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Comentários / TRT - 19.ª Região - Analista Judiciário - Administrativa - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2014 - Prova Objetiva - Tipo 001


A Cura pelo Afeto

Atenção: Para responder à(s) questão(ões) a seguir, considere o texto abaixo.

Ainda aluna de medicina, Nise da Silveira se horrorizou ao ver o professor abrir com um bisturi o corpo de uma jia e deixar à mostra, pulsando, seu pequenino coração.

Esse fato define a mulher que iria revolucionar o tratamento da esquizofrenia e pôr em questão alguns dogmas estéticos em vigor mesmo entre artistas antiacadêmicos e críticos de arte.

A mesma sensibilidade à flor da pele que a fez deixar, horrorizada, a aula de anatomia, levou-a a se opor ao trata- mento da esquizofrenia em voga na época em que se formou: o choque elétrico, o choque insulínico, o choque de colabiosol e, pior do que tudo, a lobotomia, que consistia em secionar uma parte do cérebro do paciente. Tomou-se de revolta contra tais procedimentos, negando-se a aplicá-los nos doentes a ela confiados. Foi então que o diretor do hospital, seu amigo, disse-lhe que não poderia mantê-la no emprego, a não ser em outra atividade que não envolvesse o tratamento médico. - Mas qual?, perguntou ela. Na terapia ocupacional, respondeu-lhe o diretor.

A terapia ocupacional, naquela época, consistia em pôr os internados para lavar os banheiros, varrer os quartos e arrumar as camas. Nise aceitou a proposta e, em pouco tempo, em lugar de faxina, os pacientes trabalhavam em ateliês improvisados, pintando, desenhando, fazendo modelagem com argila e encadernando livros. Desses ateliês saíram alguns dos artistas mais criativos da arte brasileira, cujas obras passaram a constituir o hoje famosíssimo Museu de Imagens do Inconsciente do Centro Psiquiátrico Nacional, situado no Engenho de Dentro, no Rio.

É que sua visão da doença mental diferia da aceita por seus companheiros psiquiatras. Enquanto, para estes, a loucura era um processo progressivo de degenerescência cerebral, que só se poderia retardar com a intervenção direta no cérebro, ela via de outro modo, confiando que o trabalho criativo e a expressão artística contribuiriam para dar ordem e equilíbrio ao mundo subjetivo e afetivo tumultuado pela doença.

Por isso mesmo acredito que o elemento fundamental das realizações e das concepções de Nise da Silveira era o afeto, o afeto pelo outro. Foi por não suportar o sofrimento imposto aos pacientes pelos choques que ela buscou e inventou outro caminho, no qual, em vez de ser vítima da truculência médica, o doente se tornou sujeito criador, personalidade livre capaz de criar um universo mágico em que os problemas insolúveis arrefeciam.

(Adaptado de: GULLAR, Ferreira. A Cura pelo Afeto. Resmungos, São Paulo: Imprensa Oficial, 2007)

Questão:

Ainda aluna de medicina, Nise da Silveira se horrorizou ao ver o professor abrir com um bisturi o corpo de uma jia e deixar à mostra, pulsando, seu pequenino coração.

Uma redação alternativa para a frase acima, mantendo-se a correção gramatical e, em linhas gerais, o sentido original, está em:

Resposta errada
a)

Ao ver o professor, que abria com um bisturi o corpo de uma jia, a ponto de deixar à mostra seu pequenino coração, Nise da Silveira horrorizou-se ainda por ser aluna de medicina.

Resposta errada
b)

Sendo ainda aluna de medicina, Nise da Silveira horrorizou-se, de modo a ver o professor abrir, com um bisturi, pulsando, o corpo de uma jia, e deixar à mostra seu pequenino coração.

Resposta errada
c)

Ainda quando era aluna de medicina, Nise da Silveira se horrorizou, posto que visse o professor abrir, com um bisturi, o corpo de uma jia, deixando exposto seu pequenino coração.

Resposta correta
d)

Enquanto ainda era aluna de medicina, Nise da Silveira horrorizou-se quando viu o corpo de uma jia ser aberto pelo professor, com um bisturi, deixando à mostra seu pequenino coração pulsante.

Resposta errada
e)

Quando visse o professor abrir com um bisturi o corpo de uma jia, de maneira a expor seu pequenino coração pulsante, Nise da Silveira, enquanto ainda fora aluna de medicina, horrorizou-se.

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