Um boato corre, há dias, pela cidade que tem enchido a uns de pavor, e a outros de indignação, em cujo último número me coloco, desabafou o médico Joaquim Cândido Soares de Meirelles (1797-1868), diante do clima de pânico instaurado no Rio de Janeiro em 1831. Rumores crescentes garantiam estar em andamento, na capital do Império, uma trama conspiratória inspirada na Revolução do Haiti (1791-1825).
(Iuri Lapa, O Haiti é aqui?. Revista de História da Biblioteca Nacional, 03.03.2010)
O clima instaurado na ocasião tinha origem
a)
na propaganda abolicionista promovida pelos revolucionários haitianos e pela população do norte dos EUA, mais afeita ao trabalho livre, à pequena propriedade e à policultura, e defensora da libertação dos escravos em todo o continente americano. |
b)
na defesa da revolução realizada pelos herdeiros políticos da Revolução Francesa, que defendiam que o governo francês exportasse a radicalidade revolucionária para o outro lado do Atlântico, ameaçando a existência institucional do Império no Brasil. |
c)
na aproximação política entre os líderes republicanos da independência de alguns países da América Latina, como Bolivar (Venezuela), San Martin (Argentina) e Toussaint- -Louverture (Haiti), que queriam transformar o Brasil em uma República. |
d)
no fantasma que assombrou por décadas os senhores escravistas do Brasil, receosos de que se repetisse aqui o movimento haitiano, no qual convergiram abolição da escravidão e proclamação da independência, incluindo o massacre de brancos. |
e)
no sentimento anticomunista existente no Brasil desde o início do século XIX, quando a elite escravista assistiu assustada à tomada do poder no Haiti por revolucionários socialistas, inspirados nas ideias do socialismo utópico de Saint-Simon. |
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