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Comentários / TRT - 12.ª Região - Técnico Judiciário - Administrativa - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2010 - Prova Objetiva


Artigo

Gilda de Mello e Souza dizia que o Brasil é muito bom nas novelas. Para ter público, a novela precisa dispor de personagens de todas as classes sociais, explicava ela, o que exige uma trama complexa. Acrescento: a mobilidade social é decisiva nas novelas e se dá sobretudo pelo amor entre ricos e pobres. Provavelmente as novelas exibam casos de ascensão social pelo amor – genuíno ou fingido – em proporção maior que a vida real .... Mas a novela não é um retrato do Brasil, ou melhor, é sim, mas como aqueles retratos antigos do avô e da avó, fotografados em preto e branco, mas, depois, cuidadosamente retocados e coloridos. O fundo é real. A tela: ideais, sonhos, fantasias.

Novelas vivem de conflitos. Eles são movidos, quase todos, pela oposição do bem e do mal. Esse confronto dramático nos empolga. Talvez por isso a democracia não nos empolgue tanto, no seu dia a dia: porque, nela, os conflitos são a norma e não a exceção. Ela é o único regime em que divergir, sem ter de se explicar e justificar, é legítimo. Quando uma democracia funciona bem, não escolhemos em razão da honestidade e competência – que deveriam existir nos dois ou mais lados em concorrência – mas com base nos valores que preferimos, por exemplo, liberalismo ou socialismo. Mas nossa tendência, mesmo nas democracias, é converter as eleições em lutas do bem contra o mal. É demonizar o adversário, transformá- lo em inimigo. Creio que isso explica por que a democracia, uma vez instalada, empolga menos que a novela. De noite, dá mais prazer reeditar o *ágon milenar do bem e do mal, do que aceitar que os conflitos fazem parte essencial da vida e, portanto, as duas partes podem ter alguma razão. Aliás, há muitos séculos que é encenada essa situação de confronto irremediável entre dois lados que têm razão: desde os gregos antigos, tem o nome de tragédia. A democracia é uma tragédia sem final infeliz – ou, talvez, sem final.

As novelas recompensam, em geral, os bons. Mas eles são bons só na vida privada. É difícil alguém se empenhar em melhorar a cidade, a sociedade. As personagens boas são afetuosas, solidárias, mas não têm vida pública. As personagens más são menos numerosas, mas são indispensáveis. Condimentam a trama. Seu destino é mais variado, e assim deve ser, se quisermos uma boa novela. Não podem ser todas punidas, nem sair todas impunes.

* ágon – elemento de origem grega: assembleia; local onde se realizam jogos sacros e lutas; luta.

(Trecho do artigo de Renato Janine Ribeiro. O Estado de S. Paulo,

C2+música, D17, 11 de setembro de 2010, com adaptações.)

Questão:

No 1° parágrafo, o autor:

Resposta correta
a)

incorpora uma opinião alheia sobre as novelas como base para iniciar o desenvolvimento de suas próprias ideias a respeito desse tema.

Resposta errada
b)

estabelece a oposição básica que perpassa todo o assunto do texto, entre sinceridade e fingimento, que também vai nortear o debate político na democracia.

Resposta errada
c)

se vale da ficção apresentada nas novelas como imagem diluída de uma sociedade permissiva, que aceita, sem restrições, comportamentos antiéticos.

Resposta errada
d)

condena o uso, muitas vezes indevido, de um sentimento amoroso que deveria unir pessoas, como meio válido de ascensão social.

Resposta errada
e)

critica o hábito, comum em autores de novelas, de criar conflitos nem sempre válidos, para tornar a trama mais atraente.

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