1 Houve uma época em que os homens viviam bem mais
próximos do céu. E o céu, dos homens. Imagine um mundo sem
luz elétrica, esparsamente povoado, um mundo praticamente
4 sem tecnologia, fora os arados dos campos e os metais das
ferramentas e das espadas. Nesse mundo, o céu tinha um
significado muito diferente do que tem hoje. A sobrevivência das
7 pessoas dependia de sua regularidade e clemência.
Olhar para os céus e aprender seus ciclos era o único
modo de marcar a passagem do tempo. Logo ficou claro que o
10 céu tinha dois temperamentos: um, bem-comportado, repetitivo,
como o nascer e o pôr do Sol a cada dia, as quatro fases da Lua
e as quatro estações do ano; outro, imprevisível, rebelde e
13 destruidor, o senhor das tempestades e dos furacões, dos
estranhos cometas, que atravessavam lentamente os céus com
sua luz fantasmagórica, e dos eclipses totais do Sol, quando dia
16 virava noite e as estrelas e os planetas faziam-se visíveis e o Sol
tingia-se de um negro profundo.
Os céus eram mágicos, a morada dos deuses.
19 O significado da vida e da morte, a previsão do futuro, o destino
dos homens, tanto dos líderes quanto de seus súditos, estavam
escritos nos astros. Fenômenos celestes inesperados eram
22 profundamente temidos. Entre eles, os eclipses eram dos piores:
se os deuses podiam apagar o Sol por alguns minutos,
certamente poderiam fazê-lo permanentemente.
Marcelo Gleiser. O céu de Ulisses. In: Folha de S.Paulo, 6/6/2008, p. 9.
Considerando que os fragmentos de texto incluídos nas opções, na ordem em que são apresentados, são partes sucessivas de um texto adaptado de Marcelo Gleiser, assinale a opção em que, no fragmento adaptado, foram atendidos plenamente os preceitos de clareza e correção gramatical:
a)
Em maio de 2008, dois astrônomos publicaram um estudo que argumentava que a Odisséia, famoso poema de Homero, faz referência a um eclipse que ocorreu de fato no mar Egeu dia 16 de abril de 1178 a.C. A idéia não é nova, tendo sido proposta há cem anos atrás por astrônomos interessados em datar o saque de Tróia e o retorno do herói Odisseu (Ulisses, para os romanos) para a sua adorada (e extremamente paciente) Penélope, que esperou por ela por dez anos. |
b)
A novidade do novo trabalho é a confluência de outros eventos astronômicos, já anteriormente mencionados e ocorridos, que apoiam a tese de que Homero tinha o eclipse, em mente, quando escreveu as famosas linhas: "O Sol sumiu do céu e uma escuridão funesta cobriu tudo!" |
c)
Vasculhando o texto de Homero famoso, os astrônomos encontraram referências a lua nova, condição básica para um eclipse total, as estrelas usadas por Odisseu para orientar-lhe no retorno à casa e à aparição de Vênus logo após a chegada em Ítaca. |
d)
O mais fascinante da descoberta é que Homero supostamente escreveu a Odisséia no final do século 8.o a.C., mais de 400 anos após o evento, onde não existia quaisquer relatos de eclipses datando do século 8.o a.C. (se existiram, foram perdidos). O fato de Homero ter mencionado o eclipse mostra que o imenso efeito que provocava o fenômeno, cujo o terror que despertou ficou gravado na memória coletiva e passado oralmente às gerações futuras até chegar nos ouvidos do poeta. |
e)
A descoberta dos astrônomos confirma a idéia de complementaridade entre ciência e arte, visto que o poeta, em seu texto, referiu-se alegoricamente a um fenômeno celeste para tornar mágico um momento extremamente dramático da trama narrativa, e a descrição da regularidade do céu nas leis de gravitação de Newton permite que o passado celeste seja conhecido em detalhes. |
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