A profissão de bufarinheiro está regulamentada; contudo, ninguém mais a exerce, por falta de bufarinhas*. Passaram a vender sorvetes e sucos de fruta, e são conhecidos como ambulantes.
Conheci o último bufarinheiro de verdade, e comprei dele um espelhinho que tinha no lado oposto a figura de uma bailarina nua. Que mulher! Sorria para mim como prometendo coisas, mas eu era pequeno, e não sabia que coisas fossem. Perturbava-me.
Um dia quebrei o espelho, mas a bailarina ficou intata. Só que não sorria mais para mim. Era um cromo como outro qualquer. Procurei o bufarinheiro, que não estava mais na cidade, e provavelmente teria mudado de profissão. Até hoje não sei qual era o mágico: se o bufarinheiro, se o espelho.
* bufarinhas − mercadorias de pouco valor; coisas insignificantes.
(Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis, in Prosa Seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003, p.89)
É INCORRETO afirmar que:
a)
A exclamação Que Mulher! cria uma incoerência no contexto, por referir-se a uma figura feminina que era, na verdade, um cromo como outro qualquer. |
b)
Percebe-se, na fala do contista, certa nostalgia em relação aos bufarinheiros, que vendiam sonhos, embutidos nas pequenas coisas. |
c)
Bufarinheiro é uma palavra atualmente em desuso no idioma, porém é possível entender seu sentido no decorrer do texto. |
d)
Uma possível conclusão do texto é a de que a verdadeira mágica estava no encanto da criança, quebrado com o espelho partido. |
e)
No parágrafo o autor constata mudança de hábitos na substituição das bufarinhas por sorvetes e sucos de fruta. |
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