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Comentários / TRT - 1.ª Região - Analista Judiciário - Judiciária - FCC - Fundação Carlos Chagas - 2013 - Prova Objetiva


Texto I

Cada um fala como quer, ou como pode, ou como acha que pode. Ainda ontem me divertiu este trechinho de crônica do escritor mineiro Humberto Werneck, de seu livro Esse inferno vai acabar:

“− Meu cabelo está pendoando – anuncia a prima, apalpando as melenas.

Tenho anos, décadas de Solange, mas confesso que ela, com o seu solangês, às vezes me pega desprevenido.

− Seu cabelo está o quê?

− Pendoando – insiste ela, e, com a paciência de quem explica algo elementar a um total ignorante, traduz:

− Bifurcando nas extremidades.

É assim a Solange, criatura para a qual ninguém morre, mas falece, e, quando sobrevém esse infausto acontecimento, tem seu corpo acondicionado num ataúde, num esquife, num féretro, para ser inumado em alguma necrópole, ou, mais recentemente, incinerado em crematório. Cabelo de gente assim não se torna vulgarmente quebradiço: pendoa.”

Isso me fez lembrar uma visita que recebemos em casa, eu ainda menino. Amigas da família, mãe e filha adolescente vieram tomar um lanche conosco. D. Glorinha, a mãe, achava meu pai um homem intelectualizado e caprichava no vocabulário. A certa altura pediu ela a mim, que estava sentado numa extremidade da mesa:

− Querido, pode alcançar-me uma côdea desse pão?

− Por falta de preparo linguístico não sabia como atender a seu pedido. Socorreu-me a filha adolescente:

− Ela quer uma casquinha do pão. Ela fala sempre assim na casa dos outros.

− A mãe ficou vermelha, isto é, ruborizou, enrubesceu, rubificou, e olhou a filha com reprovação, isto é, dardejou-a com olhos censórios.

Veja-se, para concluir, mais um trechinho do Werneck:

“Você pode achar que estou sendo implicante, metido a policiar a linguagem alheia. Brasileiro é assim mesmo, adora embonitar a conversa para impressionar os outros. Sei disso. Eu próprio já andei escrevendo sobre o que chamei de ruibarbosismo: o uso de palavreado rebarbativo como forma de, numa discussão, reduzir ao silêncio o interlocutor ignaro. Uma espécie de gás paralisante verbal.”

(Cândido Barbosa Filho, inédito)

Questão:

Esta questão refere-se ao Texto I, acima.

As normas de concordância verbal estão plenamente observadas na frase:

Resposta errada
a)

Cabem a cada um dos usuários de uma língua escolher as palavras que mais lhes parecem convenientes.

Resposta errada
b)

D. Glorinha valeu-se de um palavrório pelo qual, segundo lhe parecia certo, viessem a impressionar os ouvidos de meu pai.

Resposta errada
c)

As palavras que usamos não valem apenas pelo que significam no dicionário, mas também segundo o contexto em que se emprega.

Resposta correta
d)

Muita gente se vale da prática de utilizar termos, para intimidar o oponente, numa polêmica, que demandem uma consulta ao dicionário.

Resposta errada
e)

Não convém policiar as palavras que se pronuncia numa conversa informal, quando impera a espontaneidade da fala.

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