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Comentários / TRT - 19.ª Região - Analista Judiciário - Administrativa - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2014 - Prova Objetiva - Tipo 001


Memórias do Cárcere

Atenção: Para responder à(s) questão(ões) a seguir, considere o texto abaixo.

No texto abaixo, Graciliano Ramos narra seu encontro com Nise da Silveira.

Chamaram-me da porta: uma das mulheres recolhidas à sala 4 desejava falar comigo. Estranhei. Quem seria? E onde ficava a sala 4? Um sujeito conduziu-me ao fim da plataforma, subiu o corrimão e daí, com agilidade forte, galgou uma janela. Esteve alguns minutos conversando, gesticulando, pulou no chão e convidou-me a substituí-lo. Que? Trepar-me àquelas alturas, com tamancos?

Examinei a distância, receoso, descalcei-me, resolvi tentar a difícil acrobacia. A desconhecida amiga exigia de mim um sacrifício; a perna, estragada na operação, movia-se lenta e perra; se me desequilibrasse, iria esborrachar-me no pavimento inferior. Não houve desastre. Numa passada larga, atingi o vão da janela; agarrei-me aos varões de ferro, olhei o exterior, zonzo, sem perceber direito por que me achava ali. Uma voz chegou-me, fraca, mas no primeiro instante não atinei com a pessoa que falava. Enxerguei o pátio, o vestíbulo, a escada já vista no dia anterior. No patamar, abaixo de meu observatório, uma cortina de lona ocultava a Praça Vermelha. Junto, à direita, além de uma grade larga, distingui afinal uma senhora pálida e magra, de olhos fixos, arregalados. O rosto moço revelava fadiga, aos cabelos negros misturavam-se alguns fios grisalhos. Referiu-se a Maceió, apresentou-se:

- Nise da Silveira.

Noutro lugar o encontro me daria prazer. O que senti foi surpresa, lamentei ver minha conterrânea fora do mundo, longe da profissão, do hospital, dos seus queridos loucos. Sabia-a culta e boa, Rachel de Queiroz me afirmara a grandeza moral daquela pessoinha tímida, sempre a esquivar-se, a reduzir-se, como a escusar-se de tomar espaço. Nunca me havia aparecido criatura mais simpática. O marido, também médico, era meu velho conhecido Mário Magalhães. Pedi notícias dele: estava em liberdade. E calei-me, num vivo constrangimento.

De pijama, sem sapatos, seguro à verga preta, achei-me ridículo e vazio; certamente causava impressão muito infeliz. Nise, acanhada, tinha um sorriso doce, fitava-me os bugalhos enormes, e isto me agravava a perturbação, magnetizava-me. Balbuciou imprecisões, guardou silêncio, provavelmente se arrependeu de me haver convidado para deixar-me assim confuso.

(RAMOS, Graciliano, Memórias do Cárcere, vol. 1. São Paulo, Record, 1996, p. 340 e 341)

Questão:

De pijama, sem sapatos, seguro à verga preta, achei-me ridículo e vazio; certamente causava impressão muito infeliz.

Uma redação alternativa para a frase acima, em que se mantêm a correção e, em linhas gerais, o sentido original, está em:

Resposta errada
a)

Quando estive de pijama, sem sapatos e seguro à verga preta, achei-me ridículo e vazio, não obstante, certamente, causara impressão muito infeliz.

Resposta errada
b)

Estando de pijama, sem sapatos, seguro à verga preta, achei-me ridículo e vazio, se certamente causava impressão muito infeliz.

Resposta errada
c)

Causava, certamente, impressão muito infeliz: estava de pijama, sem sapatos e seguro à verga preta, por que me achasse ridículo e vazio.

Resposta correta
d)

Achei-me ridículo e vazio, uma vez que estava de pijama, sem sapatos e seguro à verga preta, de maneira que causava, certamente, impressão muito infeliz.

Resposta errada
e)

Causava, certamente, impressão muito infeliz o fato de me achar ridículo e vazio, uma vez que estava de pijama, sem sapatos e seguro à verga preta.

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