Nos anos 90, o Brasil estabilizou sua economia e deslanchou um importante processo de reformas estruturais, com o forte impulso dado à privatização e à reorientação da política social. Tais mudanças, não é preciso repetir, deram-se como resposta ao precedente modelo de crescimento via substituição de importações, por um lado, e à aceleração da globalização, por outro. Esse conjunto de transformações alterou profundamente as percepções e estratégias "normais" de ascensão social, cujo horizonte deixa de ser apenas individual para tornar-se coletivo. De fato, milhões de brasileiros passam a experimentar a mobilidade social em um contexto de mudança no plano das identidades coletivas; de mudanças que dizem respeito não apenas a taxas ou a padrões individuais de mobilidade, mas ao próprio sistema de estratificação social. A classe C deixa de ser "baixa" e começa a ser "média", disputando espaço com os estratos situados imediatamente acima dela – ou seja, as classes médias tradicionais.
Na análise da ascensão da classe C, a questão central é a da sustentabilidade. Se a nova classe média resulta, em grande parte, do encurtamento de distâncias sociais em função da difusão do consumo, como irão seus integrantes gerar a renda necessária para sustentar os novos padrões? Serão sustentáveis − ou antes, sob que condições serão sustentáveis – os índices de expansão do que se tem denominado a "nova classe média"?
Dada a extrema desigualdade no perfil brasileiro de distribuição de renda, os bons e os maus caminhos bifurcam-se logo adiante. Por um lado, por si só a megamobilidade social a que fizemos referência implica redução das desigualdades de renda. Por outro, o risco de fracasso é alto, o que significa estagnação e, no limite, dependendo de circunstâncias macroeconômicas, até regressão na tendência de melhora na distribuição de renda.
Deixando de lado a dinâmica macroeconômica, concentramos nossa atenção em fatores ligados à motivação e à autocapacitação (denominados fatores weberianos) na formação de novos valores sociopolíticos. De fato, o crescimento econômico dos últimos anos traduziu-se em forte expansão da demanda por bens e serviços. Mas as oscilações da renda familiar geradas por empregos pouco estáveis ou atividades por conta própria sinalizam dificuldades para as faixas de renda mais baixa manterem o perfil de consumo ambicionado. Endividando-se além do que lhes permitem os recursos de que dispõem, as famílias situadas nesse patamar defrontam-se com um risco de inadimplência que passa ao largo das famílias da classe média estabelecida.
(Amaury de Souza e Bolívar Lamounier. O Estado de S. Paulo,
Aliás, J5, 7 de fevereiro de 2010, com adaptações)
A afirmativa correta, de acordo com o texto, é:
a)
A efetivação da mobilidade social no Brasil sofreu recuos em função da inadimplência de boa parcela da população, que não consegue sustentar, com empregos fixos, o nível de consumo a que chegou. |
b)
Apesar da estabilização da economia brasileira, surgiram disparidades sociais em consequência da globalização, que aumentou as desigualdades de renda entre as classes média e baixa. |
c)
Desde a década de 90 vem sendo possível constatar acentuada mobilidade social no Brasil, com expressivo número de brasileiros que atingiram um patamar superior na classificação social. |
d)
A estabilidade da classe média brasileira está garantida, como se pode verificar pela notável mobilidade social, ainda que permaneça a desigualdade de renda da população. |
e)
Com a redução das desigualdades de renda, houve efetiva elevação dos padrões de consumo no Brasil, já que mesmo a população mais pobre passou a ser incluída nas classes mais altas. |
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