A apoteótica visita do papa Francisco ao Brasil deixou, entre tantos estímulos espirituais, éticos e religiosos, a constatação de que a simplicidade e o senso comum são poderosos aliados das ideias. O papa usou gírias. Conversou de igual para igual com as pessoas. Tratou de temas teológicos complexos com uma fala mansa e amiga 5 capaz de derreter qualquer predisposição contrária aos ensinamentos do Evangelho ou resistência aos rigores de comportamento impostos a um católico como exigência para pertencer ao seio da Igreja. Principalmente,[...] Francisco focou o passado e o futuro, dois domínios esquecidos em um mundo atual atordoado pelo choque com o presente, caracterizado 10 pela urgência da informação, pela ansiedade por resultados imediatos, pela fruição instantânea de prazeres, sensações, emoções e pelo controle absoluto do próprio destino. Francisco exortou as pessoas a não se deixarem levar por “ídolos passageiros” e passarem a agir com a consciência de que vivem em comunidades com raízes 15 (passado) e asas (futuro). Lembrou a todos nós que a vida não é uma fotografia, mas um filme cujo final só pode fazer algum sentido no contexto da narrativa. Francisco não falou para engrandecer sua obra, angariar ainda mais popularidade ou recrutar mais católicos para a sua Igreja. Não falou para convencer nem para influenciar. Francisco falou para ele próprio entender melhor seu sacerdócio e para clarificar os deveres 20 terrestres do cristão. Foram dias de paz para os brasileiros católicos que o aplaudiram nas ruas, atenderam a suas missas ou o acompanharam pela televisão. Uma paz inquietamente humana que a Igreja adquiriu na sua sobrevivência a 2000 anos de acertos, erros, tentações, virtudes e pecados na obra infindável de estabelecer o nobre pacto entre o 25 sagrado e o profano, o efêmero e o permanente, a fé e o saber.
PARA ENTENDER Francisco. Veja. São Paulo: Abril, ed. 2332, ano 46, n.º 31, 31 jul. 2013. p. 9. Carta ao leitor
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