Vidas secas apresenta uma voz narrativa em terceira pessoa que, no entanto, consegue matizar-se pelo uso estratégico de recursos ligados à polifonia.
Considerando a leitura do Texto II, percebe-se essa elaboração multiperspectivada e polifônica da voz narrativa no(a)
a) apresentação de explicações díspares sobre a condição de Fabiano, fazendo ecoar na narrativa tanto a voz do senso comum, que aponta para a inevitabilidade dessa condição, quanto a da reflexão crítica, que identifica suas causas na má distribuição de oportunidades.
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b) uso de perguntas retóricas, que revelam ao leitor os pensamentos raivosos e surpreendentemente críticos do protagonista Fabiano, o que distingue Vidas secas de narrativas tradicionais, em que o narrador se mantém distante da subjetividade dos personagens.
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c) desenvolvimento do discurso indireto livre, que torna possível ao leitor atento a percepção das diferenças entre a opinião do narrador, intelectualizado e colocado em posição de privilégio quanto à observação dos fatos, e do personagem, fruto da brutalidade do meio.
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d) referência à fala de outros personagens, como a do bêbado preso na cela ao lado de Fabiano, comparando-as e criando um efeito polifônico capaz de relativizar os conceitos apresentados e de dar aos leitores múltiplas interpretações dos fatos relatados.
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