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Comentários / Tribunal de Justiça - Piauí - Analista Judiciário - Assistência Social - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2010 - Prova Objetiva


Amaury de Souza e Bolívar Lamounier

  Nos anos 90, o Brasil estabilizou sua economia e deslanchou um importante processo de reformas estruturais, com o forte impulso dado à privatização e à reorientação da política social. Tais mudanças, não é preciso repetir, deram-se como resposta ao precedente modelo de crescimento via substituição de importações, por um lado, e à aceleração da globalização, por outro. Esse conjunto de transformações alterou profundamente as percepções e estratégias "normais" de ascensão social, cujo horizonte deixa de ser apenas individual para tornar-se coletivo. De fato, milhões de brasileiros passam a experimentar a mobilidade social em um contexto de mudança no plano das identidades coletivas; de mudanças que dizem respeito não apenas a taxas ou a padrões individuais de mobilidade, mas ao próprio sistema de estratificação social. A classe C deixa de ser "baixa" e começa a ser "média", disputando espaço com os estratos situados imediatamente acima dela – ou seja, as classes médias tradicionais.

   Na análise da ascensão da classe C, a questão central é a da sustentabilidade. Se a nova classe média resulta, em grande parte, do encurtamento de distâncias sociais em função da difusão do consumo, como irão seus integrantes gerar a renda necessária para sustentar os novos padrões? Serão sustentáveis − ou antes, sob que condições serão sustentáveis – os índices de expansão do que se tem denominado a "nova classe média"?

   Dada a extrema desigualdade no perfil brasileiro de distribuição de renda, os bons e os maus caminhos bifurcam-se logo adiante. Por um lado, por si só a megamobilidade social a que fizemos referência implica redução das desigualdades de renda. Por outro, o risco de fracasso é alto, o que significa estagnação e, no limite, dependendo de circunstâncias macroeconômicas, até regressão na tendência de melhora na distribuição de renda.

   Deixando de lado a dinâmica macroeconômica, concentramos nossa atenção em fatores ligados à motivação e à autocapacitação (denominados fatores weberianos) na formação de novos valores sociopolíticos. De fato, o crescimento econômico dos últimos anos traduziu-se em forte expansão da demanda por bens e serviços. Mas as oscilações da renda familiar geradas por empregos pouco estáveis ou atividades por conta própria sinalizam dificuldades para as faixas de renda mais baixa manterem o perfil de consumo ambicionado. Endividando-se além do que lhes permitem os recursos de que dispõem, as famílias situadas nesse patamar defrontam-se com um risco de inadimplência que passa ao largo das famílias da classe média estabelecida.

(Amaury de Souza e Bolívar Lamounier. O Estado de S. Paulo,

Aliás, J5, 7 de fevereiro de 2010, com adaptações)

Questão:

No contexto do 2.º parágrafo, a presença das aspas na expressão "nova classe média":

Resposta errada
a)

indica o uso indevido que se faz da expressão, já que está designando, realmente, um estrato social acima do que indica seu sentido.

Resposta errada
b)

acrescenta-lhe uma ideia pejorativa, tendo em vista a impropriedade do termo para designar uma classe social mais baixa do que se supõe.

Resposta correta
c)

imprime-lhe sentido particular, remetendo à afirmativa anterior de que a classe C deixou de ser considerada como baixa, e passou a ser média.

Resposta errada
d)

isola uma expressão que introduz novo conceito, em linguagem própria das ciências sociais, ainda não explicitado no contexto.

Resposta errada
e)

denota tratar-se da ideia central do parágrafo, e as aspas indicam que a expressão corresponderia a um título adequado ao texto.

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