A carta, essa personagem central dos últimos séculos,
foi solapada pelo e-mail e sumiu sem que nos déssemos conta,
sem que pudéssemos velá-la ou guardar luto. Partiu da vida
para entrar na história e não deixou, vejam só, sequer uma car-
ta de despedida.
Claro que ainda nos chegam envelopes por baixo da
porta, mas não passam de tristes arremedos das gloriosas
folhas de papel que outrora relataram o descobrimento de
continentes, alimentaram amores impossíveis, aproximaram
amigos distantes; ringues nos quais travaram-se as mais
apaixonadas pelejas intelectuais.
Quem mais perdeu com a morte da carta não foi a
amizade, meus caros, não foi o amor nem a profundidade: o
grande órfão do declínio postal foi o carteiro, esse distinto pro-
fissional que em sua época áurea era um pouco enfermeiro,
bombeiro, cupido, trazendo em sua bolsa verde a preciosa lite-
ratura cotidiana.
Havia uma ingenuidade na figura do carteiro, algo que
pertencia essencialmente ao século XX e que não cabe no XXI:
um homem a pé ou de bicicleta que vinha entregar à mão um
bilhete escrito também à mão. Tudo isso se foi com um clique.
Para o nosso bem, é verdade, mas se foi; era bonito e deve,
portanto, ser lembrado.
(Adaptado de Antonio Prata. Folha de S.Paulo, 06/06/2012)
Leia atentamente as afirmações abaixo.
I. Com o surgimento de novos meios de comunicação, a sociedade contemporânea deixou para trás o hábito de escrever cartas à mão, o que, segundo o autor do texto, representou uma grande perda para a qualidade dos relacionamentos interpessoais.
II. Para o autor, a inocência e a importância da imagem do carteiro se extinguiram juntamente com o fim da carta escrita à mão.
III. Ao descrever as extintas cartas escritas à mão como gloriosas folhas de papel, o autor tem a intenção de enaltecê-las.
Está correto o que se afirma APENAS em:
a)
I. |
b)
I e III. |
c)
II e III. |
d)
II. |
e)
I e II. |
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