José Roberto Torero
O homem mais rico do mundo decidiu saber qual era o esporte mais nobre do mundo. Para isso mandou chamar três sábios de três partes diferentes do mundo. Um da China, porque a China é o berço da sabedoria, outro da França, porque a França é o berço da ciência, e outro dos Estados Unidos, que não são o berço de coisa nenhuma, mas ganham muitas medalhas nas Olimpíadas.
Logo que os três sábios chegaram à casa do homem mais rico do mundo, este lhes perguntou: “Senhores, quero que me digam qual o esporte mais nobre do mundo. Aquele que me convencer receberá um milhão de dólares”.
Então o chinês disse isto: “Honorável senhor, em todos os esportes há nobreza, mas em nenhum outro há mais do que no xadrez. Ele é um jogo de estratégias e inteligências, onde mais conta o cérebro do que qualquer outra coisa. O xadrez é o esporte do intelecto”. Depois, satisfeito com suas próprias palavras, sentou-se e tomou seu chá.
Então o francês falou: “Monsieur, nenhum esporte se compara à esgrima. Na esgrima treinamos pontaria e rapidez, defesa e ataque, reflexos e precisão. É um esporte onde todo o corpo é necessário, e por isso é o esporte da habilidade física”. Depois, satisfeito com suas palavras, sentou e tomou seu vinho.
Então o norte-americano rosnou: “Mister, o xadrez e a esgrima são okeis, mas o mais nobre dos esportes é o pôquer. Ele exige dissimulação e farsa, psicologia e trama. É um esporte que não se joga apenas com o corpo e o cérebro, mas também com a alma. É o esporte do controle emocional”. Depois, satisfeito, sentou e tomou seu uísque.
O homem mais rico do mundo pediu então algum tempo para pensar sobre aqueles profundos arrazoamentos, e, como pensar dá fome, pediu pizza pelo telefone.
Quando o entregador chegou com as pizzas, o homem mais rico do mundo, só por brincadeira, resolveu lhe perguntar qual era o esporte mais nobre: o xadrez, a esgrima ou o pôquer. O entregador não se fez de rogado e disse assim:
“Esses três esportes são importantes, mas o mais nobre de todos é o futebol de botão”.
Os três sábios caíram na gargalhada, mas o entregador permaneceu imperturbável.
“Vejam, o futebol de botão é uma síntese do conhecimento humano. Ele necessita de movimentos estratégicos como o xadrez, pede pontaria, reflexos e precisão como a esgrima, e precisa de autodomínio como o pôquer. O futebol de botão, senhores, é o único esporte onde são necessários intelecto, habilidade física e controle emocional. Tudo ao mesmo tempo e em igual proporção.”
Todos ficaram boquiabertos com tais ideias e aplaudiram com entusiasmo.
O entregador então fez uma partida com cada um dos presentes para celebrar a mais nobre das artes. Ele venceu de 8 x 0 o chinês, goleou o francês por 9 x 0 e deu 10 x 0 no norte-americano. Mas, estranhamente, perdeu de 1 x 0 para o anfitrião, com um gol contra.
Com isso, o homem mais rico do mundo ficou tão feliz que não deu apenas um milhão ao entregador, mas dez. E a moral dessa fábula esportiva, se é que há alguma, é que é bom ser sábio. Ainda melhor é ser esperto.
In: Folha de S. Paulo, caderno Esporte, 10 out.1998
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