposta errada
e)

são indissociáveis, pois essa é uma relação histórica imutável.

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