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Comentários / Secretaria de Estado da Administração - Amapá - Delegado de Polícia - FGV - Fundação Getúlio Vargas - 2010 - Prova Objetiva


O Desafio da Violência

						A VIOLÊNCIA, em diversas formas, foi variável fundamental na
				constituição da sociedade brasileira. A ocupação europeia do hoje
				território brasileiro foi feita mediante a destruição de centenas de
				culturas indígenas e da morte de milhões de ameríndios.
			5 			Por outro lado, a instituição da escravidão, implicando uma
				dominação violenta, física e simbólica, atingiu os índios e
				depois, principalmente, a mão-de-obra africana que, durante
				quase quatro séculos, foi objeto do tráfico.
						Portanto, a sociedade brasileira tradicional, a partir de um
			10 	complexo equilíbrio de hierarquia e individualismos,
				desenvolveu o uso da violência, mais ou menos legítimo, por
				parte de atores sociais bem definidos. No entanto, o panorama
				atual apresenta algumas características que alteram e agravam o
				quadro tradicional.
			15 			A urbanização acelerada, com o crescimento desenfreado
				das cidades, as fortes aspirações de consumo, em boa parte
				frustradas, dificuldades no mercado de trabalho e conflitos de
				valores são algumas variáveis que concorrem para tanto.
				Ninguém mais se sente seguro: nem empresas nem indivíduos.
			20 	Elites e classes médias têm suas casas assaltadas. O que dizer
				das camadas populares, secularmente vitimizadas? Nas favelas,
				nos conjuntos habitacionais, nas periferias, os criminosos fazem
				praticamente o que querem, seviciando, estuprando e matando.
				As pessoas são humilhadas e desrespeitadas de todos os
			25 	modos. O poder público tem se mostrado, no mínimo, incapaz
				de enfrentar essa catástrofe.
						Sem dúvida, a pobreza, a miséria e a iniquidade social
				constituem, historicamente, campo altamente propício para a
				disseminação da violência. No entanto, creio que não tem sido
			30 	dada a devida atenção para a dimensão moral, ética e do
				sistema de valores como um todo, para a compreensão desse
				fenômeno. A perda de credibilidade e de referências simbólicas
				significativas destrói expectativas de convivência social
				elementares. A família, a escola e a religião não têm sido
			35 	capazes, por sua vez, de resistir à deterioração de valores. Na
				sociedade tradicional, com sua violência constitutiva, existiam
				mecanismos de controle social que marcaram uma moralidade
				básica compartilhada. Sem dúvida, continuam existindo áreas e
				grupos sociais que preservam e se preocupam com essas
			40 	questões. Certamente a maioria das pessoas não é violenta ou
				corrupta. No entanto, o clima geral de impunidade incentiva a
				utilização de recursos e estratégias criminosas.
						Desenvolvem-se, inevitavelmente, soluções do tipo “justiça
				pelas próprias mãos”, que aumentam ainda mais a violência e a
			45 	insegurança. Policiais, bandidos, justiceiros e seguranças travam
				batalhas diárias matando e pondo em risco a segurança de toda
				a população. O fenômeno das “balas perdidas”, expressão
				desses conflitos, é difícil de ser explicado para pessoas que não
				vivem nas cidades brasileiras. O fato de qualquer pessoa em
			50 	qualquer de seus bairros estar exposta a esse tipo de perigo
				ilustra, de modo dramático, a intensidade da crise.
						Como construir e sustentar um projeto nacional nessas
				circunstâncias? A sociedade civil, por si só, é insuficientemente
				organizada para enfrentar esses desafios e criar alternativas
			55 	legítimas para o enfrentamento da violência. Só o Estado,
				reformado e renovado, incluindo o Legislativo e o Judiciário, poderá
				dispor de meios e recursos, articulado à opinião pública, para
				reverter essa ameaça de colapso. Estou falando, bem entendido, de
				regime democrático e não de ditaduras salvacionistas.
			60 			Hoje um projeto capaz de mobilizar a nação passa,
				inevitavelmente, pelo estabelecimento de uma política efetiva
				de segurança pública dentro da ordem democrática. Só assim
				poderemos implementar e consolidar nossa precária cidadania,
				condição básica para o futuro da nação brasileira.

(VELHO, Gilberto. Violência: faces e máscaras. In: www.scielo.br – com adaptações)

Questão:

Uma das teses defendidas pelo autor é a de que: 

Resposta errada
a)

a sociedade civil, embora seja desorganizada, pode barrar o avanço da violência se amparada pelos demais poderes do Estado.

Resposta correta
b)

ainda que a miséria e a pobreza possam contribuir para a propagação da violência, é a crise moral a grande responsável pelo seu agravamento.

Resposta errada
c)

um projeto nacional de combate à violência inclui a disponibilidade de verbas e a ampla liberdade de aplicação dos poderes repressivos reservados ao Estado.

Resposta errada
d)

no passado, mesmo que violenta, a sociedade era rigorosamente controlada; hoje, família, escola e religião são instituições imorais e/ou corruptas.

Resposta errada
e)

a corrupção como característica natural do brasileiro tem origem nas culturas ameríndia e africana que estão na base de nossa formação.

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