Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.
BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, Í. (Org.). Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que
a)
recorre à tradição bíblica como fonte de inspiração para a humanidade. |
b)
descontrói o discurso da filosofia a fim de questionar o conceito de viver. |
c)
resgata a metodologia da história para denunciar as atitudes irracionais. |
d)
transita entre o humor e a ironia para celebrar o caos da vida cotidiana. |
e)
satiriza a matemática e a medicina para desmistificar o saber científico. |
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