Atenção: A(s) questão(ões) a seguir refere(m)-se ao texto abaixo.
1 Este texto trata da democracia no sentido hoje geralmente aceito do termo: um sistema no qual o acesso legítimo a posições de autoridade pública se dá mediante eleições periódicas, limpas e livres, e os 5 governos governam e se mantêm responsabilizáveis − accountable, para lembrar a rica expressão em inglês − graças a restrições constitucionais. Essa definição faz referência à democracia tal como a conhecemos na realidade histórica, não a 10 doutrinas concernentes a sociedades ideais (utopias); tampouco a regimes populistas ou "movimentistas" que se apresentem como democráticos − fato comum na América Latina; e muito menos às chamadas "democracias populares", termo pelo qual se autodesignavam os 15 regimes totalitários de partido único da URSS e do Leste europeu. Intelectualmente, a democracia procede de duas vertentes principais. Uma, originária do filósofo francês Montesquieu (1689-1755), é a ideia de democracia como 20 um arcabouço ou sistema institucional para a competição política pacífica. Refiro-me aqui à democracia representativa, às vezes também denominada, com certa redundância, democracia de instituições. Nessa perspectiva, a ênfase recai sobre os checks and 25 balances, freios e contrapesos, para usar outra expressão norte-americana. Arquitetados para moderar conflitos entre partidos, entre os três ramos do governo ou entre os estados que compõem a federação, tais freios devem ser também entendidos como parte de uma 30 concepção mais ampla das relações entre Estado e sociedade: o ideal da auto(de)limitação da política como um sistema que não se deixa absorver nem absorve os outros sistemas (econômico, cultural etc.). A segunda vertente provém de outro filósofo, o 35 genebrino Jean-Jaques Rousseau (1712-78): é o ideal da democracia direta, do contrato igualitário de todos com todos, numa espécie de assembleia permanente. O rousseauísmo, como diversos intérpretes têm assinalado, é um plebiscitarismo [...]. Como modelo de 40 organização política, trata-se de um ideal não apenas utópico, mas com forte viés autoritário. [...] Não obstante, a evolução histórica da democracia representativa nos últimos dois séculos assimilou dois valores de procedência rousseauísta: o dos grandes eleitorados 45 nacionais, fruto de sucessivas ampliações do sufrágio, e o da accountability, vale dizer, os deveres do representante em relação ao representado [...].
(Bolívar Lamounier. "Democracia: origens e presença no pensamento brasileiro".
In: Agenda brasileira: temas de uma sociedade em mudança. André Botelho, Lilia
Moritz Schwarcz (orgs.). São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 144-145)
O autor do fragmento transcrito acima,
a)
ao definir o sentido que deve ser atribuído à palavra "democracia", apoia-se em doutrinas filosóficas, e o faz de modo bastante fiel, o que justifica o ponto de vista objetivo que ele adota. |
b)
abordando uma específica forma de governo, atém-se a descrevê-la a partir do que é observável nas nações em que é contemporaneamente adotada, o que lhe permite denunciar as intenções enganosas das ideias utópicas que nelas persistem. |
c)
ao caracterizar o sistema denominado "democracia", vale-se de certas palavras de origem inglesa, o que evidencia não só a precisão dos termos citados, como a admiração que ele tem pelos países em que essa forma de governo se originou. |
d)
demonstrando que a palavra "democracia" é aplicada até para referir regimes que lhe são opostos, não só fixa a concepção de democracia que adota, como julga necessário circunscrever o campo em que, assim entendida, ela se exerce. |
e)
adotando a acepção mais corriqueira de "democracia", demonstra como os traços que definem esse sistema político embasam organizações sociais distintas, em distintos continentes. |
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