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Comentários / BACEN - Banco Central do Brasil - Analista - CESGRANRIO - 2009 - Prova Objetiva - Conhecimentos Gerais


A Vingança da Miséria

Texto II

No Brasil das últimas décadas,

a miséria teve diversas caras.

Houve um tempo em que, romântica, ela batia à

nossa porta. Pedia-nos um prato de comida. Algumas

vezes, suplicava por uma roupinha velha.

Conhecíamos os nossos mendigos. Cabiam nos

5  dedos de uma das mãos. Eram parte da vizinhança.

Ao alimentá-los e vesti-los, aliviávamos nossas consciências.

Dormíamos o sono dos justos.

A urbanização do Brasil deu à miséria certa

impessoalidade. Ela passou a apresentar-se como um

10  elemento da paisagem, algo para ser visto pela janelinha do carro,

ora esparramada sobre a calçada, ora

refugiada sob o viaduto.

A modernidade trouxe novas formas de contato

com a riqueza. Logo a miséria estava batendo, suja,

15  esfarrapada, no vidro de nosso carro.

Os semáforos ganharam uma inesperada função

social. Passamos a exercitar nossa infinita bondade

pingando esmolas em mãos rotas. Continuávamos de

bem com nossos travesseiros.

20  Com o tempo, a miséria conquistou os tubos de

imagem dos aparelhos de TV. Aos poucos, foi perdendo a docilidade.

A rua oferecia-nos algo além de água

encanada e luz elétrica.

Os telejornais passaram a despejar violência

25  sobre o tapete da sala,

aos pés de nossos sofás. Era

como se dispuséssemos de um eficiente sistema de

miséria encanada.

Tão simples quanto virar uma torneira ou acionar o interruptor, bastava apertar o botão

da TV. Embora violenta, a miséria ainda nos excluía.

30  Súbito, a miséria cansou de esmolar. Ela agora

não pede; exige. Ela já não suplica; toma.

A miséria não bate mais à nossa porta; invade.

Não estende a mão diante do vidro do carro; arranca

os relógios dos braços distraídos.

35  Acuada, a cidade passou de opressora a vítima

dos morros. No Brasil de hoje, a riqueza é refém da

miséria.

A constituição do perfil da miséria no Brasil está

diretamente relacionada com a crescente

40  modernização do país.

SOUZA, Josias de. “A vingança da miséria”. Folha de S. Paulo, São

Paulo, 31 out. 1994.Caderno Opinião, p.2. (Adaptado)

Questão:

"A urbanização do Brasil deu à miséria certa impessoalidade. Ela passou a apresentar-se como um elemento da paisagem, algo para ser visto pela janelinha do carro, ora esparramada sobre a calçada, ora refugiada sob o viaduto.A modernidade trouxe novas formas de contato com a riqueza. Logo a miséria estava batendo, suja, esfarrapada, no vidro de nosso carro." (L. 8-15).

Considerando a norma padrão da Língua Portuguesa no fragmento, afirma-se corretamente que:

Resposta correta
a)

a supressão da preposição em "passou a apresentar-se" (L. 9) prejudica a correção da frase.

Resposta errada
b)

a forma verbal correspondente a passou, no plural, mantendo-se o tempo e o modo, é "passam".

Resposta errada
c)

as conjunções ora.ora, no fragmento "ora esparramada sobre a calçada, ora refugiada sob o viaduto." (L. 11-12), aditam duas idéias que expressam a mesma noção de finalidade da ação.

Resposta errada
d)

o deslocamento do adjetivo "novas" (L. 13), com as devidas alterações, produz "formas novas de contato com a riqueza", com forte prejuízo do sentido original.

Resposta errada
e)

o termo destacado na frase "A urbanização do Brasil deu à miséria certa impessoalidade." (L. 8-9) exerce a função de adjunto.

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